22.4.08

Pormenores na Hora do Cha

Gostava que visses em mim o que vejo.
As notas suspensas no ar das musicas que me levam a lugares onde fui feliz e permanece parte de mim a se-lo mesmo que eu tenha continuado rapidamente sem, aparentemente, olhar para tras.
Gostava de sentir o que sentes.
Se sentir efectivamente existe como um lugar que mora no peito onde paredes sao desenhos de desejos e telhados de vidro onde o ceu mora sempre presente com estrelas vividas de noites de Verao que tambem elas se fizeram passar algures no tempo.
Queria-te dizer a que cheira o ar. O olhar para a direita primeiro ao atravessar a rua ou as formas diferentes de gostar das pessoas daqui. O humor que se diz inteligente. Os passaros de cores que nunca vi ou os esquilos que moram na minha arvore e nas outras que vejo quando vou passear o cao.
A comida e o aroma, o sabor. Os lugares para os quais me remeto quando algo nao esta certo e permanece inerte.
As cores das paredes do meu quarto e o feitio de tudo o que me rodeia, os meus sonhos antes de adormecer e os que me invadem depois de me deixar ir.
Tenho lugares em mim onde escrevo tudo, desenho e pinto ao detalhe os dias da minha vida. Lugares belos com vida propria mas sem que sejam visistados que eu repare.
Podia estar enganado, mas afinal quantas vezes me consigo enganar a mim mesmo?

21.4.08

Wilderness Lounge

Havia finalmente caido a noite
por entre as nuvens altas que tentavam esconder uma lua ofuscante caminhava por estas ruas ordenadas onde o verdejante alberga uma imensidao de animais que a maioria de nos apenas ve na televisao ou em livros caso nao estejamos habituados a viajar para estas paragens
acordo cedo e vou passear o Simba, o boxer de seis meses ca de casa e a sua incessante energia que contrasta com a minha calmaria nestes ultimos dias, propiciada por acordares ao canto de passaros e coisas semelhantes
entre melros, corvos e esquilos a ocasional raposa ou cria de veado
nao sei quanto aos restantes, mas a mim viver num lugar como este da-me uma sensacao de paz
a 10 minutos de um dos maiores aeroportos do Mundo que me alberga como base encontro este lugar equilibrado onde pessoas coexistem com a natureza tentando estraga-la o minimo possivel
Nas ultimas semanas houve tanta coisa que mudou
entre a partida dos meus amigos para lugares como Paris, Berlim ou a nao tao glamorosa Liverpool, foi um regresso a encontrar o meu espaco e os meus silencios povoados com coisas diferentes, pessoas diferentes e certamente atitudes diferentes para com a vida
no primeiro Mundo como lhe chamam de onde venho, os correios funcionam da noite para o dia, os carros andam depressa mas com menos acidentes, as pessoas raramente sorriem e optam antes pelo politicamente correcto
no lugar do Mundo que ocupo a comida eh diferente, os nomes sao diferentes e ate por vezes nos mesmos acabamos por nos notar diferentes em todas as circunstancias que nos rodeiam e na nossa adaptabilidade para com elas
tenho mais saudades de algumas pessoas do que me atreva a mencionar mas sem que isso afecte o meu dia-a-dia ja habituado longamente a coisas assim
circunstancias
ao virar de cada esquina seria bom por uma vez encontrar uma cara conhecida e a impossibilidade de tal nem sempre se revela como negra mas como um conforto relaxante que me permite funcionar entre os demais sem percas de tempo, paciencia ou qualquer outra desculpa que me desvie a mente de um isolamento temporario
que tem de mais perseguirmos objectivos e alcanca-los se tao repentinamente estamos a tracar novas montanhas para escalar?
faz-nos sentir vivos, enriquece-nos e engrandece-nos sem duvida
mas quantas vezes pesamos as coisas vendo o que ganhamos mas efectivamente o que perdemos para aqui chegar?

8.4.08

Directa e Intensamente

Faz semanas e esta primeira etapa de larga escala no fim
em plena loucura escrevo palavras ao inves de me embeber no sentimento de partilha que reveste o ar e as atitudes dos meus novos amigos
populamos o ar com som deveras alto a desafiar a paciencia dos restantes hospedes deste hotel perdido em plena Inglaterra
a Elaine explica como se usam as ancas para dancar enquanto o Joe ja todo desgracado de uma noite bem longa se ri para mim sem ter palavra que dizer
a Nicola bebe o seu tinto como sempre e o tipo Frances e a miuda nova nao dizem coisa com coisa
acabamos de vir de uma das mais longas noites
hoje jantei num lugar onde bebi vinho Portugues e comi frango assado a fazer lembrar o da Guia
hoje dancei Salsa e outras coisas mais ao ponto de nao saber bem o que se passa com as miudas porque a dada altura me vi levado por corredores e atirado contra a parede por mais que uma vez e a ouvir coisas que julguei, sinceramente, nao vir a ouvir hoje ou num tempo tao cedo tal a minha caracteristica distancia a distanciar-me dos restantes mortais
garanto que vida esta tao pouca gente tem ou sequer pensa ser possivel ter enquanto uma ao meu colo lambe a lingua da outra e que dizer enquanto eu bem sei que nem vale a pena descrever uma vida que esta para alem de conceitos ou preconceitos
vale a pena vive-la e aprender a vive-la acima de tudo
podia quase dizer que seria uma das melhores noites de sempre, nao fosse o sentimento que ainda ninguem teve nocao de dar por ele, dado que sera inevitavel pensar que estamos assim porque sera a ultima oportunidade de assim estar
na que sera sempre a irrepetivel sequencia de momentos vividos a qual chamamos
irrepetiveis
ou simplesmente viver
intesamente!