1.10.07

Areia


calo-me num canto de areia enquanto miro à distância um qualquer vulto que se passeia na minha memória
és tu
e vem-me à cabeça o aroma da maresia e vento frio a rasgar-me os lábios enquanto os olhos cansados das noites em aberto me fazem cair na serenidade a que só posso chamar
sou feliz!
e o vento que encontra sempre uma fresta na roupa que trazemos vestida, ambos de cachecol e o fim de tarde com o sol a fugir-nos por mais um dia não sei quantas vezes foi dito
tenho frio
mas sem desarmar no areal mantivemos os pés que ainda chegaram a ameaçar a água calma, serena que vinha ao pé de nós como se a cumprimentar convidando para mais uma vez se fazer sentir gélida nos pés
e subitamente um canto de areia no passado é apenas um canto de areia no passado
uma memória de outrora dias felizes e frios, devotos à simplicidade que é a serenidade e do quanto me apraz degustá-la calmamente
sem pressas
a vida levada depressa é como saborear a melhor refeição da nossa vida em cinco minutos
as coisas simples são assim, diria, deve-se tomar tempo a degustá-las
e as lições da vida, de cada vida, se uns terão enfim vida suficiente para as aprender por eles mesmos
são de que efectivamente a simplicidade é tão ténue que ora a temos na mão, ora é um monte de areia que nos escapa por entre os dedos

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