18.11.07

Pertinências

um corpo
momentos no tempo
sorrisos e risos, uma nota de viola, o cheiro em volta do pescoço
cabelos no rosto, pele beijada, saliva quente, mãos frias
olhares cruzados, músicas alheias aos corações cantados
pontes e vento frio
mãos atadas, ironias
sei bem o quão inesquecíveis certos momentos são se logo eu que tantos fiz por esquecer outros passados
não me propus efectivamente a mudar a minha forma de ser e com isso abro a maior dificuldade no caminho
possuo o meu quê de adorável
difícil manter-me adorável duradouramente
entender que sou despegado de tudo é entender que consigo também ser despegado por largos momentos de tempo de qualquer pessoa que esteja na minha vida
clara como água para mim
como todos os dias em que não tenho amigos com quem beber um café nem procuro tê-los
uma fase, um lugar e tempos que não me fazem bem mas dos quais preciso ou nos quais me encarcerei,
como o viciado que não larga a sua dose ainda que esta o destrua
abrir a porta da cela não significa que dela corra para fora imediatamente
que é a vida a não ser uma prisão com um imenso conjunto de celas?
quando foi efectivamente a última vez que saíste ao jardim e viste o céu?
é desta forma tão surreal de persistir existir que falo e na qual me descrevo
cada momento feliz que tive
passam em constante rodapé e outros,
bem,
outros guardados em caixas como as que tenho algures numa gaveta que nunca abro até um dia
há sempre um dia enquanto os há e é num dia que assim sou
quatro estações do ano num dia, ventos frios ou um Sol confortante
dá jeito, se por momentos quiseres encarnar noutras coisas e pessoas, escrever, criar algo que possa ser catalogado como bom mas não
não dá jeito viver assim
um péssimo relações públicas e pior relações privadas
insatisfeito por natureza
auto-crítico (notou-se?)
comodista por natureza
por vezes a desculpa de que sou feliz em grande parte do dia esqueço-me
como tantas vezes antes esqueci
viver a minha vida,
sonhos,
ideais porque sei
que ideais? que sonhos?
tão bom viver os dos outros
uma lágrima, uma testa de olhar cerrado e um ritmo atípico no coração
sou eu
quem mais senão sempre
eu
de tão indefinido acabo por me tornar incapaz de ser definido na existência alheia?
que resta portanto oferecer que não palavras?
sentimentos, conforto, humor, amor talvez?
e para os encontrar em primeiro lugar
estes parecem só surgir quando estou efectivamente perdido ou efectivamente no início
esqueço-me dos entretantos
serei forçado por mim a emulá-los quando só, abandonado pela vida?
serei eu efectivamente frio, para quem a paixão é a tesão dos momentos, o desejo da carne, a saliva nos corpos e a alma serena no corpo exausto adormecer ao lado de alguém?
poderá disso ser feita a felicidade se quando tudo o que temos à volta é deserto?
recuso-me a tomar o caminho do risco com a desculpa de estar só
injusto para um, injusto para o outro
um daqueles crimes da alma que nos estragam
só é tudo o que de melhor sei ser
renovado em cada passo
sempre igual
não encontro em mim a coragem e forças para mudar e ser quem não sou
prisioneiro de quem efectivamente sou
lutar com tudo o que posso contra mim mesmo
efectivamente frio
onde estou eu
quem sou eu
acreditas mesmo?
eu?

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