três da madrugada
é interminável a minha boa-disposição madrugadora com o Manuca a discutir uma alternativa ao fantástico filme Fear and Loathing in Las Vegas (Delírio em Las Vegas) ao qual dei o fabuloso nome de "Delírio na Barraca de Algodão Doce"
não me disponho sequer por momentos a elaborar no enredo
dei por mim a faltarem-me toneladas nos ombros que de nenhuma outra forma que não com diversão e aquela luzinha ao fundo do túnel
chamemos-lhe compreensão
ainda vou começar o tal livro que me vai colocar - sozinho, sim - na dita esplanada de um qualquer café a escrever por horas a fio se a minha inspiração assim o entender e se ainda que para os transeuntes aparente que estou num Mundo à parte, todos eles contribuirão com algo de si para o que é meu
todos os pormenores
agradam-me, os pormenores de coisas simples e de eventualidades que ocorrem no nosso quotidiano e aos quais por vezes aparentamos dispensar qualquer momento de atenção
e volto a ouvir dizer
não tinha que ser, não era para ti
a cada vez mais sentido entendo na simplicidade das notas de um piano que não meu
e a sensação quase me leva às lágrimas de tão doce e insuspeita
porque a pureza vive assim, como nós apenas por ténues momentos
breves
nunca é tarde para se aprender a sentir o quer que seja
se um abraço ou um beijo
uma palavra amável
um sorriso
todos dados, oferecidos, sem ticket de retorno
sem exigências
obrigado por todos os sorrisos que cada um me deu
por cada palavra amável
momentos dispensados sem pedir momentos em troca
não sei que me deu se nunca deixou de me dar
esta capa sobre a qual me deito que me faz forte, distante
uma fera
deixando de parte o sentimentalismo e a entrega
como se de alguma forma entregar-me de todo me fosse ferir de morte
talvez ferisse, talvez morresse
"e uma vez era o Rei e o Bobo
separaram-se até mais ver mas não deixaram de se corresponder
uma vez era o belo e o monstro
também esses fizeram planos de nunca mais deixarem de se entender
conheço alguém de quem mal me consigo lembrar
abençoado quem tem quem de vez em quando o venha visitar
na tua mão pressinto um futuro feliz
tira o lápis da boca e escreve o que a solidão te diz"
(Obrigado ao Jorge Palma pelo restante @ Jorge Palma - Uma Vez)
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