16.5.10

Embates

Em pedaços,
haverá noite mais solitária que a de sábado?
enquanto lá fora o Mundo se conecta, vive, respira e sonha de olhos acordados
novamente num sem-número de dias mortos, de horas mortas, de suspiros e respiros e convenhamos porque não?
acendo mais um cigarro
as mãos da pele ainda jovem, dos braços ainda jovens presos ao corpo ainda vivo, que respira sem saber para onde mas ligeiramente feliz por ainda respirar
tinha mil coisas para te dizer,
ombro amigo e que entende da coisa,
destas que são as mil milhares de horas em busca de coisa alguma, de sonhos quebrados e sorrisos que um dia se deixaram adormecer connosco para agora se adormecerem com outrém
não fazemos parte do mesmo plano deles, delas,
dos sorrisos,
não que tenhamos perdido por completo a capacidade para tal mas apenas porque no que pela nossa pele passou,
pelo que os nossos olhos viram e acima de tudo,
o nosso coração se permitu sentir,
o tempo passou
como sempre que o faz e inevitavelmente assim o é,
deixa marcas mil, umas que vou acreditando estarem para lá de cura, fôra eu pessoa crédula e não soubesse que o tal do tempo tem também essa mágica capacidade de nos mudar perspectivas e de atirar para um lugar da nossa mente coisas que talvez nunca se devessem ter manifestado
seria hipócrita de mim pedir desculpa por ser como sou,
de tal forma desimpedido de humanidades, desprovido de sentimentos de aconchego e pertença, de ansiedades relativas a mais um rosto, mais uns lábios, mais uns ombros e mais uma mão que aperte como se extensão da minha,
desses alguéns que lhes permitimos verem-nos chorar,
para assim nos consolarem a alma mil vezes quebrada, o coração mil vezes devastado, o sorriso que persiste apenas porque nasceu assim naquele lugar onde a sua natureza a isso o obriga
que forma existirá no Mundo de gente assim, como eu,
de tal forma numa rota alta, nocturna e só que nos colocamos com os olhos nas estrelas e no bréu da noite,
de mais uma noite após outra,
com a lembrança que um dia mais jovens nos proibimos de parar de sonhar, de nunca perder a esperança e de acreditar que sim, coisas boas surgem a boas pessoas
que inocência convergida em ingenuidade levará a que certas coisas em nós passem para o esquecimento
enquanto outras, essas que nos movem,
se mantêm firmes como uma rocha que sobrevive aos embates de qualquer onda, ano após ano,
vida após vida,
sonho após sonho

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