31.12.07

2007 Passos de Distância

Entra a madrugada que despede o último dia do ano
gélidamente fria como esperado, garganta pesada em olhos que rasgam ainda um sorriso ténue de um ano preenchido por tanta tanta coisa tanta
gente de quatro pontos do globo que à falta de melhor termo as apelidaria de fantásticas
únicas
momentos de vida puros com o mar pelas mãos, o céu pelos olhos, o frio pelo corpo e o quente pela alma
reaprender de velhos hábitos partilhando o espaço com silêncio
apreciando, saboreando
na permanente luta pela felicidade
desassossego que ocasionalmente
entre sorrisos e olhares ternos visível
nas últimas semanas constatei o facto de escrever cada vez menos e com menor qualidade
poderia insinuar falta de inspiração apesar das outras coisas que escrevo na minha mente

momentos que tenho para mim mesmo e por atitudes que não falo dos outros
a mim custam se também respiro
do ano a certeza de sacrificado
lutado por objectivos
mais audaz, perspicaz
falhado redondamente na entrega
esta dificuldade que sinto em mim de ser o porto de alguém e só por alguém
quão deverei sentir por alguém?
que me consumam os dias, o ser não é para mim
na incapacidade de se entender verdadeiramente alguém reside a incapacidade e a falta de veracidade no sentimento que se nutre por esse alguém
somos ninguém
aprendi mais um o que é amar
quase a anos-luz de distância sem retorno
coisas que aprendemos sem fim
são assim como as coisas pois coisas sempre existirão
consciente em demasia da minha mortalidade rasguei com a apatia que me sufocava
rendido à incapacidade de ser feliz sem me haver forçado a ser mais
terei de mais sempre ser e mais ousar
mais querer mais poder mais ver e viver de tudo mais acima
pés no chão
não tendo nunca posto ninguém de parte da minha vida sendo que a vida ou as pessoas disso se encarregam com aparente facilidade
seria suposto lutar por mim e por outro se nas piores alturas por mim não houve quem?
agradeço mas sinto
sentir será o essencial que guardo do final deste ano
reencontrar partes de mim
pessoas de mim, fantasmas de mim
novas pessoas, novos lugares, novos Mundos por explorar aventuras mais
como os restantes não sei o amanhã nem desejo saber
terão sempre em mim o espaço que desejarem e fizerem por ter
se desejo ou atitude alguma apenas a minha boa fé de uma memória sorridente
sem remorsos arrependimentos vãos
numa vida que é uma linha que só muito ocasionalmente permite desvios

Feliz 2008, façam efectivamente o favor de serem felizes fazendo e ousando ser tudo o que não fizeram e ousaram no Passado.

26.12.07

Sonho de Natal

Hoje ao despertar
olhar em molduras de antigamente que de tão quente o peito
em lençóis novos que me arrepiam de prazer momentos antes de entrar em
drift away
só me faltava a pele e o cheiro
o sabor de mil noites que vivi sem pedir mais nada ao Mundo
feliz
dia cinzento que me traz
entre as molduras tão cheias quanto vazio me sentia
hoje tão cheio de algo bom para dar que partilhei com poucos que pude
pudera dizer-lhes tanto mais sem ser inoportuno
demonstrando um Sol que raia por entre as nuvens mais escuras e eu ali
a desejar que nunca tivesse deixado quebrar mas inevitável
tanto quanto lamento que após quebrado nunca me tenham dito mais
se entre a tarde depois de saído da cama pus e revi
Notting Hill
mais rasgado sorriso no meio da perfeição tão enternecedora com a qual me identifiquei hoje tão doce meigo
nem sequer um ombro num raio de distância que dá a volta ao Mundo vezes sem conta
perdido
justifico-me com o cliché
não se pode ter tudo
e não pode, não
a realidade é assim e sonhar é ter a audácia de sacrificar sonhos em prol de outros
sonhando sempre todas as noites que até um sonho já sonhado
tenha a audácia de me sonhar
a mim

24.12.07

Incontornável Natal

De todos infimos pormenores que chamemos mudança
nenhum nos marca tanto quanto as radicais
essas que nos toldam o ser e nos transformam em pessoas novas
talvez mesmos defeitos, mesmas teimosias
mas não obstante sentirem-se renovadas
senão mesmo mudadas só pelo vislumbrar
este Natal pedi a mim mesmo e ao meu amigo Pai Natal um enorme favor
dispensar hipocrisias
mensagens de Feliz Natal, presentes despropositados ou congratulações
são coisas que peço por favor para que não sejam enviadas por quem não tem afinidade comigo
hoje, véspera de Natal vou preparar uma pequena surpresa
minúscula
para cada uma pessoa saber que no meu ínfimo mau feitio que são apenas nuvens que encobrem bela ilha quando vista do céu
guardo-os sempre comigo
ao que sei que está fora de questão ser-me oferecido algo que me deixe enternecido
vendo que já tenho o que pedi e tanto mais
relembro que o Natal é apenas um dia do ano em que temos a oportunidade de mudar o rumo para os restantes
um dia de inspiração para que durante todos os outros pensemos duas vezes antes de dizer uma estupidez
de magoar alguém
escolher um caminho errado
em suma uma oportunidade para sermos mais humanos
civilizados
coisa que muito, muito pouca gente o é hoje em dia

Feliz Natal,
gosto muito de vocês todos de quem sempre gosto não hoje
todos os dias

21.12.07

O Teatrinho de Fantoches

2007 chega ao precipício da inevitabilidade onde apenas certo
não se repetirá
enquanto todos correm para a mais próxima loja
embrulhos mil sacos de plástico papel barato de embrulho
sinto-me flutuar no espaço
distante sereno
observar com a angústia de quem sabe que isto
tem que ser bem mais que é
este ano sem árvore de natal
diz-se que o gato come as fitas rói os fios engole tudo em suma
que se mata
espírito natalício destoa de bichinhos mortos
com santos sim
gordos em fatiotas
fadas estrelas e coisinhas brilhantes de casas inteiras que piscam
esquecendo por semanas o pormenor de meio Planeta a sugar energia
compremos isso tudo melhor prenda possível para não ficar atrás
corridinha aos presentinhos onde se joga status quo
querer é poder
queria eu chegar ao fim de 2007 em paz com todas as partes
vendo que sem espírito Natalício
este ano substituido pelo espírito aventureiro
me dirijo a quem saberão quem são
caso contrário aconselho bacalhau, azeite e consulta psiquiátrica a 26
preservando o meu sorriso como se em pleno nunca nada tivesse sido feito para o roubar
nunca abusei do sarcasmo que não se dá nome de ironia
não menti a mim mesmo nem tão pouco a alguém
vinte e seis anos volvidos não me vi envolvido de forma indiferente
imensas cicatrizes ou mais e as minhas noites não são menos que as de outrém
custae todos os dias um pouco ver à distância
se distâncias cavadas, propositados espaceamentos asfixiantes
para sufocar
matar
respeito como sempre me esforcei por respeitar absurdamente
que o Mundo não é só meu
mais corações existem que não este
diz-se tanto coisas assim raramente praticadas
mil outros sonhos tão ou mais válidos que os que tenho
obrigado a quem me tocou a vida pelo tempo que teve que tocar
pelo que efectivamente considerou necessário
nada mais tenho que não gratidão por cada segundo dispendido em mim
não reclamo segundo algum dispendido
tudo vale pelo que vale em sorrisos que olho sobre o ombro
sereno
sem actos
sem teatros
à distância do que se permite
mais perto do que seria possível conceber

Feliz Natal!

20.12.07

Lá fora a noite tinha caído
menos dois graus ou dois negativos dei por mim e pelo corpo
gelados
vinha por esta rua em Londres que vai de Picadilly a só Deus sabe onde porque por ali passava o 38 que já conhecia de outras aventuras e pensei
nada como um café quente
sendo que a cada esquina um starbucks ou uma qualquer outra merda do género
pelo menos um interior quente onde me possa sentar
assim o fiz
imerso na minha companhia e na companhia das minhas mãos onde uma segurava o enorme copo de café quente e a outra um punhado de nada
dei por mim a agradecer mais à solidão que à companhia de quem não quisera
se eu tão abominával e horrendo ser
tenho apenas o que mereço e nada mais que isso
na companhia do meu sorriso que só estando só um maluco sorri
acabei o meu mocca que nem café me fez querer e vesti a roupa para o exterior
enquanto o rosto gelado na espera pelo 38 que se avizinhava demorada para o frio que ao corpo se atirava senti calor nenhum
de todas as distâncias que se criam nenhuma é maior que a indiferença
de todos os tamanhos, nenhum é menor que a pequenez
enquanto ao fundo via o enorme e vermelho 38 na distância que me separa do outrora Mundo
quase desejei ter por quem me segurar
quando olhei para o lado
ninguém
que não eu

16.12.07

A Dança de Água

Em pleno movimento acompanhando o meu olhar cansado
exausto diria
se a exaustões fosse dado que não as que a outros me tentam remeter quando sem pingo de consideração me julgo
merecedor de um pouco melhor algo mais
repara
anos vinte e seis
volta e meia dada ao Mundo e como sequer presumir que sou sequer
pouco vivido
apenas porque em anos poucos mas próximos
diz-se que nos medem a vida por tudo o que fazemos em último lugar
me deixei rodear e na minha vida entrar pessoas que
convenhamos
julguei por momentos poder dar-lhes mais horizonte do que alguma vez soube
à partida
que tão poucas cores me acrescentariam à pintura
tanta tela em branco e urge pensar que não se deve dar pincel a aprendiz
tanto quanto não se pode presumir que um Mestre pinte sempre excepcionalmente bem
anos vinte e seis
traços inúmeros uns brilhantes como arte renascentista outros convenhamos
há coisas que merecem apenas ser apagadas da memória
sou um desses riscos eu
que tão incessantemente se ocupam em colocar algo em frente que desvie a atenção
fundamental é não perder o Norte
como as estrelas que já se diria que nos contemplam e nós a elas
resta saber de ti e do teu lugar
nasceste para contemplar ou ser contemplado?

15.12.07

A Perspectiva

É tão conveniente falar por palavras alheias
como marionetas poderiam fazer, um pequeno brilho nos olhinhos de plástico
que os projectores lhes atirariam
tais objectos inanimados mais tarde esquecidos e ao lixo atirados
seria pertinente dizer a quem não sabe do que fala que mais lhe valera calar-se
tomar crédito por algo que não se tem é tão redundante como qualquer outra linha que dos meus dedos possa sair neste lugar
o que sou, quem sou?
a questão temporal faz toda a diferença, pelo que de todo não me cabe a mim descrever o que sou e quem sou se o sei
imodestamente, sei
tendo em conta o mal de sempre o ter sabido e de nunca ter deixado de levar a minha avante lembraria em concordância algo que alguém me chamou um dia
manhoso
nesse aspecto sei-o quanto
saberão os restantes
enquanto meio Mundo chora as ausências, o Passado, o que perderam e o que sonhariam ser eu arrogantemente entregue à minha única companhia observo a vida correr
como se dela fizesse parte
mas num outro lugar muito, muito distante
onde observo todas as coisas mágicas que acontecem forçadas
os amores instantâneos como o meu capuccino de ontem à tarde
ou talvez simplesmente o desespero por ser feliz e ter algo na vida a que se agarrar
quando nem à própria vida se ama
como se pode querer amar algo mais?
ironias,
numa perspectiva só minha

14.12.07

Learn to Fly

Voltei hoje
por breves momentos enquanto o trem tocava no asfalto da Portela dei por mim a pensar que de casa queria apenas rever os meus pais e os meus pets
sendo que por assim ser acabo por sentir que já mudei de casa e serei provavelmente mero visitante durante uns quantos - não muitos
dias
Londres trouxe um misto de experiências umas mais marcantes que outras assim como coisas que me ficaram na memória e no coração, coisa típica de quem empreende uma viagem sozinho mas nunca só, pois por cada passo que dei senti o apoio dos que me são queridos e de certa forma as palavras daquela miúda faziam sentido
"It'll change you"
de certa forma já mudou um pouquinho
a intensidade com que se vive algo diz tudo acerca desse algo e a intensidade com que vivi a perspectiva de uma vida diferente acabou por me mudar completamente ao ponto de não ter ponto de retorno à vida anterior
se me faço entender
hoje enquanto sentado no Hilton em conversa com Italianas, Espanholas, uma Indiana, um Russo, dois Polacos, diversos Britânicos, um Espanhol, entendi finalmente qual o lugar em que melhor estou e onde reside o segredo da felicidade humana
não julguem que vos digo..
entre todas as coisas fantásticas que vi e vivi das quais não vou escrever e das coisas maçadoras e desmotivantes que experienciei e que me fizeram pensar duas vezes restam apenas uns dias
daqui para a frente tudo pode acontecer mas sei que levei a minha avante de, pelo menos
lhes dar oportunidade de acontecer

8.12.07

Antes

Antes de dormir
antes de ir
o telefone pousado muitos escrevem
boa sorte aproveita por mim vai correr tudo lindamente
visto em mim
sorriso tímido como quando miúdo
os olhos sonhadores dizem
talvez
nos habituais silêncios que de tão habituais me custaram habitar
um nada audível
tão ténue quanto um olhar que não vi ou um sorriso que não chega a sorrir
não me cabe pedir mais mas sei quem são
amigos
os que não amigos
silêncios que não sei que nome vos dê
que palavra poderia eu entre tantas
dar-vos
acreditando que os mais silenciosos são quem mais significam
ou que portanto deveriam significar
deixo-vos o meu sorriso mais miúdo
companhia nesta semana ausente
que tão facilmente se pode tornar bem mais tempo
mas que é afinal o tempo senão o refúgio de coisas que passaram
nunca de coisas que poderão advir
daí
por onde quer que o silêncio deambule

7.12.07

A Interiorizar

Everything looks perfect from far heights

6.12.07

Quase Três

O meu relógio marca quase três
o teu?
é entre silêncios que converso em monólogo e juro que um esforço
escrever de mãos geladas
afinal estamos quase nessa altura que é supostamente de sorrisos
nada planeado que não sejam uns pormenores
com a vida no limbo entre isto e outra coisa qualquer que não sei
mas de maiores certezas que as que tinha vindo a ter
vejo-me assim
distante e de sorriso triste
novamente sem ver nem querer ver ninguém à volta que por momentos sequer possa pensar
em entrar
não entra
pudera dizer-te que para ti mas eu
egocêntrico eu
o meu relógio passa tão depressa
o teu?
vinte e seis e já podia anos atrás ter feito o que faço esta semana mas sempre adiar
nunca por mim mas pela desculpa de outrém
depois desta
acabar-se-ão as desculpas?
quererei sempre tudo ou terei um ponto fixo no tempo e espaço que me dite
importante que me dite
o que é efectivamente importante a partir daí
nunca estarei longe mesmo que não me ouças
que não me leias
que não penses sequer na minha existência
inevitavelmente terei como tenho esta alma que leva tudo comigo
a uns mais que outros como todos
deseja-me bem porque eu só te desejo
o melhor

4.12.07

A Voar

Meio Mundo talvez mais medíocre
eu ainda a esperar que me entendas por momentos apenas com um sorriso
especial
aos medíocres esses que tantos pairam que nunca te calhem se não os mereces
merecendo tão mais que eu consiga providenciar ser nesta altura e tu intríseca
nunca me conheceste dado e seguro
como poderás dizer o que optaste dizer?
não sou sempre inseguro, insensivel, insensato, incapaz de sentir, incapaz de mostrar maior interesse
não sou
opto por ser assim e assumo os riscos de cometer um imenso erro
já alguma vez te propuseste a voar mais alto do que te deixariam?
já me senti preso, tão preso
e por tão doces algumas prisões serem só torna mais triste que em dias assim
que atrofio sozinho e entregue às minhas tristezas
nem uma mão, uma merda de uma mão se estenda para me trazer compreensão
eu sei
para quê se não a mereço?
porquê se não a peço?
deleitei-me com a frase
ama-me quando menos merecer pois será então que mais precisarei
quem o faz?
honestamente nesta merda de Mundinho de gente pequenina
quem se atreve a apostar no errado, a viver no sentido oposto e correr atrás de incertezas apenas porque, convenhamos de uma vez
as certezas são tão terrivelmente enfadonhas
que me tenham dito que me amavam ou que de mim precisavam em dias bons eu aceito
mas porque será que só me recordo vivamente de ocasião em que aconteceu num dia mau?
se livres somos, é verdade
não devemos nada a ninguém, apenas a nós e à nossa liberdade
às nossas escolhas
eu vivo com as minhas
uns dias melhor, outros pior, uns dias sorrir, outros quebrar
já alguma vez quiseste voar?
eu quero e vou
não sei que vida terei mais senão esta, se eu ainda algo jovem para quê não tentar mais do que até agora tentei
sem olhar para trás, as coisas que deixei
quem serei eu então um dia senão melhor então outro
outro maior
não em busca de mais dinheiro, reputação, mais respeito, consideração
ser-se feliz não é sinónimo de nada, nem tão-pouco um ideal
é ter a coragem de colocar em risco tudo para ter um pequeno nada que é enfim
tudo


Já na madrugada seguinte, mas ainda assim os parabéns para o trigésimo aniversário de casamento dos meus pais.
Uma desculpa com sorriso sarcástico a todas as pessoas com quem não voltarei a falar tão cedo apenas com a justificação de que não tenho espaço para vos ter na minha vida. Ter uma porta ou uma janela aberta em pleno Inverno é contraproducente.

1.12.07

The Mean Reds

noite gélida
da distância do meu sofá ao resto do Mundo vai uma distância que diria
décadas
não obstante a minha notória desilusão com quase todos
apenas culmatada pelo sabor do Mar, a força das Ondas e o Cento cortante que me provoca pele de galinha durante horas a fio
sofrimento desmedido por momentos mas sinto
vivo
quem afinal sabe de mim?
serei finalmente o eremita que dizia em graça ser
distanciado de toda a felicidade alheia
de um Mundo que segue obviamente sem mim
jamais tivera ilusões que fosse de outra forma
a vida não é de todo um filme
falta-lhe banda sonora
quem mais conheces que por só que esteja ainda se dedica a sorrir para nada
apenas porque uma ideia doce lhe toca
ou uma memória sorridente
em dias destes
dias mean reds que julgue-se nada terem que ver com blue days
afastam-me para o lugar que mais gosto e onde me sinto mais eu
lá fora
horas a fio ao frio
quem alguma vez se aventurou nadar tão longe?

You musn't give your heart to a wild thing. The more you do, the stronger they get, until they're strong enough to run into the woods or fly into a tree. And then to a higher tree and then to the sky.

30.11.07

Diluído

de certa forma parece que por vezes presumir
conheço-te
e mais um mau princípio
pudera querer mencionar certas coisas que sinto
pensadas a cada dia
não mais seria que um mal-agradecido arrogante
estranhas amizades estas que tenho
de que precisam hoje?
em que posso ser útil?
num destes dias a minha vida a tentar mudar o rumo radicalmente e o único comentário
o meu cachecol
não me choca
afasta-me para distâncias das quais não regresso
como se não reparasse em todo o ínfimo pormenor como das imagens
ou as malditas letras de músicas
afinal por quem me tomam?
repara
ter muito de bom numa personalidade
dose igual de muito mau
chamemos-lhe carácter
significa não perceber o envolvente?
uma ofensa à perspicácia e inteligência
alturas houve em que só queria ser feliz
alguém deitado a ver o céu comigo e poder ali fechar os olhos com um sorriso sem querer estar em qualquer outro lugar do Mundo ou da vida
continuo a querê-lo
buscá-lo em part-time
poderá efectivamente nunca surgir
a altura correcta
viver a minha vida nos meus pés tem destas coisas que surgem
ainda que não me identifique nada com praticamente todo o Mundo e seja muito suspeito
para falar em questões pertinentes
mas jamais para mim jogar baixo
não sou refém de carências
em troca só uma vez na vida vi darem o dito por não dito e soube
foi o dia mais intenso da minha vida
entretanto tudo o resto tem sido um passeio comparado com então
mais distante, mais frio
não quero saber ao mesmo tempo querendo tanto saber
a esta postura me obriga tudo
todos
de nada valha a bondade a quem não é bem-intencionado
de nada valha amar quem não quer ser amado
pode-se sempre optar entre viver na periferia
ou mais perto do que importa
cá dentro
quem consegue fazer a viagem?

29.11.07

The Great Gig In The Sky

Prelúdio de Um Princípio de Fim

e à medida que senti finalmente pousar terra senti por instantes apenas
nostalgias diversas
tudas as coisas e todas as pessoas quanto tinha deixado sem despedida formal
aromas e a magia de sorrisos que só posso classificar como
mágicos
maldigo da maldita beleza
dos sorrisos que penso e não me saem
de igual forma despeguei tanto mais será assim
sem aviso
terminado o rush quase instantâneo lembro que desejei tanto
tantas vezes
o sorriso ao lado comigo
mãos entrelaçadas
assim não sei se sorria se me feche a expressão
entrelaço na minha a minha mão
mais só do que no lugar onde me isolei
não sei
se mais de meio Mundo compreende
conversas de circunstância as quais acabo por trocar de tão bom-grado
por algo para ler ou ver
uma memória que seja
tem para troca?
há distâncias que não se fazem
muito protectores sejamos de nós próprios
distâncias às quais deixamos outros
tanto dito
que fazer à vida da vida portanto se não momentos
todos uns à distância dos outros
encurtá-las
mais cedo ou mais tarde
encurtá-las mais cedo
ou mais tarde

28.11.07

O Silêncio e Eu

Quantas vezes já ansiaste por um ouvido compreensivo
boca perspicaz
abraço certo no momento certo
a palavra exacta, certo que ainda entre silêncios, no momento certo
nunca para mim
irrelevante
dei o passo em frente e estou tão incerto que só me resta esta
ansiedade
leve suspeita de que na eventualidade de conseguir tudo o que quis
caia na suspeita essa mais firme de perder tanto melhor
teorizo que por vezes temos de dar dois passos atrás para dar um em frente
mas quantas pessoas efectivamente o fazem?
quantas estariam dispostas a sacrificar a felicidade ainda que duradoura para arriscarem
na incerteza
que tenha de ser assim diferente se é que diferente de todo
remorsos possa eu levar comigo se o silêncio me acompanha durante tanto tempo
companhia predilecta continuará comigo
até que se quine
ela
ou eu

27.11.07

Entre Frestas

Contei-as
às seis frestas que separam o meu olhar do céu estrelado
quem tanta vida tem que nem seis frestas possui quanto mais estrelas ou sequer céu
como pessoas que ignoram que as coisas belas estão lá independentemente do que achem delas
ignorando tudo o resto mas se forem de apreciar
certamente apreciando toda a atenção que lhes possam dispensar
que as frestas fossem pequenas e não permitissem o olhar captar o céu seria uma coisa
ter janela aberta para um imenso céu e preferir contemplar uma parede
mais criticável consoante o tal e criticável termo
ponto de vista
este fado que é meu de colocar tanta distância entre mim e os outros que só deles possa esperar o mesmo
distância
como frestas pequeninas, tão pequeninas que separam tanta coisa como um mero olhar de um imenso e eterno céu
quem disse que o céu era eterno?
conheci seres tão pertinentes que me confunde onde anda a sua mente
o seu coração ou até mesmo
a essência
começando agora não se busca mais não se dispende mais não se ousa querer mais
seis frestas
o que me separa do céu
podiam ser apenas cinco..

26.11.07

A Vida por que me Tomam

Relação estranha esta que tenho
com a vida
parece que ainda há minutos eu sentado no teatro e os actores que este país de melhor tem
o meu sorriso rasgado no rosto
as horas que voam
a Carolina diz
vem o nome dela no talão
disfarça
penso tardiamente enquanto a empregada passa sem ser impossível que não tenha ouvido
irrelevante
companhia para um Domingo sem a Carol teria sido missão quase impossível
já viste o Mundo em que vivo?
é nele que subsisto e persisto estar presente para os meus amigos
quem quer que sejam eles
raras ocasiões permitio-me companhia para café
para uma peça de teatro
ser original
será tão estupidamente impensável que te veja sempre?
por quem deverei ser portanto tomado
interrogo-me de olhos pousados na madeira gasta da secretária
não sei
por quem me tomo?
queres o próximo final de semana teu?
tendo tempo
é ele tudo o que posso dispender
a forma como nós pessoas nos afastamos sem dó nem piedade mete isso mesmo
dó que mereça piedade
por vezes considero-me merecedor disso

a vida é assim de certa e determinada forma
um conjunto de repetições e ecos cíclicos
de tanta gente que diz gostar de mim sem nunca se interrogar quem sou
por quem me tomo
afinal
por quem me tomam?

(as melhoras)

25.11.07

A Loucura e a Solidão

Gritava cada vez que zangado
pela rua evitava olhar nos olhos quem o olhava de relance
sabendo que dessa mesma forma evitaria qualquer contacto humano que pudesse trazer à sua vida todas essas coisas más
como compreensão
afecto
tempo dispendido
amizade
quem sabe amor
na sua casa grande e vazia de vida nem a dele contaria para aquecer o espaço que dividia o branco das paredes
há já muito que a casa não ouvia risos
paixão
prazer
a vida estava tão vazia quanto se lhe era permitida estar e ainda assim
sobreviver
toda a gente que poderia com ele estar nunca estava
por vontade própria havia-se escudado do Mundo
fechado numa torre de marfim sem propósito aparente de onde efectivamente mantinha algum contacto nada pessoal com toda a gente que lhe era
"próxima"
morreu num dia frio e passaram dias até que alguém que lhe
"próximo" desse pelo facto de na torre de marfim mais nenhuma luz se ter acendido
a casa que vazia de risos estava ficou assim
vazia de vida e sonhos

24.11.07

Eco?

Caem as últimas gotas de água quente, bem quente sobre o meu corpo gélido
de braços erguidos encostados à parede descanso assim a amargura no meu ser
lavando-me bem talvez me disponha mais a sorrir num destes frios dias de, ainda que não tecnicamente mais que praticamente
Inverno
Testas-me ou entregas-te à ideia que te dei?
se por um lado está tudo à distância de uma mão - aparentemente - por outro sinto que te devo o teu espaço e assim o faço
calo-me sossegado
nestes dias todos em que a minha companhia são os gatos que finalmente penso
conquistei o arisco
montanhas de lenços de papel acumulam-se porque sou assim
o frio dá cabo de mim
aquecedor torna-se tão trivial quanto a roupa que visto, aparentemente
insuficiente
preferia que chovesse a estar este gélido conjunto de dias que ainda agora principiaram mas creio que por momentos
fugia
sonhei de madrugada bem tardia que embarcaria para a Austrália
quase sem ter tempo de pensar ou decidir
ia
aos dias que pedi que pudessem ser sozinho mas não só falhou algo
falhei talvez eu como falho sempre
nunca ser o que de mim esperam, nunca estar à altura
enfim, nunca deixar de conseguir por este estigma ser perseguido
eu próprio
eu mesmo
enfim
eu

22.11.07

Felicidade

A forma distinta como uma distinta nota muda a nossa mood
ainda foi há coisa de dias que semanas parecem que diria de mim mesmo
até que me conheço
sem pensar duas vezes na baboseira que dizia para mim mesmo em jeito de me fazer acreditar que sim
que verdade
gosto efectivamente disto noutros parâmetros
o meu espaço, ser, lugar
diriam de mim más línguas que não se demoram efectivamente a conhecer-me
egoísta
diria eu que sim
egoísta com um coração do tamanho do Mundo
quem disse algum dia que o Mundo só tinha coisas belas e maravilhosas a mostrar?
muito fala e escreve todo o povinho acerca da felicidade
do amor e dessas coisas todas
quem diz que felicidade é amor e vice-versa?
a sério
quem no seu perfeito juízo mental associa uma coisa à outra e
pior que isso
acredita piamente na veracidade da afirmação?
efectivamente tenho todos os exemplos para não seguir com essa convicção
eu mesmo por vezes adorável criatura
tanto de distante e frio
mas não me minto ao dizer
a felicidade está presente em muitas, muitas coisas na nossa existência
o amor em algumas
por momentos que ambos os factores se cruzam é possível a ilusão que são indissociáveis
mas não
o amor é aquele querer mais que nós
mudar quem somos
sacrificar o quer que seja
deixar um Mundo pela incerteza de outro baseados "apenas" na nossa mais forte convicção
felicidade?
felicidade é o ar que respiro
a música que ouço
um café quente num dia de praia
o pôr-do-sol e a forma como pinta o céu
é a companhia que preenche os espaços vazios e se sobrepõe aos cheios
felicidade é olharmos para trás e sorrir
enquanto fazemos o mesmo olhando para a frente

prefiro estar sozinho a sentir-me só

21.11.07

Palminhas, bichinhos

21 de Novembro
escusado dizer que o clima está péssimo
pertinentemente sempre achei que falava do clima quem não tinha mais nada de que falar, sendo portanto a meu ver, a mais obtusa forma de "não-conversação" disponível naquilo que chamaremos de
interacção social
escrevia portanto eu que esta chuva não está com nada, aliado ao facto de, caso exista no Comité Olímpico uma oferta para colocar os Espirros como modalidade eu serei fervoroso apoiante e, certamente, candidato a representar a selecção nacional com o maior orgulho
voltei hoje a praticar judo depois de anos parado
estou feliz comigo mesmo
adiante
um mundo com Biliões de pessoas e a maior raridade do Planeta reside em conseguir ter uma conversa inteligente com um indivíduo e eu aqui a pensar que éramos todos
evoluídos
quando afinal talvez não passemos de macaquinhos depilados - o Tony Ramos pertence a outra categoria - que sabem carregar em botõezinhos de telemóveis, controlos remoto e, mal e porcamente, guiar um automóvel
escrevia portanto eu mero símio ligeiramente evoluído que me calha mal a capacidade não-comunicativa da megera geral
considerei tirar o tal curso de fotografia juntamente com o de escrita criativa
afinal de contas juntando as duas talvez dê para um trabalho artístico como o dos tipos que escrevem guiões para novelas ou os que trabalham no prestigiado cinema nacional
sim, falo dos tipos com a lanterna na mão
realizadores portugueses é coisa que simples e directamente dita - ou escrita, para os mais comichosos
não existe
assim como não existe em dose regular o bom-gosto, a educação, a falta de ridículo e mera concepção conceptual de conceitos (delicioso) de coisinhas que subsistem persistir existir (gosto)
um dia destes eu menos crítico
eu mais velho, menos interessante a quem quer que seja
provavelmente eu só
só eu
independentemente do destino que eu escolher ou que para mim fôr em parte escolhido
só existe algo do qual nunca poderei fugir ou esconder-me
eu mesmo

20.11.07

Music Knows Better



David Fonseca - Hold Still

19.11.07

Impasse essapmI

Igual a todas as noites
esta
um sorriso irónico de quem julga sempre que se irá deitar mais cedo para mais cedo erguer para sim, no dia seguinte
algo diferente
teia de condicionantes que faço por romper e por vezes
vontade de ir para a rua gritar
dizer a toda a gente tudo o que mereciam ouvir mas não
as atitudes ficam com quem as pratica
enquanto um Mundo de milhares atrás de monitores se escusa viver
por vezes entre os quais eu
já por vezes deambulo entre Mundos diferentes e onde te digo que tens razão
demasiado tempo para pensar e ouviria eu dizer
uma cabeça que pensa demais bloqueia o coração de sentir
desculpo-me nisso para ser mais pequeno
remeto-me às irresponsabilidades quotidianas porque convenhamos
quais são afinal as minhas responsabilidades?
mudar o meu Mundo para me mudar a mim para mudar o meu Mundo para
mudar a mim e creio não mentir
estou a fazê-lo
paciência
como tal, paciência que se me esgota
nunca o meu forte e digo
será amanhã que saio do bloqueio
nunca acontece por mais que o deseje e vejo-me quase virado
a alma quase quebrada e o Mundo a tentar
apenas a tentar
vergar-me mas não
não a mim que tal como diria ela
as árvores morrem de pé
sempre achei que não há verdade maior e apenas num Mundo justo seria de outra forma
num Mundo justo
não este
segunda-feira e nova semana
mais uma ou a primeira
de muitas diferentes?

18.11.07

Pertinências

um corpo
momentos no tempo
sorrisos e risos, uma nota de viola, o cheiro em volta do pescoço
cabelos no rosto, pele beijada, saliva quente, mãos frias
olhares cruzados, músicas alheias aos corações cantados
pontes e vento frio
mãos atadas, ironias
sei bem o quão inesquecíveis certos momentos são se logo eu que tantos fiz por esquecer outros passados
não me propus efectivamente a mudar a minha forma de ser e com isso abro a maior dificuldade no caminho
possuo o meu quê de adorável
difícil manter-me adorável duradouramente
entender que sou despegado de tudo é entender que consigo também ser despegado por largos momentos de tempo de qualquer pessoa que esteja na minha vida
clara como água para mim
como todos os dias em que não tenho amigos com quem beber um café nem procuro tê-los
uma fase, um lugar e tempos que não me fazem bem mas dos quais preciso ou nos quais me encarcerei,
como o viciado que não larga a sua dose ainda que esta o destrua
abrir a porta da cela não significa que dela corra para fora imediatamente
que é a vida a não ser uma prisão com um imenso conjunto de celas?
quando foi efectivamente a última vez que saíste ao jardim e viste o céu?
é desta forma tão surreal de persistir existir que falo e na qual me descrevo
cada momento feliz que tive
passam em constante rodapé e outros,
bem,
outros guardados em caixas como as que tenho algures numa gaveta que nunca abro até um dia
há sempre um dia enquanto os há e é num dia que assim sou
quatro estações do ano num dia, ventos frios ou um Sol confortante
dá jeito, se por momentos quiseres encarnar noutras coisas e pessoas, escrever, criar algo que possa ser catalogado como bom mas não
não dá jeito viver assim
um péssimo relações públicas e pior relações privadas
insatisfeito por natureza
auto-crítico (notou-se?)
comodista por natureza
por vezes a desculpa de que sou feliz em grande parte do dia esqueço-me
como tantas vezes antes esqueci
viver a minha vida,
sonhos,
ideais porque sei
que ideais? que sonhos?
tão bom viver os dos outros
uma lágrima, uma testa de olhar cerrado e um ritmo atípico no coração
sou eu
quem mais senão sempre
eu
de tão indefinido acabo por me tornar incapaz de ser definido na existência alheia?
que resta portanto oferecer que não palavras?
sentimentos, conforto, humor, amor talvez?
e para os encontrar em primeiro lugar
estes parecem só surgir quando estou efectivamente perdido ou efectivamente no início
esqueço-me dos entretantos
serei forçado por mim a emulá-los quando só, abandonado pela vida?
serei eu efectivamente frio, para quem a paixão é a tesão dos momentos, o desejo da carne, a saliva nos corpos e a alma serena no corpo exausto adormecer ao lado de alguém?
poderá disso ser feita a felicidade se quando tudo o que temos à volta é deserto?
recuso-me a tomar o caminho do risco com a desculpa de estar só
injusto para um, injusto para o outro
um daqueles crimes da alma que nos estragam
só é tudo o que de melhor sei ser
renovado em cada passo
sempre igual
não encontro em mim a coragem e forças para mudar e ser quem não sou
prisioneiro de quem efectivamente sou
lutar com tudo o que posso contra mim mesmo
efectivamente frio
onde estou eu
quem sou eu
acreditas mesmo?
eu?

17.11.07

You

Um copo
secretária, relógio, retrato, candeeiro
garrafa de água meio bebida meio ficar por beber, cinzeiro que não de meu uso, canetas diversas
monitor, teclado, computador
coisas
apenas coisas
mil delas que companhia nenhuma pudera eu na pior das hipóteses escolher o retrato como companhia momentânea para remissão à memória ou
o monitor
fotos diversas, momentos captados
ainda assim coisas
viver no Passado é coisa que se desaprende
melhor dizendo
aprende-se a deixar o Passado onde e com quem pertence, recordado de passagem por minutos apenas em alturas mais quietas que para isso se chamem
melancolias
inanimadas coisas que não me preenchem por momento algum o espaço que vai da minha distância à tua e da minha solidão feliz à tua
viveremos tempo que não me proponho adivinhar quanto se tão irrelevante fôr como coisas mas
se por momentos nós apenas nós
momentos apenas nossos por curtos que tenham que ser
todos eles inesquecíveis fosse eu desistir hoje, partir
como elogiar sem estabelecer comparações?
enaltecendo o quão único alguém é, maior que comparações
maior que a vida, maior que eu
tu

16.11.07

Will That Make It Right?

Nem sei que horas sinto
pelos olhos cansados costumo dizer sem saber
relógio pousado, ignorado
vivem dentro de mim estas coisas estes lugares
estes oceanos que agridem violentamente as rochas
céus azuis ou cinzentos e sem ninguém que se vislumbre
apenas ecos de sorrisos e coisas que não fazem sons mas nem por isso deixam de fazer sentido ouvi-las ocasionalmente
inclino-me perpendicularmente à janela e o meu reflexo
apenas temporário reflexo que todos temos
diz-me que o olhar que atiro pachorrentamente ao chão não me é estranho
já todos estivemos à janela dias a fio
meses
anos
uma vida inteira
tenho uma ou duas imagens absolutamente intactas de nitidez inabalável que fazem parecer que ainda lá estou neste preciso momento
hoje onde quer que estivesse nos muitos lugares que percorri fisicamente
em todos eles estava nessas quatro paredes
as velas acesas, o ar quente, os olhares que não se largavam
sorri porque sei que não sei se voltarei a ter tudo isso
sorri porque seja como fôr
há momentos que não nos roubam jamais e que nunca a tristeza ou a melancolia suplantarão
o desagarrado olhar que duas pessoas partilharam por um momento
já mencionei antes que a vida é apenas isso?
um momento

"kiss me, kiss me, will that make things right?"

14.11.07

O Bairro do Amor

vinte mil receitas para se ser feliz escondidas em frases-cliché dos mais diversos tamanhos e feitios
sorriso sarcástico para ir ao encontro desse lugar-comum
dirias que cáustico
corrosivo
três da tarde e eu num lugar familiar comum fora de portas dentro de outras
entre o sumo de abacaxi brasileiro
gostei do especifismo
brasileiro
a já familiar tosta da qual como metade enquanto se divaga entre uma qualquer tragédia
o meu bom é muito bom e o meu mau é muito bom diz quem está e nem é por aí
acima de tudo respeito e honestidade
para os dias de Sol todos saem, para a festa todos prontos
venha ameaça de chuva ou seja hora de arrumar e fogem todos
cobardes de merda
como eu devoto apático sentimental
cáustico-corrosivo
perigo de morte, de queimaduras severas da alma e de inegável mudança na direcção do vento que sopra na vida
mais que tanto mais esqueci-me que tinha um passado porque ando tão obtusamente focado com o presente que por vezes esqueço até que tenho um futuro
o que eu quiser a uma mão de distância
não sei o que quero e até lá vou querendo o que tenho
vou sentado deixando crescer o pelinho para que me passem sobre ele a mão e eu finja que deixo usando o mesmo sorriso sarcástico com que brindo as frases feitas
uso-o também para atitudes feitas
lugar-comum
"quando os ventos não são a meu favor
sou eu quem tem de virar"

13.11.07

01 - Who are u?.mp3

A estrada que tantas vezes fiz a caminho de casa
a tal bala que vem e me leva
e não sei
porque por breves momentos se de pena de mim se do que está em risco mordi o lábio para não molhar o rosto olhos abaixo
sempre o cuidado para preservar não sei bem que vida esta,
se me parece que a tão conheces melhor que eu
sabes? melhor que eu!?
por quanto tempo mesmo e quão forte terei ainda que ser,
talvez iniciar
as tais inúmeras questões que fiz ao espelho madrugada dentro longe do leito e eu,
sempre eu, não?
entre os flashes dos dias que tantos parecem que passámos e as coisas que vivemos que tão poucas efectivamente ainda não dei rosto ao que me apraz fugir
a passo, sem correr
sem mentir
quero-te mas temo-te
temo-me, se a mim mesmo me pergunto
who are u?

8.11.07

O Limbo

Batem-se-me os olhos agudos e pertinentes na hora que passa
sempre a mesma diria alguém que não está
estando eu apenas ainda em voltas com o limbo em que me deixaste suspenso
céu e inferno
encontro-me a desmontar cada peça de mim em busca do significado de todas as incertezas que sou, desde sempre habituado ao intermédio
entre algo e algo
céu e inferno, ódio e amor, sorrisos e lágrimas, dias cinzentos e dias de Sol
acima de tudo dá-me prazer a vida se é que não me chamarias de imediato à atenção
masoquista sentimental
tanto quanto sádico por vezes, se tanto prazer me dá que ainda que por momentos consiga fazer alguém ver as coisas da minha
perspectiva?
sorri pela razão que tens como ninguém ousou ter antes e longe de mim, bem longe
ver-me complexo se simples apenas
monótono, talvez
como aquele brinquedo todo giro, último grito da moda que vai bem com tudo até fartar brincar e algo diferente surgir
surge sempre, sempre algo diferente
daí que o limbo
só entrando no Inferno resgato algo novo em mim e fazendo continuamente a viagem que separa Céu e Inferno conseguirei ser sempre alguém novo, algo mais que eu
melhor que eu
bem melhor que eu, certamente
ironicamente nunca melhor que tu presumo pois a tão pouco tempo que separa o meu cheiro do teu só me resta sorrir às incertezas que dizes que tenho e eu sorrindo
acredito em ti mais que em mim
de longe
batem-me os olhos esses sim já cansados mas pertinentes na hora que passa
sempre a mesma diria alguém que já não está
e faz-me bem voltar assim ao limbo do incerto que é acordar cada dia
pois cada dia é efectivamente um limbo
de incertezas e novas descobertas
a permitirem que sejamos sempre algo mais
alguém novo
alguém melhor

7.11.07

A rush of blood

Aperta um pouco mais o vestido e digo-te onde não te favorece
e imediatamente o levantar de uma sobrancelha e um olhar fuzilante entre a minha direcção e não sei
o cabelo assim poisado sobre os ombros bela visão
como se entre as tiras que te atravessam a pele das costas vivesse o privilégio de tas ver assim por uma noite que seja e eu assim sensaborão encostado como um miúdo de dez anos a olhar a vitrine dos brinquedos
apenas mais perdido
sei que o que melhor te fica é o olhar e qual deles independentemente de qualquer vestimenta para a qual tenhas deslizado e já te estava para dizer
que os meus dedos deslizam na tua pele sem a autonomia de parar
impliquei sempre com quem vende a pele ao Mundo sem preferirem esperar que um apenas que nesses dias semanas meses ou anos o Mundo e as olhe assim
de nada serve a pele se não pudermos ver quem nos espreita com os olhos a sonhar cada centímetro e a boca aguardando cada toque e vejam
vejam se me entendem
quanto mais ligados, mais desligados
as tiras até ao umbigo e eu mão na testa que nem suor se apenas usando o sorriso mais sacana de quem sabe que não tens por onde fugir ainda que por momentos com o olhar
vou-te fugir mas não vais
não comento aromas pois eles são feitos de olhos fechados para nos vermos ao longe e em quartos onde a luz não entra saber exactamente onde repousas o corpo exausto
não te consigo dizer porque é tão importante tudo até à tua sombra que para todo o lugar te segue se entenderes
que esta e essa pele como este e esse coração que batem debaixo do peito um dia cansados e exaustos se rendem às inevitabilidades
enquanto isso
volta para o pé da janela e desliza novamente até mim como se tivéssemos todo o tempo do Mundo e todo o Mundo fosse a distância que vai da tua pele
à minha

5.11.07

A Divina Comédia

Presumo que seja difícil estar mal-disposto em dias de Novembro que se assemelham a uma tardia Primavera a fazer pensar que as estações serão agora três primordiais
Primavera-Verão-Primavera-Inverno
sendo a Primavera estação substituta do Outono ou, se houvesse justiça o Inverno daria lugar ao Outono e todos diriam
Aquecimento Global!!!

vi por aí um dia destes a ideia de que tiro fotografias belas que captam algo de bom e mágico das coisas e das pessoas e penso
um dia vou ser beatificado
toda a mediocridade consegue ter traços de beleza se os soubermos ver e vejo que divagar não é mais que um passeio num jardim florido com árvores e estruturas muito velhas às quais chamo
mente

preversamente e com o mais cínico dos sorrisos diria que não faz mal que me usem se para isso contribuir para a felicidade alheia mas minto
não quero ser usado ou abusado
persistir ser feliz, tendo apenas como lema não cometer os mesmos erros do passado e jamais
jamais
considerar belo o medíocre que tem apenas uma ou duas ténues linhas que para isso nos desviem o olhar
jamais tamanha divina comédia

4.11.07

Superstars II




Em G C D
(Intro whistle)
Your heart is broken, and you don’t seem to mind
I guess it happened a little too many times, too many times
You try and you got tired, those long a brighten stories
You weald a fire right under the snow
D
They don’t they don’t
C D
How could they really know
They don’t

D C
They don’t know how it really feels
D C
They’re just on holidays
D C
Like dummies filling landscapes
D Em
How could they see you cry?
C D
Do you remember me?
C D
I was the one that held you through
C D G
I held a spot light when you did that crazy dance
C G
Dance with you
C G
I felt like superstars do
C G
Me and you

We're just like superstars

(Intro whistle)

I was around you
You couldn’t really tell
I held you close while
While you drove, you just drove into hell
You know!
A kind of hurt that burns
A light that loves you blind
And while your feet go
They go deeper in the sand
You wave and drown
You rave to the crown that says

But they don’t know how really feels
They’re just here on holidays
Like dummies filling landscapes
How could they see you cry?
Do you remember me?
I was the one that held you through
I held a spot light when you did that crazy dance with me
Yeah you did that crazy dance
You did that crazy dance with me

You did that crazy dance, You did that crazy dance, You did that crazy dance, You did that crazy dance, You did that crazy dance, You did that crazy dance, You did that crazy dance

Coz they don’t know how it feels
They’re just here on holidays
Like dummies filling landscapes
How could they see us cry?
Do you remember me?
I was the one that held you through
I held a spot light when you did that crazy dance to me
As I dance whith you
I felt like superstars do
Me and you
We felt like superstars
Me and you
Me and you

3.11.07

Secret Smile

Vejo por entre papéis com notas que tomei
o telefone ainda com a tua mensagem pendente, por responder ao momento em que o corpo atirado aos lençóis
eu cansado de olhos pesados e o nariz tapado, culpei-te a ti por comodismo em jeito de graça como voltaria a repetir a noite do David mil outras noites que queria
juro que quero
nunca mais acabe
de tão frio de emoção que me quedava a cada virar de esquina ou a cada telefonema extraviado encontrei-te
encontrei-te
apetece-me gritar que te encontrei
com todos os pequenos pormenores do teu falar ao sotaque de formas mil que te poderia descrever pormenorizadamente quem tu és e o porquê deste gostar
mas adio, adio
adio para o dia que ao lado, bem mais perto, não tão distante o dia, certamente nada distante eu e
a porta sempre aberta e o acordar de dentadas no peito ao pequeno-almoço ao som de bossa ou qualquer outro impressionante que desencantas só para mim
eram já teus mas de manhã são desencantados só para mim
juro-te que a cabeça à roda e eu a sorrir feito parvo deitado na cama e tu nem no quarto porque foste ver da Leonor ou da roupa
entregue aos meus pensamentos que pensava ter perdido se nunca os tinha de facto achado
quem sou eu?
quem és tu?
virado por cada momento deixei de ter pressa porque não és um entretanto mas um destino seja lá o que um destino fôr se na pior das hipóteses
lar ao que chamo desse lugar
incomoda-te se me desdobrar em mil da mesma forma que te imagino reler em voz alta
o sorriso doce rasgado e os olhos que cerram com ele e eu juro que
eu juro que
tão doce que parecia mentira se o olhar matasse diriam ao fundo
morreu feliz
indiscritível se não tivesse tantas tantas tantas palavras para descrever tudo em certos momentos chamados inspirados mas não me atrevo a descrever o que é em demasia meu
teu
nosso
dentro deste espaço é a nossa vida e por nossa digo nossa em órbita comum
não te digo mais nada hoje para o caso de amanhã me faltarem as palavras
quedo-me a descrever em linhas imensas o que um simples rasgar do teu sorriso anularia só com o simples acto de
sorrir

1.11.07

Who Are U?

A sensatez é a arma dos fortes
ler-se-ia num qualquer livro de frases inventadas se pudera eu fazer parte de um desses
vendido a euro, euro e meio entre mil outros irrelevantes amontoados de páginas colectânizadas para entre mil outros tipos com mil outras frases me fazer sentir de certa forma
especial
carece-me a relação directa entre a glória e o sentir-me especial
se especial me sinto por cada sorriso que te provoco ou cada aquecer dos dias que mesmo à distância não esmorecem a sexta-feira à noite e "Who Are U?" onde juro juro
nada me faltou se nem eu mesmo era ou havia sido alguma vez assim
sentir-me de cima a baixo como totalmente imerso em algo que desconhecera e que só por arrogância e mera ilusão ter-me dado como imerso em algo que sequer se assemelhasse em altura qualquer que fôra
quatro dias preenchem este espaço que é o Presente em ânsia contida de quatro dias mais quatro mil
porque não?
saber que nada volta a ser igual é igualmente compensador quanto assustador, pela imprevisibilidade de todos os factores a que chamamos vida
tão imerso
soltei todas as amarras, ler-se-ia num qualquer blog de frases feitas, e segui o meu caminho
diria eu que me soltei dos meus preconceitos e dos meus medos e lutando contra os mesmos de forma valente, persegui certezas que bem podiam ser incertas mas esta coisa que temos, esta vontade incessante de sermos mais e melhores
esta vontade
encontro-a em ti
só em ti

31.10.07

Our Song



Ever since I saw you
I want to hold you
Like you were the one

It sees right through me
A bullet it comes and takes me
And I love you I love you
I want you but I fear you

Who are u?
Who are u?

Ever since I saw you
I want to hold you
Like you were the one

Your feet rest on my shoes
I sing this song for you
Just to see you smile

And I love you I love you
I love you but I fear you

Who are u?
Who are u?

For how long
How strong do I still have to be?
How come you mean so much to me?

For how long
How strong do I still have to be?
How come you mean so much to me?

And I love you I love you
I want you but I fear you

Who are u?
who are you?(x4)

For how long
How strong do I still have to be?
How come you mean so much to me?

For how long
How strong do I still have to be?

26.10.07

Lovelight

Como se fora um outro dia, um outro raiar de luz que entra sem convite pela janela que me ilumina o quarto onde eu, inerte e indiferente tão pacatamente descansava o corpo
só me faltava isto agora e a luz a fazer-se sentir
abre os olhos abre os olhos
não querendo nem procurando abrir se nem deles sei, como se me pudesse mortalmente ferir a intensidade, o brilho, o queimar nos olhos e eu sensaborão ali pousado
ainda inerte
por milhares de anos que vivesse talvez nunca entendesse como estas coisas acontecem
direitas ao peito um vaivém de sonhos que parecem inundar-me a cabeça e de repente sem aviso
já é dia
largo a cama sorridente por muito que o escuro em redor dos olhos dite que descanse
não quero saber
nunca foi assim nem de início e de inícios bem sei eu que sei mas não digo nem comparo
nunca foi assim
se algo se perder depois disto ao qual não dou nome tanto quanto arriscarias "isto" não sei quanto tempo levará até que a janela se abra pois farei por a fechar de forma a que cada fresta tapada
sei que existes e não era só imaginação
jamais venha incomodar a minha inerte tendência de me deixar ficar
entre o espaço que vai de fechar aos olhos e reabri-los apenas o desejo que seja tudo o que promete poder ser
que seja

24.10.07

3:35



Nope, no words. Just sound!

23.10.07

Delírio na Barraca de Algodão Doce

três da madrugada
é interminável a minha boa-disposição madrugadora com o Manuca a discutir uma alternativa ao fantástico filme Fear and Loathing in Las Vegas (Delírio em Las Vegas) ao qual dei o fabuloso nome de "Delírio na Barraca de Algodão Doce"
não me disponho sequer por momentos a elaborar no enredo
dei por mim a faltarem-me toneladas nos ombros que de nenhuma outra forma que não com diversão e aquela luzinha ao fundo do túnel
chamemos-lhe compreensão
ainda vou começar o tal livro que me vai colocar - sozinho, sim - na dita esplanada de um qualquer café a escrever por horas a fio se a minha inspiração assim o entender e se ainda que para os transeuntes aparente que estou num Mundo à parte, todos eles contribuirão com algo de si para o que é meu
todos os pormenores
agradam-me, os pormenores de coisas simples e de eventualidades que ocorrem no nosso quotidiano e aos quais por vezes aparentamos dispensar qualquer momento de atenção
e volto a ouvir dizer
não tinha que ser, não era para ti
a cada vez mais sentido entendo na simplicidade das notas de um piano que não meu
e a sensação quase me leva às lágrimas de tão doce e insuspeita
porque a pureza vive assim, como nós apenas por ténues momentos
breves
nunca é tarde para se aprender a sentir o quer que seja
se um abraço ou um beijo
uma palavra amável
um sorriso
todos dados, oferecidos, sem ticket de retorno
sem exigências
obrigado por todos os sorrisos que cada um me deu
por cada palavra amável
momentos dispensados sem pedir momentos em troca

não sei que me deu se nunca deixou de me dar
esta capa sobre a qual me deito que me faz forte, distante
uma fera
deixando de parte o sentimentalismo e a entrega
como se de alguma forma entregar-me de todo me fosse ferir de morte
talvez ferisse, talvez morresse

"e uma vez era o Rei e o Bobo
separaram-se até mais ver mas não deixaram de se corresponder
uma vez era o belo e o monstro
também esses fizeram planos de nunca mais deixarem de se entender

conheço alguém de quem mal me consigo lembrar
abençoado quem tem quem de vez em quando o venha visitar
na tua mão pressinto um futuro feliz
tira o lápis da boca e escreve o que a solidão te diz"

(Obrigado ao Jorge Palma pelo restante @ Jorge Palma - Uma Vez)

22.10.07

Sinónimos de Coisas Tristes ou Minorismos de Alma

Então arrumo as minhas tralhas para uma surf trip
calções de banho como se de Verão se tratasse, a toalha que já me precede não será mais um volume no(s) saco(s), a panóplia de higiene que faço questão que me siga, a vontade intensa de me fazer à água e partilhar os meus momentos com quem de jeito
mesmo que quando apenas eu próprio
sexta-feira vai ser bombástica, com o pessoal a aderir em peso àquilo que só pode ser mesmo entendido como a festa do finalíssimo do Verão
dá-me tanto gozo esta fase da minha vida que quase me ouço infantilmente a gritar
palminhas, palminhas!!
e não fora o ar incrédulo e a incrédula mania que gente parva tem que não o é e faria mesmo os saltos e os gritos e as palminhas e catalogado inequivocamente de doido varrido
maluco à beira de um esgotamento
mas não, está errado, reparem
o esgotamento efectivamente se já o tive e praticamente ninguém notou, não fora as horas e dias e semanas a fio sem querer ver ninguém e a pensar que raio de merda tinha feito à vida e, se tenho pensado um pouco mais, veria que nada do que efectivamente fiz parece ter valido a pena para ninguém
de regresso ao que sou apetece ter três palavras que não me saem porque, convenhamos, a vulgaridade é o atalho dos pequenos
dez t-shirts, quatro sweats e ainda queria comprar aquela amarela na surfshop se lá estiver e porque não estará?
a companhia de gente boa e bem-disposta a quem darei abrigo mais aos que já têm abrigo próprio garantem que este será o melhor fim-de-semana do ano sem que se tenha planeado o quer que seja que não a presença
efectivamente não estou a ser leal pois menti, ao passo que terça-feira bem cedo terei ido embora e volto sexta a Lisboa para levar o pessoal que não tiver como ir
"pelo tamanho das ondas conto não voltar"

Nota pessoal: Em relação ao que escreveste só te posso dizer "segue o que sentes", seja lá o que aches que é e independentemente das dificuldades e/ou medos que te possam impedir. Português mais simples que este não tenho..! ;)

21.10.07

Instantes

faz mais que dias ou semanas
meses
resolvi atirar-me para o fundo de um poço onde distante de toda a maléfica que percorre a face da Terra poderia ignorar todos os sons, todos os olhares, todas as memórias e dar por mim morto não enterrado
apenas morto
sempre dei por mim a pensar no termo "morte instantânea" como se por oposição existisse também um "nascimento instantâneo" como termo comparativo para uma morte súbita ou prolongada
pois bem não acredito que existam coisas instantâneas se tudo é um processo
o processo, esse
há-de em si possuir algo de instantâneo, se para isso estivermos a estabelecer um paralelo entre o estar vivo e o estar morto mas não creio que alguém esteja a morrer efectivamente durante horas
senão pelo mesmo prisma, mortos estamos todos nós e no processo "não instantâneo" de morrer

dizia eu que do fundo do poço
aquele lugar escuro onde me retirei de férias ou parte de mim
não se ouve nada que não sejam ecos
e já não há nada sagrado, pensava para comigo à medida que efectivamente via pela enésima vez o filme onde o Vince Vaughn e a Jennifer Aniston deambulam pelo que é, por tipologia, o comportamento humano masculino vs. feminino numa relação
pensava eu que era suposto serem sagradas certas tipologias, imagens, preconceitos e olhei para mim a deixar os pontos caírem no seu lugar
sou apenas humano

deixei por momentos no fundo do vil buraco de crer em bondade e em coisas puras
enquanto me deleito com a ideia de acordar mais cedo e disfrutar do meu quality time sentado ao pequeno-almoço
assim que chegado a casa vou imediatamente fazer as malas para me ir embora
guardei tudo o que tinha a guardar como se mantém um quarto intocado aguardando o regresso
no fundo o quarto empoeirado precisa de uma limpeza e eu, já gasto de aqui estar há uma semana
preciso da minha que só outras paragens me podem dar

a cada acordar o espelho dá-me tantos motivos para sorrir quanto teria para em lágrimas o desfazer com o punho e só o dia de amanhã me impede de o fazer
já basta da continuidade que dou ao sofrimento das coisas pequenas se por vezes faço outras tão belas e grandes
mas no fundo é quem eu sou
eternamente apreciador de coisas não instantâneas
mas sim das pequenas coisas que dão tom à vida

20.10.07

Comigo

em breve de regresso à momentânea rotina que perdi faz anos
ao mesmo pedestal, imaculado que me aguarda
desta vez ouso resistir e evitar tornar-me aquele mesmo que já fui
sei que de certa forma, sinto eu, algo difere em mim que não me permitirá que o faça de igual forma
gostava de acreditar que sou uma pessoa melhor que apenas o tempo e as outras pessoas vão estragando
num destes dias a reparar em pormenores e é tão fácil reparar neles quando são notórias diferenças, ainda que pequenas, no sentido de provocar alguma, qualquer que seja
reacção
reagir seria para mim tão doce e tão ansiado como realizar um sonho, vencer um obstáculo ou simplesmente ser feliz
ansiado, mas impossível
não estou por momentos a dar a entender que tenho a impossibilidade de ser feliz
saboreio-a tantas vezes e já dela escrevi tantas outras que seria altamente contraditório da minha pessoa escrever tal coisa

julguei que desta feita seria diferente
ainda anseio pelo dia em que quem me diz o quanto me gosta lute valentemente por mim até ao final
até lá vou riscando todas as palavras, rasgando todas as memórias, diluíndo tantas coisas que fiz sem pedir dividendos e que hoje me parecem tão injustas e despropositadas que só me podem fazer sentir mal

o dia que é hoje
que dia é hoje?
um qualquer sábado comigo entregue aos meus pensamentos e passageiras agonias, digestões densas de tanta coisa que teria a dizer a tanta gente que só quero fazê-las desaparecer da minha vida e consequentemente da minha memória
não vos creio nem nas vossas palavras
nem são melhores que os banais, sendo efectivamente dignos do termo
banais
não queres falar? não fales
não queres dizer? não digas
não queres ver? fecha os olhos
e esquece, apenas esquece que algum dia passei pelo Mundo, que algum dia se partilhou o que seja, que se viveu o que fosse, que se foda

não acredito que chamo amigos a quem chamo se tantos que não os tenho
e tão poucos que há tão pouco tempo tão amigos são
o telefone a tocar para irmos sair, para me perguntar como estou
saudades minhas ao fim de horas
que tal uma surfada?
é que o tempo está tão bom na praia
dormiste bem? que sonhaste? comigo?
espero que sim
e eu entregue aos remoínhos de porcaria batida, de história antiga, passado nada merecedor do presente que venho a erguer e vejo-me assim
sem merecer passar mais que um dia triste por algo ou alguém
mas efectivamente destinado a ter que esquecer que algum dia tentei ser mais ou melhor
tento, mas apenas e só por mim
comigo

18.10.07

Sempre, Para Sempre

Um daqueles dias meio a esquecer
como se pudera eu esquecer-me de dias assim onde toda a vulgaridade me parece assolar por horas a fio e, incomodativa como tende a ser, afectar inevitavel e lamentavelmente o meu humor
tenho motivos de bom humor, admito
uma ou duas pessoas que me preenchem as horas, umas mortas outras vivas, que ao abrigo de cada madrugada se renovam na minha companhia renovando-me a mim e à minha vontade de sorrir e prosseguir
pudera eu escrever para todos lerem cada atitude de cada pessoa que considero vulgar e teriam um imenso texto de atitudes lamentáveis vindas de pessoas que tanta coisa disseram que, mesmo quando o diziam, só podiam ter pedestais feitos de ar
em cada nota de blues que preenche o espaço em volta, condendo cada ausência que tanto prometeu ficar, tanto daria sem falhar
os amigos são isso, disse eu vezes sem conta
provam se são amizades para a vida ou circunstanciais em momentos menos bons
como os carácteres, que há quem tenha e muita gente que não o tem de todo
esmagadora maioria
a esses, também o carácter é estar como uma rocha imensa e inerte às mais violentas ondas do Oceano, sem nunca nos largar a mão, sem nos deixar ir


valha a vida provar-nos tantas vezes certos, tantas vezes tão certeiros que, fosse a vida efectivamente um jogo, o saldo seria tremendamente positivo - ao jogo, talvez não tanto às opções
e a cada minuto de ausências, de atitudes menos boas, de coisas feitas ou por fazer há uma linha inevitável que se desenha e que afectará também ela de forma inevitável todas as atitudes do futuro, inviabilizando dessa forma qualquer passado
vem por momentos sentar-te a meu lado e conta-me o que te perturba
sabes que nunca deixarei de te ouvir
porque serei sempre como a mais imensa e inerte rocha a desafiar as mais violentas e imensas vagas do Oceano
para sempre

17.10.07

Preto

Enquanto escrevo isto o preto ainda está deitado lá fora encostado ao muro
não bem o preto, mas sim o que eu conhecia ser
pelo escuro, andar desfilante e olhar desafiador a todos os carros que paravam para que ele, sem interromper a sua mais que pausada marcha
atravessasse a estrada
o preto era um gato histórico aqui da rua
divertia-me imenso a sua ligeireza e calmaria
a forma como nunca o vi correr nem fugir de nada
os anos e anos que o preto tinha nem ninguém tinha bem a certeza
o pêlo preto brilhante já cheio de pelinhos brancos denunciava um gato já idoso
e as cicatrizes de lutas constantes por noites a fio a defender o que era dele e só dele há anos contra outros da sua espécie
esta noite o preto jaz ali encostado ao muro naquele que foi o último dia da sua vida
e ainda anteontem o encontrei ali à porta e lhe fiz umas festas que o deliciaram
vê-lo agora assim, entregue por completo à falta de pressa que toma qualquer vida quando esta termina, dou por mim triste ao pensar que nunca mais me divertirei com a calmaria do bichano e das longas sonecas que ele fazia imperturbável no meu quintal
hoje o preto passeia calmamente por um outro lado
sem fugir, calmamente!

Me 07

Me, you see?
26 and still me, still here, some blue moons, mostly free
beautiful women around, my own sky, I walk the ground
feeling used and abused, not missed or bruised, I'm here to be found
old adventures that sucked too much life
picked up the phone and not even a line
days go by and where nights come to die
I think of you all, your way is a lie
so to all you who shared my space and time
I drop you this final line
I'm better off without you, ever and better, I'm fine

16.10.07

Two "Quick" Notes





Over and over, repeatedly!

15.10.07

Estes Fins-de-Semana..


Olha que chatice, voltou a segunda-feira
um fim-de-semana produtivo se contarmos com a tendência de ter contrariado a minha vontade de não surfar a um sábado e efectivamente ter-me feito à água procurando entre a multidão o melhor spot possível para uma boa onda
consegui
desta vez, aquela que seria votada "a melhor onda do mês"
sem conseguir entrar em comparações - impossíveis - acerca de sensações ou das dimensões intimidantes da dita senhora onda, basta dizer que a sensação foi a de voar através dela com toda a agressividade que uma imensa força daquelas pode trazer
os estrangeiros na praia tiraram fotos que estive quase tentado a pedir para me enviarem por e-mail e alguns aplaudiram a audácia do "puto"
já tenho uma alcunha de surfer, mas não a partilho
seria imensamente imodesto da minha parte usar orgulhosamente uma alcunha tal que creio estar ainda longe de conseguir fazer brilhar
entre o pessoal no outside uns putos que apanharam a minha onda de início mas não tiveram coragem ou feeling para se fazerem a ela
gestos de "altamente" e "yuhuuuu's" à mistura foram a minha banda sonora por entre o trovejar da dita senhora
já quase chegado ao areal - afinal de contas uma senhora onda é para ser levada até ao fim da coisa - o meu sorriso rasgado e uma sensação de absoluta felicidade
tinha conquistado a maior onda do dia, onde imensos surfistas tinham caído sem dó nem piedade
mais, fi-lo com a garra que me restava e uma extrema confiança de quem, ao que parece, não estava com medo de morrer! eheh
voltei ao outside, o que estava a ser uma dura batalha para todos com uma rebentação tão forte para aguardar outra enorme e tentar repetir o brilharete
lá veio
remei, remei com toda a força que me restava e efectivamente o lançamento foi perfeito
feito o stand-up a prancha cedeu um pouco
tinha o pé da frente demasiado à direita
tentei corrigir
bem dito, tentei
na tentativa, a prancha levou um pequeno safanão e o pé que devia ter aterrado no centro acabou por aterrar sim na água que me passava por baixo dos pés a uma intensa velocidade
se há arte em cair e pontos houvesse pela melhor queda da minha vida, esta ganharia nota quase máxima só comparável à vez em que a descer um morro a correr, o pé tropeçou num ramo e eu voei literalmente uns metros para aterrar de mãos no chão
desta vez aterrei de boca e uma chapa brutal na zona abdominal
vim ao de cimo em parte frustrado por ter falhado mais uma onda excelente, em parte a rir-me sozinho do impacto que sofri

o que eu chamaria um boneco de pano numa máquina de lavar

o Johnny Feathers lá apareceu - Hey Johnny!! Eu sei que estás a ler!! :P
vou apenas dizer que foi um momento heróico Johnny
a fazer lembrar o Vietname, o camarada tombado que é levado quase em braços pelo outro camarada que não o deixa para trás
mas da próxima vez és isco para os peixinhos
valha a sorte do JF ser um óptimo conversador e um tipo seis estrelas, pelo que não seria conveniente tê-lo como isco de peixe
afinal de contas quem explicaria à família - prima incluída - que o pobre diabo teria sido deixado à sua sorte (ou azar?! e que azar!) no outside assim sem dó nem perdão?
apesar do infortúnio, não deixou de ser um dia altamente e mais uma estadia no BLL em grande, pelo que será de prever o meu regresso para muito, muito mas mesmo muito breve

13.10.07

Marés

Hora de almoço
bem, hora de almoço para a larga maioria de veraneantes de fim-de-semana entre os quais os meus mal-amados "surfistas de fim-de-semana"
hoje dezasseis alunos na surfschool - um abuso!
e as ondas tão tímidas
ontem um dia em cheio
quatro horas e meia de surf, dezenas de ondas seguidas, alguns tralhos dignos de um vídeo de comédia e eu contente. Gasto, mas contente - feliz, à falta de melhor termo.
Não saí.
Aparentemente continua a existir uma certa dificuldade entre as minhas vontades, as pessoas que conheço e as condicionantes práticas da falta de dignidade e respeito que algumas, muito poucas pessoas demonstram por mim. Será natural excluí-las agressivamente da minha área de interesse sem hipóteses de retorno.
Ainda a matutar nas palavras do Cintra e nas semelhanças com o passado
se é dito que as histórias se repetem apenas com alguns toques de malvadez, cada vez mais estou certo que sim, que é efectivamente verdade
e se porventura estou tão mais aberto, sereno e social, por outro estou menos dado, tão menos dado que nem faço intenções de dar o que seja que não dois dedos de conversa
nem um café, sendo noventa porcento dos cafés aquilo que se entende por uma entrevista pré-coito
(ahahah)

Ainda a ver o ondular no nose, olhos fixos na Berlenga que parece tão mais próxima aqui ao fundo em casa do que lá em baixo na água - mera ilusão de óptica, mas fascinante
ao lado o Sol que já se punha a apontar às costas da dita ilhota e mais uma vez serenoo, absolutamente
como se mais nada importasse nem ninguém mais existisse
aguardando o próximo set, não espero por mais nada
cansei de esperar, por vezes de desesperar mas a maré encheu e voltou a descer
levou tudo
menos a mim e a tudo o que eu, efectivamente e renovadamente
sou

12.10.07

The Following Chapter

Dez da manhã
podia começar por ontem
manhã cedo o acordar, marchar até à praia apenas com umas bolachinhas no estômago para aguentar a manhã puxada
a água fria
um bodyboarder cortou a prancha e fomos dropinados
sorte minha, ileso
azar dele, levou com a minha prancha na cabeça
há males maiores - ele estava a pedi-las!
o fim de tarde deu fotos fantásticas, nenhuma delas postada aqui hoje e ondas semi-fantásticas
a prancha nova em fibra, brilhante e espampanante como a minha atitude positiva deu finalmente cartas e não tem comparação com as anteriores
veloz, agressiva, manobrável, com alma própria
um pouco como eu

Falei com o Luís ontem
ironia como se caem em situações tão similares no que diz respeito à hipocrisia e pequenez dos outros
com todos os defeitos, é bom saber que tenho bons amigos
e boas oportunidades de amigos, como quem diz que todas as pessoas que têm surgido parecem ter algo de bom nelas para dar

Passam já das onze
podia divagar acerca das minhas manhãs, tardes e noites por mais umas linhas mas
há coisas que não merecem a pena ser ditas e se guardam à parte

vou para o verde