31.5.10

"Because I'm evil..."

...so don't you mess around with me!

Menos preocupado,
diz que li no outro dia em diário erudito pleno de cultura anglo-saxónica que envelhecer - com estilo - é este não querer saber
ser jovem é ser demasiado self-conscient que pensará esta e este, aquele e o outro,
que poderei eu fazer para me tornar mais aprazível, mais cool e melhor que o meu semelhante
que rasgo de cultura generalista poderei eu roubar para me fazer tornar único sem reparar que pessoas são detalhes, pessoas são aura e sensações, pessoas são sorrisos e pessoas são seres que nos colocam a pensar em patamares que nos deixam horas a fio de olhos pregados ao tecto quando convenhamos,
deveríamos estar numa qualquer Terra dos Sonhos
e estamos,
se a mediocridade nos regra,
agarrados a coisas tão parvas que nem me ocorre escrevê-las para não ofender um Mundo quase inteiro,
porque motivo nos achamos melhores, especiais, semi-deuses entre meros humanos?
Como tal adoro promover sem desdém os meus defeitos,
do ser cáustico e sarcástico que vive em mim, os maus humores e o que define aquilo que sou em cada dia que piso este Mundo
que não vos faça moça, que se fodam
garanto e assumo,
não me importa minimamente o quer que pensem de mim, garanto-vos sem vos enforcar por isso,
sem vos rasgar em pedaços apontando às fraquezas, às inseguranças, às falsas aparências e sem vos demover da felicidade porque admiravelmente a defendo,
porque no fundo quero que todas as cabras sejam felizes, que todos os imbecis sejam felizes, que até os e as hipócritas que vivem nas proximidades daquilo a que chamo um bairro de vizinhança pacífica se deleitem na felicidade, aparente ou não, que defendem ter
não escrevo amargurado, invejoso ou infeliz,
garanto que não,
de todos os defeitos, não consta o de ausência de justiça, este que defendo maior que praticamente qualquer outro
aos que me apelidam de mau feitio
digo-vos apenas que não se trata de carácter malévolo mas de pura, boa ou má,
justiça

afinal envelhecer é esquecer o que os outros julgam, o que lhes importa, em que inseguranças se baseiam para nos julgar. Envelhecer é um bem comum do qual devemos aproveitar cada pedaço nosso e torná-lo melhor. É oportunidade, é lugar e é gente. São escolhas. É usar o tempo para o que importa e acima de tudo nunca o usar para o que é supérfluo - e para quem o é!

23.5.10

Se Sonho? Sonho!

Parece que vens ainda chegado da tua volta ao Mundo,
com os olhos cheios de estrelas e o sorriso rasgado,
a capacidade de esboçar sorrisos nas caras mais tristes e levantar os olhos e sobrolhos mais caídos
dias assim há em que aparentas ter a vivacidade de sempre,
a qual usas apenas em ocasiões especiais de nadas,
apenas porque é sábado e faz Sol, apenas porque é terça-feira e está nevoeiro, porque te mentalizaste que assim é que deve ser,
resulta sem resultar
aos olhos das pessoas que habituadas a conviver com seres óbvios, previsíveis,
incomoda-me que presumam por momentos que me contentaria por instante sequer ser assim,
como elas, como os demais,
hoje estupidamente sorridente, o Mundo cheio das miudezas irritantes que o fazem,
dos imbecis, das idiotas, dos amuados e amuadas, de quem se acha no direito de descartar seres como se fossem côdea,
porque convenhamos,
seres e côdea existem aos pontapés
ambos se mastigam, ambos podemos "regar" com geleia e fazer deles pitéu, ambos nos aturam as nuances e momentos menos conseguidos
como esta escrita de madrugada
aguardo com a vivacidade de um miúdo as aventuras a que me proponho,
eterno Peter Pan de espada em punho, de pó de pirilimpimpim e pensamentos bons
não existe vôo distante o suficiente que consiga demover os meus sonhos
sonho

16.5.10

Embates

Em pedaços,
haverá noite mais solitária que a de sábado?
enquanto lá fora o Mundo se conecta, vive, respira e sonha de olhos acordados
novamente num sem-número de dias mortos, de horas mortas, de suspiros e respiros e convenhamos porque não?
acendo mais um cigarro
as mãos da pele ainda jovem, dos braços ainda jovens presos ao corpo ainda vivo, que respira sem saber para onde mas ligeiramente feliz por ainda respirar
tinha mil coisas para te dizer,
ombro amigo e que entende da coisa,
destas que são as mil milhares de horas em busca de coisa alguma, de sonhos quebrados e sorrisos que um dia se deixaram adormecer connosco para agora se adormecerem com outrém
não fazemos parte do mesmo plano deles, delas,
dos sorrisos,
não que tenhamos perdido por completo a capacidade para tal mas apenas porque no que pela nossa pele passou,
pelo que os nossos olhos viram e acima de tudo,
o nosso coração se permitu sentir,
o tempo passou
como sempre que o faz e inevitavelmente assim o é,
deixa marcas mil, umas que vou acreditando estarem para lá de cura, fôra eu pessoa crédula e não soubesse que o tal do tempo tem também essa mágica capacidade de nos mudar perspectivas e de atirar para um lugar da nossa mente coisas que talvez nunca se devessem ter manifestado
seria hipócrita de mim pedir desculpa por ser como sou,
de tal forma desimpedido de humanidades, desprovido de sentimentos de aconchego e pertença, de ansiedades relativas a mais um rosto, mais uns lábios, mais uns ombros e mais uma mão que aperte como se extensão da minha,
desses alguéns que lhes permitimos verem-nos chorar,
para assim nos consolarem a alma mil vezes quebrada, o coração mil vezes devastado, o sorriso que persiste apenas porque nasceu assim naquele lugar onde a sua natureza a isso o obriga
que forma existirá no Mundo de gente assim, como eu,
de tal forma numa rota alta, nocturna e só que nos colocamos com os olhos nas estrelas e no bréu da noite,
de mais uma noite após outra,
com a lembrança que um dia mais jovens nos proibimos de parar de sonhar, de nunca perder a esperança e de acreditar que sim, coisas boas surgem a boas pessoas
que inocência convergida em ingenuidade levará a que certas coisas em nós passem para o esquecimento
enquanto outras, essas que nos movem,
se mantêm firmes como uma rocha que sobrevive aos embates de qualquer onda, ano após ano,
vida após vida,
sonho após sonho

14.5.10

A Razão das Razões

São três da madrugada,
de um dia longo antecedido de longos dias em que por momentos,
momentos tive para me debruçar sobre o que me assola se é que algo
decididamente nada de ninguém
tirando aqueles de que saudades tenho que sabem quem são
por ordem alguma de prioridade ou preferência
ideia esta tenho eu que ultimamente o tempo sobre tempo tenta-me quebrar a alma,
em puros fanicos,
desfazer-me em milhentos bocados de mim, de pedaços de bocados de mim irredutivelmente quebrados sem conserto, sem memória ou sem lugar onde os pousar para mais tarde, com tempo e paciência,
os voltar a colocar no seu devido esplendor
convenhamos,
a nossa existência, essa mera e por ela mesma irredutível irrelevância de experiências que possamos acumular tem tanto de valor quanto um vaso quebrado, quanto um raio de Sol ou quanto coisas bem menos agradáveis que poderia passar a enumerar,
mas não enumero
porque ainda que neste corpo exausto e alma que resiste à quebra,
sobressai o que importa e o que (me) vale,
irredutível à pequenez que possa por momentos achar-se digna de me tentar por momentos tocar um sorriso que chega
faço portanto um apelo a quem anda por aí fora,
a vós pequenitos e pequenitas,
que venham sempre para mim com tudo o que possuem,
a ver o quão longe poucos passos conseguem

não me tentem mais quebrar o que não sabem encontrar