25.12.08

Natal vs. Xmas

Voltámos ao mesmo
o calendário poisou no vigésimo quinto dia de Dezembro e as pessoas dão mais um pulinho e meio pinote no Planeta Hipocrisia
gosto, admito que gosto do Natal
algures ontem entre o patinar no gelo pela primeira vez, Torre de Londres e ponte como cenário ao cair da noite não muito fria, fazendo semi-brilharete na estreia e feliz porque sim, não me faltou tanto assim
ausência do Pai e da Mãe, da Avó que guerreia para não vir jantar, do smokie e da snow
dos que partiram este ano
do avô "Melito" que me fazia cócegas quando era pequenino e me adorava como neto desligado que eu era, do senhor gato que pedia colo por tudo e por nada nos seus biliões de "Miaus" e até o senhor pombo que não via ponta de corno e não terá visto grande coisa até ter partido
voaram todos este ano que foi difícil, de mutações mais profundas do que me proponha escrever e partilhar com quaisquer pessoas através de linhas num blog
de pessoas a quem dei chances em vão, de amigos que cimentaram a sua posição na minha alma e de difíceis vitórias pessoais, bem difíceis
acima de tudo apraz-me ser Natal e estar vivo
respirar o ar frio, sentir as pernas dormentes quer dos abusos profissionais quer dos pessoais a que me disponho, das noites ínfimas mal dormidas e das centenas de horas de vôo que levo no bucho
da distância que conquistei de outras coisas que não se permitiram ser melhores, de pessoas fantásticas e maravilhosas que conheci, de ter tornado o Mundo do tamanho de uma carica ao passo que para muitos manientos este ainda é imenso
e é, mas para mim um pouco menos
as mãos mais cavadas e o sorriso por vezes demasiado pesado pelos olhos cansados e não explico nada a ninguém que não entenda porque não estou para isso
desejo todo o melhor a todo o Mundo e o Mundo que me deseje o que entender, não importa
a todos os dias faço o melhor que posso, com alma e sem arrependimentos de maior
hoje Natal passou e desejei o melhor a todas as pessoas que me importam sem surpresas
Feliz Natal pessoas desse lado, voltarei brevemente para escrever algo que não isto

M

10.10.08

Ali

Palavras,
palavra que apenas palavras, sem actos que as acompanhem pela força que têm, que nos suplanta, que nos supera em tudo
a nós não, a vós
a mim por vezes, ao ritmo a que meço palavras que são apenas minhas de coisas que fiz, ruas que percorri e olhares que deixei suspensos no ar permanecendo à minha passagem
insignificante
coisas com que alimento a alma, saborosas melodias que me deixam sentir que estou vivo enquanto o Mundo pretende que esteja ausente,
morto
a nossa existência é feita de pessoas e lugares
as primeiras testemunham a nossa peculiar passagem, os segundos albergam-nos os pensamentos e os sonhos que num qualquer dia cinzento o vento levará
eu ao volante no final de tarde e pensar
um dia morrerei aqui,
ao passo que talvez já sumido para outras vidas, outras existências enfim,
outras histórias
a pensar nos lugares onde os pés enterraram na areia, nas conversas que a areia testemunhou e nas palavras que o vento, esse a soprar forte, levou
todos os dias se esgotam, como uma alusão à nossa vida
as mentes brilhantes e os corações cintilantes deste Planeta talvez o tenham já entendido e depreendido que não, não há tempo a perder em coisas grandes
apenas em coisas pequenas, em minimalismos existênciais, em pequenezas da alma e do sentir
só e unicamente assim poderemos alguma vez dizer que sim,
fomos felizes

25.9.08

Só Meu, Só Teu

Somos pequenos,
minúsculos seres capazes de coisas brilhantes
de brilhos nos olhos, de sorrisos que dizem mais que mil palavras, de poisar olhares em nada e sonhar um todo,
humanos
temos um coração maior que nós, uma alma que nos suplanta, um céu azul acima mesmo quando não conseguimos vislumbrar ponta do dito tom
vivemos este bocadinho agora, este piscar de olhos, esta coisa que nem conseguimos ou sabemos definir
não como seres mortais mas acompanhados pela imortalidade dos nossos sonhos nem que o tal
de sermos felizes
sorrimos, choramos até não poder mais, rimos e gritamos de dôr
partimos ossos, almas e corações, temos cicatrizes
enfrentamos o Mundo ou escondemo-nos no nosso
dizemos verdades ou mentimos para nos tentarmos convencer de outras verdades
contamos a nossa história sempre de uma forma diferente, desenhamos detalhes
acordamos, dormimos e sonhamos
temos pesadelos,
mimamo-nos e punimo-nos, seguimos em frente a cada nascer e pôr-do-sol
ontem eu e 37.000 pés
chá verde na mesa, a fruta, o british hot breakfast e a janela com um manto branco por baixo, um imenso azul por cima e o nascer do Sol ao fundo
invejei-me por momentos em antecipação a um dia em que não tenha este pequeno prazer de tão imenso que me é e me assola
abro um pouco mais a alma e sinto que só ganho com isso, em ser nem que por momentos eu mesmo, ao quanto me custa estar efectivamente nú de ser para com outrém
dou um passo para lá da muralha e esta desmorona-se um pouco
posso não dizer o que quero, não conseguir o que desejo, posso nunca mais sequer saber o que é ser feliz mas hoje acordei
por baixo do céu azul, este eu pequeno, minúsculo e efémero que sou olhou em volta de si mesmo
a muralha tinha desabado e eu ali, só eu
e o imenso céu azul ao nascer do Sol

10.9.08

3h03

Porque não uma hora qualquer
a assinalar um qualquer momento como se diferente de todos os outros aos quais eu, admitamos
indiferente
a televisão de si já rendida à evidência
ninguém estava a olhar, a companhia inexistente por muito que se pudesse desejar o oposto
ao centro a mesa, sofás opostos
35'South, o Chileno
"red"
desisti num qualquer triângulo de vida onde me encurralo de procurar um motivo
bring that bottle over here, I'll be your baby tonight
a rendição às evidências é um ponto de equilíbrio, ao qual todos chegamos, o qual todos ansiamos
entre todos estes objectos inanimados repouso o já mais que cansado e abusado corpo num qualquer sofá rouge
ao visualizar a minha cabeça tombada na almofada
o corpo inerte na larga cama
e os sonhos a deambular por qualquer mundo que lhes aprouver,
sei que algures entre o momento em que me despeço de mais um dia gasto,
o saldo esgotado,
tenho ainda a fazer todas as conclusões do dia
as conversas que tive, as pessoas com que interagi
a menina do autocarro, a fitante do BMW, o senhor da caixa do supermercado
a chuva que caía sobre o meu pescoço e eu
vivo
por muito que prezem fazer-me de morto e inexistente, como se eu inerte, indiferente, incapaz de sentir o que fôra
por muito que me sacuda desta gente que não sei
não digo
ainda vou deitar os olhos pesados num horizonte que vou inventar,
sonhos postos em algo que me falte, em algo que deseje
algo que anseie
trocado por coisas que julguei ter e nunca mas hei,
o Mundo é feito de pequenas coisas que se fazem escuras perante os nossos olhos
talvez mesmo como ela
a vida
são 3h11

27 no dia 27 e ainda me há-de ocorrer como algo relacionado com um telefone está directamente associado a "Parabéns, desejo-te uma vida de felicidades"

6.9.08

Dreams,

Esta manhã
o telemóvel de mansinho
ever since I saw you, I want to hold you like you were the one
e o corpo imediatamente puxado de um qualquer sonho
um lugar onde estava bem, talvez por momentos completo
queria ir para lá viver um dia, para lá morrer, para viver
cruzo milhares de olhares diariamente,
permaneço na companhia do meu
3h50 e o espelho a dizer-me
cansado
a antever anos pela frente, esperemos, mas afinal esperar pelo quê?
acordei um dia destes em que não me lembro e disse ao Mundo que tinha parado de esperar
que os sonhos trocados por eles mesmos trocados,
algo menos irreal, menos infantil
menos sonhos de miúdo, de coisas felizes e mágicas a deambular pela minha ténue e breve existência
não nos enganemos, é breve
ainda a semana acordei, também madrugada fora e pensei
27 anos
ainda lá bem longe num lugar que é só meu, pintado com todas as minhas cores
ninguém que devia entender percebeu
também sou de carne e osso e alma
muito mais alma que carne e osso
com todo o peso dos meus sonhos, das minhas ilusões, dos meus desejos e sim
dos meus medos
poucos esses, a prenderem-me à Terra
que serão os medos senão o que nos ancora à ténue existência?
aqui permanecemos, uns mais ancorados ao Mundo que outros, todos a caminho de algo que pertinentemente ignoramos
este sangue a correr pelas veias bem forte
faz-me cortar todas as amarras,
menos aquelas que me prendem aos meus sonhos
só aos sonhos

1.9.08

E(m)fim

Ontem morri mil vezes,
a planar sobre um qualquer lugar a pensar que a qualquer dia, um dia qualquer nunca mais ver
a minha casa, os rostos, sentir o calor
e os lugares que perdi de vista com as pessoas todas sugadas la para dentro algures sumidas quem sabe
para sempre
enquanto pousava mais uma vez o olhar em algo que ninguem nota se nem sequer no proprio olhar
deleitei-me com uma qualquer coisa que ja tivesse sucedido para estar a milhas de distancia, a fazer aquilo que tao bem faco como se profissional fosse
ignorar
nao ignorando.
as minhas manhas, o comecar do meu dia planeado em minutos
o tempo disponivel para o banho com a roupa ja de acordo com os ponteiros e eu fresco por vezes a sentir-me nem tanto, nada
a mala com tudo posto sem nada que lhe falte e a chave
algo para comer, rapidamente
os pensamentos postos sempre em qualquer outra coisa, nunca desligados e eu a ser levado com eles
arrastado
porta fora e para onde calhe ja nao importa
o Mundo tornou-se finalmente pequeno, conhecido como aquele tipo que encontramos frequentemente mas nao lhe conhecemos os segredos ou pormenores
gostava de um dia escrever como dantes mas perdi o tino,
saltei do barco para a agua e nadei ate a margem do lugar
qualquer lugar, qualquer que seja
no entretanto perdi fragmentos de mim, dizia-me a minha mae
tao British e eu de sobrancelha levantada e olhar agucado apontado a ela
com a razao toda a pairar sobre a eventualidade de ser verdade,
de talvez ter perdido algo e perdido sim,
talvez o muro esteja finalmente alto demais para ser transponivel

23.8.08

Pormenores, Dissabores, Pormenores

Vinha esta manhã recordo vivamente
descer os 20.000 pés,
o piloto automático a corrigir por si a altitude para a pretendida
a imensa "montra" que é a de um cockpit e Lisboa ali
não só Lisboa
Carregado, Vila Franca de Xira, Alverca, Montijo, Lisboa, Sintra, Oeiras e as pontes que ligam alguns destes lugares
as pessoas que conheço ali em baixo a viver a sua vida
mais uma vez a aterrar em casa, lugar o qual não sei bem onde é apenas dizendo que fica algures no Planeta Terra
volto a deparar com pormenores e arrependo-me do que fiz ao tempo
mais um dejá-vu
dispender minutos da vida em coisas e pessoas que juro, tivesse eu tempo e dedicava-me a detestá-las
passandoa ignorar a ignóbil existência e a minha delicada fragilidade e inconveniente amabilidade em tê-las deixado passar um minuto de vida na minha companhia
assola-me de certa forma que a imbecilidade vive por detrás destes pares de olhos que ao fim ao cabo não lhes reconheço valor nenhum, nem tão pouco minimamente maior que qualquer pessoa sem carácter com que me cruze
enquanto o A319 fazia a sua última viragem sobre Lisboa e a primeira oficial me pedia para fotografar a aterragem lembrei-me que estava num lugar onde já não sou eu
outro
aparentemente as mesmas palavras e expressões, talvez algures as mesmas coisas boas
menos comodamente comodista, menos preocupado, menos a querer saber
deveria quem me conhece depreender que os pormenores são o meu deleite, onde me perco
onde me encontro e reconheço quem é quem
residem neles também a vulgaridade e a falta de imaginação
essas coisas que abomino, que te tornam absoluta e indubitavelmente vulgar
e eu
a querer por momentos ou eternamente gritar bem alto

obrigado, não me digam mais nada até morrer!

21.8.08

Um Salto para o Proximo

Nunca desisti, diria
aprendi com as cores pintadas a vermelho deste quarto, um peqeno Mundo onde temporariamente arrasto pensamentos e memorias que nao vale a pena por vezes fazer outra coisa que nao seja
desistir
parece que desisto, perdido no tempo
a musica a invadir os meus espacos de tanta falta que me faz ter outra cor na janela
nem para escrever me digno a dedicar-te um momento, reivindiquei-os para mim na sua totalidade a falta de ter um espacinho num qualquer muro, uma qualquer pista de pensamento, uma qualquer falsa falha de nota que tivesse escapado
resto eu,
resto sempre eu
entre cada passo de cada cidade, de cada lugar que absorvo como meu sem nunca o serem, sem que alguem testemunhe o brilho nos meus olhos das pequenas coisas ou a forma como penso que respiro para cima de um Leonardo Da Vinci como ontem
de um Boticelli
um Miguel Angelo
essas coisas, arte, que portraiam pessoas cujos nomes nao me dizem nada mas persiste a sua imovel imagem para a eternidade como se uma
hoje presumo que nao faca mal pensar assim
preciso de algum tempo so para mim
talvez um dia como o de hoje, talvez uma vida como esta

1.8.08

Ponto Assente

Ponto assente,
as pessoas usam mascaras
os dias de folga sao cinzentos e ventosos, pouco convidativos ao exterior
Inglaterra tem menos de apelativo do que se possa defender, para la de qualquer defesa
por vezes um punhado de palavras muda o Mundo, a nossa vida e essa coisa do destino
tanto quanto a ausencia delas tambem o pode mudar, mas regra geral nao muda nada, faz perdurar a porcaria
o meu candeeiro marroquino pinta as paredes de vermelho e aquece-me o espirito
que espirito?
pontualmente tenho recordacoes, mas a maioria das vezes opto por nao as ter
cansado de pessoas, pessoas, farto de pessoas, pessoas
pessoas nao, gente
chamar-lhes antes nomes, gente, de indignas que seriam de ser apelidadas de outra coisa
nem revoltado ou zangado, de costas voltadas para o Mundo
apenas a ignora-lo temporariamente como por vezes ele a mim
entendemo-nos bem
mudar para onde? amizades em que cores? pedem-te apenas favores
liberdade para mudar, liberdade para sonhar, para ouvir dizer que fez, que melhor, que saltar
ate ao dia ainda ninguem me seguiu as pegadas, calcou os sapatos, vestiu a minha roupa e foi fazer por mim
amanha nao sera diferente
hoje foi igual
recarrego o sorriso no lugar de onde venho, dura-me uns quantos dias ate se extinguir, de tao pesado que se torna o lugar
tenho sono e o corpo doi-me constantemente,
vejo-me cada vez menos, gostava de ver mais
tenho sonhos do tamanho do Mundo, mas nao gosto deste, quero outro
sempre outro
nao chamo por ninguem, o vento vira por si
trazendo as nuvens para aqueles meus dias de folga
isso eh ponto assente

18.7.08

0125 LGW SXF

Sexta-feira,
apos seis dias cheios de ar pressurizado, milhares de rostos alguns dos quais perduram mais que meros instantes
casa, off duty
ainda a sentir a semana passada em que os olhos a abrirem pela manha e pensar
estou em Berlim
estava e as ruas a lembrarem casa com a sua calcada e arvores, avenidas espacosas e lojas que conheco
diferente de Inglaterra, sem duvida, ao mesmo tempo bem mais familiar
os sorrisos das desconhecidas na rua, os cafes, os ambientes relaxados e relaxantes onde me pude sentar por momentos que pareciam pequenas eternidades de satisfacao
o meu Amigo com A gigante de tao dedicado como so os grandes amigos sabem ser sem necessitarem estar sempre em contacto mas sabendo nos que estao sempre ali
a distancia de um e-mail, uma mensagem e ate um telefonema
hoje o dia cinzento a dar o welcome to your days off de tao pouco impressionante que ja se torna o tempo estar sempre em puro desacordo com o meu estado de espirito
a precisar de dias fora de casa e longe de avioes e aeroportos, de Sol e ceu azul
detesto este sentimento mas convivo com ele por horas e dias a fio
ironicamente os amigos todos a milhares de quilometros
eu aqui
ironicamente

3.7.08

ESBY

(denominacao para Early Standby)
seis e trinta e cinco da manha
diria madrugada, nao fora a madrugada por este lugar ser um misto de raiar do dia com cantar de passaros que se faz notar ainda pouco antes das quatro horas
das sete as nove e trinta, das quas sao agora sete e trinta e oito presume-se que para motivos de bom profissionalismo me mantenha contactavel "just in case"
infelizmente o dito "just in case" eh frequente, pelo que nao sera de estranhar ter que interromper as ditas linhas e correr para o aeroporto para um qualquer voo para o qual alguem tenha faltado
nao se julgue a partida que sera praxe pois ate os mais seniores estao sujeitos a este tipo de coisa umas quantas vezes ao mes
especificidades, tools of the trade
timidamente o Sol bate nos lencois que estendi ontem ao final da tarde
presumo-os secos mas nao me consigo agora incomodar a tal hora da manha com trivialidades dessas, sendo que pefiro pousar o olhar na passarada que se amontoa la fora por breves momentos ou simplesmente na forma como o azul do ceu vai sendo invadido por uma pequena neblina branca que, provavelmente, dara em mais um dia cinzento
como eu
por vezes a pergunta,
presumes ficar aqui para sempre - como se - ou voltar?
e eu pensar voltar para o que, para quem
como se nao soubesse a resposta imediata afinal, ora afinal
onde ganharia de inicio o que ganho aqui? ou de meio, ou ate de final
os meus pais tinham razao
a matematica eh indispensavel na vida ou pelos vistos sem ela nao ha como sustentar a vida e eu,
rendido as evidencias das coisas e coisas que tenho ou posso comprar, como se
nem por momentos feliz com coisas, com o primeiro grande salario nao corri
comprar roupa, iPod, telemovel, coisas da moda e a pensar no proximo sonho a seguir a este pois ha sempre um proximo e quanto me faria falta mais que qualquer adereco,
persegui-lo
como se a vida nao fosse mais que substituir sonhos por sonhos, para nos felizes os que nos podemos dar ao luxo de os perseguir, a espera de uma prisao qualquer ao virar da esquina que nunca surge
podera nunca surgir afinal, pensei nesse risco esta manha enquanto me barbeava e o olhar suspenso no espelho a reflectir
eh verdade
nao sei afinal de contas ao fim destes anos o que eh suposto ser isso tudo de maior que a vida
com cada dia que se extingue e as oportunidades que leva com ele
comigo sentado, admirado com a forma como o tempo voa e o que ja de si levou sem deixar grande coisa, voraz
migalhas de coisas, nao fora a memoria a atraicoar-me constantemente e diria que nunca tinham ocorrido
nao fora cicatrizes ca dentro e diria que nunca as tinha vivido
mas vivi
e hoje o dia amanhece glorioso, para onde quer que me leve ja decidi usar um adereco da velha moda
sorrir estupidamente
como sorri quem esta feliz com o que tem, de olhos postos nos sonhos que pretende vir a ter

28.6.08

Simple



Diria novamente a hora
duas e vinte e tres, chegado de quatro voos que seriam cinco nao fora atraso apos atraso e o offload da tripulacao inteira
nao aguento disse a Susi tambem chamada de Maria, de Madrid e o Carlos, outro madrileno exaustos enquanto a rectaguarda da cabine eu e a Trudie tentavamos manter a energia para o caso de termos de fazer o quinto sector do dia
nao tens namorada porque?
a pergunta mais ignobil que vejo repetida vezes sem conta nestes dias que passo as cavalitas de um Airbus A319 feita por ambos homens e mulheres com idades entre os dezoito e os trinta e qualquer coisa anos com mais bandeiras que aquela porcaria no Parque das Nacoes que me parece agora tao distante como uma qualquer aldeia diria
no Zimbabwe
amanha a mesma tripulacao e a Trudie novamente
nao tens namorada porque?
ao que a dada altura lhe disse que o medo do compromisso sem que tivesse enfiado um par de cornos na ultima ou sido o maior filho da puta
que devo ter sido algures em dia incognito que so ela sabe
as mulheres usam calendarios diferentes dos nossos, homens e nao precisam ser filhos da puta para que elas achem que voces sao uma merda
portanto merda pela merda, os homens dao-se a chatice de serem cabroes so para chatear, acabando por fechar o ciclo vicioso de tanta porcaria que vai dentro de um peito humano e o Comandante
cabin crew prepare the cabin for landing e eu hoje cansado sem paciencia disse de forma bruta
ou coloca a bagagem no cacifo ou muda de lugar sem sorrisos e sem simpatias, pura e simplesmente uma frase imperativa em estado puro e bruto como disse nos ultimos minutos
puta que te pariu
e a vontade de te ver pela frente um dia destes nessas merdas de atitudes de pita e agarrar-te pelo braco para nem te dizer nada que nao fosse dito com um olhar
badamerda
e as voltas dadas num relogio que pareceram em vao para vir aqui parar ao meu sofa vermelho
a recordar-me do trexo Jorge Palma no sofa vermelho
e o Jorge todo fodido falava do Eulisses e depois aquilo eh uma granda salganhada, mas e depois? o pior vem depois, ah pois eh
dei por mim a ler a Odisseia de Homero e a pensar que ainda tinha que flipar um pouco mais
pu-la na prateleira a ganhar po e meses em cima
a devorar pontualmente o meu Amor em Tempo de Colera pagina a pagina a viver este bocado de mim em plenas Caraibas do virar do seculo passado e por vezes tem destas coisas a mente a fugir-me e porque nao rir?
rio-me tambem naquele pegar do braco afinal tanto girar de ponteiros e nada, nao percebeste nada de nada
revoltado com o David Fonseca e a sua falta de originalidade para um video a roubar ideias a genios e tao Portugues afinal voltou a estaca zero mais um
de tao pequenos pode ser que imitemos os maiores porque de tao pequenos os maiores nao os vemos ou nao conhecemos, passam despercebidos
ignorei
enquanto a chuva batia na janela do autocarro a caminho do Terminal e abencoada a tarde apenas nublada e ventosa e eu no "stand one" a esperar o aviao ca em baixo e todos de dedos enfiados nos ouvidos pelo roncar ensurdecedor do motor
superado pela descolagem do outro em Belfast e eu a porta a pensar
brutal
I wish for one time you could stand inside my shoes
mas nao estas,
nao queres, nao podes e nao vais
porque nao, apenas
para que complicar?

26.6.08

Split, Croatia

Eram tres e dezanove quando abri os olhos
de alguma forma a leveza da luz do andar de baixo fez-se sentir por baixo da porta do meu quarto e levou-me a cambalear ate a casa-de-banho
cambalear nao, pois sentia-me mentalmente em demasia desperto para quem havia dormido apenas coisa de cinco a seis horas, perdido entre fusos horarios como hoje quando dei por mim perguntar
Que dia e hoje?
e garantido que seria quinta pensei ainda viver numa terca ou quarta como errado e deslocado que estava
irrelevante explicar
pois eram tres e vinte e pouco quando regressado ao quarto dei por uma amiga aranha a ver-me do tecto e agradeci por momentos ao lugar verde em que habito para me ter stressado com a dita grande bicharoca a lutar pela vida e eu a lutar para nao a ter que matar
nao matei
algures no Mundo verde fora da janela, apos vinte minutos de tentativas delicadas consegui persuadir a bicha de oito patas a apanhar o fresquinho da madrugada
voltei a deitar-me para a ironia de apenas ter comecado a "driftar" para o sono quando pelas tres e quarenta
o despertador, ai ai ai cantava Alanis
ao pensamento inaugural do meu dia por iniciar
"ai ai ai" que me doi a alma
rotina rotina, corre corre, cronometrado mais minuto menos minuto mas admito
pontualidade Britanica
por meio de um curto dia de trabalho a passageira que responde ao "deseja mais alguma coisa?"
"..o seu numero de telefone?" e nao o levou porque simpaticamente sorri e disse que nao disfarcado de engracada piada para ar incredulo do meu colega com a desmedida lata da rapariga, certamente confiante nas suas capacidades de
chamemos-lhe
seducao ou algo que a isso se assemelhe
recordei-me por momentos de ti que estas para ai, no raio que te parta indiferente
de mim a por vezes querer saber como as pessoas que dizem que se gostam e que se querem
essas hipocrisias de merda com as quais se ganha a confianca que tao facilmente se atira para o contentor juntamente com as garrafas, fotografias e outras merdas que acumulamos ao longo do ano
uns chamar-lhe-ao memorias ou tesouros
outros merda e lixo
chama-lhe nomes!
a caminhar para uma directa sem que me permita chegar a tamanha inconsciencia
da-me para sorrir a Sonita, o Joao, a Carol, os meus pais e ate o smokie com quem infelizmente nunca falo mas de quem gosto e nao me lixa
o resto tambem me da para sorrir mas de forma relevantemente diferente
estes estao presentes de formas pertinentes, sem que tenham que se fazer presentes se me dou a entender
nao tenho tempo para me chatear com o Passado e aproveito para me manter sorridente com o Presente pois sera dele que faco o Futuro
faz sentido? demasiado cliche?
talvez tenha simplificado, chamemos-lhe um ABC lexico onde ate o mais limitado intelecto entende onde e de que sao compostas as entrelinhas

(Brevemente vou ter que visitar a Croacia e banhar-me em Split)

25.6.08

BFS

Sao quatro e qualquer coisa da manha,
digo qualquer coisa pois o despertador toca nao so a minha paz como a violencia de acordar ainda durante a noite para mais um dia
ainda olhos semi-cerrados olho em volta com aquela sensacao estranha de quem acorda sem saber exactamente onde esta, aliada as nao digo quantas garrafas de Rose na companhia das minhas amigas para nightstop
entregue momentaneamente a companhia do Gabriel (Garcia Marquez) dito em ingles para me tentar familiarizar com o erudito lexico britanico mais do que ja vai sendo habitual chegada primeiro a Hailey, demasiadamente grande sentido de humor para se comparar com a maioria das miudas britanicas
e sim, uma miuda com a adorabilidade dos seus dezanove anos
contrastando com a serena e igualmente simpatica Sarah que ja conheco de outros dias de maluqueiras assim permanecemos os tres ao que antecedeu o meu rodopiante deitar a conversa sobre aquelas coisas que conversamos sempre
voar, com quem e para onde, namorados e namoradas e a dada altura nao sei porque me afoguei no copo e nao havia debaixo do banco o tal famigerado colete salva-vidas
atipicamente fico entregue a simpatia das locais enquanto a nao local que nos supervisiona acaba por sair com os restantes e pensa-se sem se dizer
paz e sossego
daquele que tenho em dias como o de hoje, acordado em Belfast e prestes a dormir bem cedo na minha cama, em casa, que nao ha quem aqui me chateie a corneta nem por momentos que eu deixasse e,
a medida que deixo de sequer escrever palavras porque sou facilmente entediavel - quem sabe entediante - desligo-me dessa pseudo-amizade de amontoados de conhecidos que sei eu que nao dariam um passo por mim como eu faco bem questao de nao dar por eles
tres minutos depois abri os olhos, ciente de que nao os poderia voltar a cerrar sob o inevitavel perigo de realizar o que tinha sonhado e falhado a hora de report para voar de volta a casa
perdendo assim a simpatia dos sorrisos das Toulousianas (France) e a lembranca que o Toulouse sempre foi o gato que mais gostei nos Aristogatos
a casa-de-banho e a sua peculiaridade estranha de ser completamente espelhada, inclusive durante o banho, uma alegria para os mais narcisistas e quem sabe para outras touradas e,
os olhos pesados a medida que ainda de toalha em volta da cintura me propus a fazer o meu cafe acompanhado de descafeinado para lhe carregar apenas o sabor e o pequeno-almoco, agora indeciso entre ha um piscar de olhos atras ou coisa de catorze horas
pequeno prazer
como mil outros que nao partilho porque me pertencem, enterrados nesta coisa de nao querer dar a saber a gente que e meia nem para lhes perguntar que horas sao
como quem faz escala onde quer que seja, mudando efectivamente de rumo para longe do quer que seja propriamente de explicar
aprendermos esta coisa de gostar de viver sem prestar contas a quem nao nos traz bem tem um sentido
o de sermos nos mesmos, a gostar de nos mesmos, a querermo-nos mais e seguir o rumo tracado
a dada altura chegaremos algures onde nao pensamos chegar, sem arrastos, sem delongas desnecessarias, sem
percas de tempo

19.6.08

A

A pele
por si so um Mundo, deslizante, parque de entretenimento de todos os meus desejos e ansiedades, onde repouso a minha juntamente com o embalar de um olhar
por dias e lugares, os sorrisos quebrados na minha direccao
vistos e revistos, efectivos lugares-comuns da minha existencia no Planeta Terra aliado a minha suposta modestia de nao ligar de tao ligado que estou a outras coisas que chamaria no seu todo
essencia
ontem eu aqui no sofa e a Emma a dizer
dois anos a viver juntos e de noivado e ele diz "overnight":
"Nao quero nem vou casar contigo. Nao te amo nem nunca te amei!"
o terrorista, bastardo
eu a julgar a coragem dele maior que o Mundo em toda a sua crueldade, como se rebenta com a corrente sem do nem piedade provavelmente para alem de qualquer remendo e nos aqui, todos cheio de panos quentes a pousarmo-nos uns aos outros, distanciando-nos a passos em bicos de pes como se a vida um bailado e lembrei-me
um dia amas, no outro nao existes
como na vida, la esta que dita que um dia respiras e no outro nao
nada de cruel na natureza das coisas se eh a forma como elas persistem
esta miuda de varias que conheco linda de morrer
se bem que nunca me lembro de alguma vez ter querido morrer por alguem ser lindo e a alma que parece grande por vezes escapa-me a dela para o pequena, infimamente pequena a lembrar-me que a ultima vez que me deixei ir em historias assim podia ter aberto uma loja de afagar egos e nao
nao estou aberto no negocio de afagar egos
para isso existem todos os imbecis, pseudo-estilosos que vivem de ansiedade de impressionar, de falar a boca cheia de coisas que nao sabem e no fundo nao saberem coisa alguma sobre coisa nenhuma
acabamos por viver nesta roda de coisa nenhuma todos, tao imbecilmente afectados pelo que achamos que queremos quando o que efectivamente queremos nos pode escapar mais facilmente do que dizer
imbecil
diria a todas essas pessoas que o aspecto maravilhoso delas nao me ilude e ja ha bastante tempo sei o que preciso e o que nao quero, restando apenas todo o tempo no entretanto para nao cair no erro de ter o que nao desejo
novamente
o Mundo nao eh cruel como a natureza tambem nao o eh
o Amor, esse a existir tambem de cruel nao tem nada, se tao natural eh na vida
crueis somos todos nos, a colocar as nossas insegurancas nas costas dos outros e cruelmente a faze-los penar por todas as nossas falhas como pessoas
think about it! ;)

18.6.08

Ao Vento, A Voces

Nao sabia por onde comecar um novo texto
entre as dezenas de tentativas deixadas nem sequer a meio em outras noites, outras alturas que me apeteceu dizer algo nao ficou
garanto que nao ficou e hoje
como se dia diferente ou noite que se faz vislumbrar la fora diria um redondo talvez
talvez entre o silencio que reina hoje em casa e hoje na minha vida pudesse escrever algumas linhas de puro nada
dizendo que nao me apetece partilhar com ninguem que conheca o que me apraz dizer
que tenho mil coisas para contar e nenhuma que te conte em particular
sim estou bem, apraz dizer sem que seja perguntado
nao fantasticamente bem, mas bem
escondido com o meu sorriso de miudo e olhos que disseram-me um dia meigos no acto de olhar tenho todos os dias o Mundo na palma da mao
uns dias tomo-o, outros deixo passar na dinamica e incerteza que eh nao a minha em particular mas essa grande
a vida
que se quer grande, entenda-se
nao sei entre varias linhas da vida o que se passou, como se tivesse estado ausente de episodios cruciais da vida dessa gente que um dia se disse meus amigos ou que me amava
entre todas essas merdas que saem pela boca das pessoas sem que algo dentro delas lhes diga que eh verdade relembro-lhes que nao precisam ter tudo
se tiverem o coracao de alguem nao precisam querer levar-lhe a alma mas assim o eh
quando as pessoas se alimentam de cliches, de palavras que viram num filme e de idealizacoes de coisas tao elaboradas e ao mesmo tempo tao, tao simples como o amor, a amizade, o fazer algo por
sem exigir
nao conseguiria jamais em tempo algum explicar o porque a quem nao queira ouvir e dai a minha tendencia maioritaria em me manter calado, aliada ao silencio imbecil e redutor das pessoas que o praticam
mandava-vos para a puta que vos pariu, mas estou certo que nao sera culpa da pessoa que vos tera trazido ao Mundo
diria-vos que fiquei sem panos quentes, ausente de paciencia e demasiado velho cedo demais para mastigar infantilidades
que me encontram se quiserem e como quiserem e no caso de nao quererem nao vos guardo rancor, sabendo que acabam sempre por deslizar da minha mente e do meu tempo, tal eh esta coisa de finalmente ter uma vida
diria que em mil coisas sou melhor que voces, em outras pior
que a melhor sera aceitar a diferenca e abraca-la com o fascinio infantil que provoca em mim, como se ainda existissem coisas magicas no Mundo
nao pretendo que algum dia a vossa forma seja a minha
mas afinal de contas relembro que as palavras efectivamente leva-as o vento e aqui onde estou
a brisa sopra sempre forte

5.6.08

Stars

Pinta o Mundo com os teus olhos
diria que de sonhador os meus, a vislumbrar o deslizar lento das nuvens no céu que me acompanham por dias a fio
por noites inteiras cá fora no banco de jardim que tenho em casa, as mangas compridas a protegerem-me as mãos do frio e sim, um cigarro como companhia a quem deixou de fumar há dois anos e meio
em cada brilho de cada estrela sinto-me pequeno, a atirar-lhes os meus sonhos e desejos, a perguntar-lhes como reflexo de mim mesmo o que falta aos meus dias, tal por vezes a sensação de perto e branco que me preenche
não precisas perguntar o que sabes, mas efectivamente acaba por ser o que te perguntas vez e vez sem conta
ou o porquê das atitudes incompreensíveis com que te deparas. Porquê?
a altura não vai dos pés à cabeça, vai dos sonhos à vontade de os realizar, quem me disser o contrário ou está a mentir ou não vive no mesmo Mundo que eu
definitivamente muita gente não vive no mesmo que eu
toda a gente?
entre cada suspirar de fumo deixo para trás algumas notas soltas que anoto em papel branco ou incolor, por vezes a tinta, por outras a sorrisos amargos ou amargurados pelo tempo
no lugar que me repousa só eu e ele sabemos o que sinto, o que penso
o que digo para mim mesmo
vezes e vezes sem conta
os dias têm esta capacidade assustadora de serem infinitamente longos ou, de tão deliciosos, incompreensivelmente curtos
votaria para sempre em dias curtos, muitos dias curtos
uma eternidade de dias curtos
ao invés estou preso nos dias longos a contemplar um qualquer céu num qualquer lugar onde esteja a desejar as mesmas coisas de sempre, a ter os mesmos sonhos que tinha e a mesma linha que, acredito, ainda me faz alguém bom no seu Ser
senão que não seja, que seja o que quem quer que seja quiser
mas nunca deixarei de ser eu mesmo
onde quer que esteja, o Mundo tem sempre o mesmo tamanho, daqui até às estrelas

22.5.08

No Ceu

Lugar onde sou ninguem
deixando de parte os olhares vazios que contemplam quem nao sou por momentos tao breves quanto os que parecem memorias de um simples suspiro
as coisas que se guardam na mente, as que se guardam no coracao
ao esbater estes pensamentos na parede, ela branca e eu cinzento, as arvores la fora ja perderam a cor e o ceu parece-me palido a convidar a pairar um momento nos seus proprios pensamentos como se de alguem se tratasse
que nao trata
de alguma forma achamos que nos pertence
sempre nosso, azul ou cinzento, a influenciar o nosso humor e condicionar os nossos dias, testemunha de todas as nossas vivencias e das dos outros
nao e dos outros, e nosso apenas
pois foi debaixo dele que nascemos, crescemos, sonhamos, amamos e inevitavelmente morreremos
tal como o mar, a brisa, a geada que nos gela as costas em determinadas noites e os sons que parecem trazidos pelo espaco apenas para nos os ouvirmos
eu aqui
neste pedaco de terra que poderia ter um qualquer outro nome, apenas terra, chao, ar em volta, verde em redor e a brisa, o ceu, todos eles minhas testemunhas
das minhas vivencias
dos meus sonhos, dos meus dias e noites com estrelas mil a lembrar-me o quao pequeno sou, por momentos
por momentos eu aqui, apenas momentos
a medida que o dia se arrasta para o proximo sem que me de um descanso, uma pausa
presumiria ser assim feliz com a brisa fria que me beija ao de leve a pele
presumiria eu mil coisas
nao fora faltar como sempre falta
algo mais

2.5.08

Apenas Palavras

Apenas
com uma noite la fora e estrelas sob as nossas cabecas como se de um mero tecto com uma misera lampada se tratasse, tal a trivialidade de coisas assim que remetemos para o esquecimento ate que olhamos para cima
eu aqui, cadeira com cinco pernas no chao, uma das quais minha ao passo que a outra cruzada sob o tampo de outra e a partilhar espacos com o que esta la fora a chamar-me
tu ai, quem quer que sejas de nome ou rosto que te de, quer te conheca a pele ou nao, ainda que me remeta sempre a lugares que me sao comuns para me justificar pelas ausencias que sinto mais que na pele
na alma
por nao ter um desafio a altura que me fizesse ponderar, querer deixar tudo a correr para parte incerta ou lugar algum apenas para, mesmo que no caso de falhar, de errar dizer um dia
fi-lo
quantas vezes poderas na vida ter a oportunidade de dizer que fizeste tudo por algo ou por alguem se sabes que ao mentires a ti, pior que ao Mundo, a ti
nao o fizeste e te refugiaste em espacos pequenos, meias desculpas e em espelhos concavos que reflectem quem nao es apenas porque te e mais conveniente ver outrem
nunca estarei a altura dos meus sonhos porque os deixo voar
tu, estaras a altura do quer que seja se nem para cima olhas?

22.4.08

Pormenores na Hora do Cha

Gostava que visses em mim o que vejo.
As notas suspensas no ar das musicas que me levam a lugares onde fui feliz e permanece parte de mim a se-lo mesmo que eu tenha continuado rapidamente sem, aparentemente, olhar para tras.
Gostava de sentir o que sentes.
Se sentir efectivamente existe como um lugar que mora no peito onde paredes sao desenhos de desejos e telhados de vidro onde o ceu mora sempre presente com estrelas vividas de noites de Verao que tambem elas se fizeram passar algures no tempo.
Queria-te dizer a que cheira o ar. O olhar para a direita primeiro ao atravessar a rua ou as formas diferentes de gostar das pessoas daqui. O humor que se diz inteligente. Os passaros de cores que nunca vi ou os esquilos que moram na minha arvore e nas outras que vejo quando vou passear o cao.
A comida e o aroma, o sabor. Os lugares para os quais me remeto quando algo nao esta certo e permanece inerte.
As cores das paredes do meu quarto e o feitio de tudo o que me rodeia, os meus sonhos antes de adormecer e os que me invadem depois de me deixar ir.
Tenho lugares em mim onde escrevo tudo, desenho e pinto ao detalhe os dias da minha vida. Lugares belos com vida propria mas sem que sejam visistados que eu repare.
Podia estar enganado, mas afinal quantas vezes me consigo enganar a mim mesmo?

21.4.08

Wilderness Lounge

Havia finalmente caido a noite
por entre as nuvens altas que tentavam esconder uma lua ofuscante caminhava por estas ruas ordenadas onde o verdejante alberga uma imensidao de animais que a maioria de nos apenas ve na televisao ou em livros caso nao estejamos habituados a viajar para estas paragens
acordo cedo e vou passear o Simba, o boxer de seis meses ca de casa e a sua incessante energia que contrasta com a minha calmaria nestes ultimos dias, propiciada por acordares ao canto de passaros e coisas semelhantes
entre melros, corvos e esquilos a ocasional raposa ou cria de veado
nao sei quanto aos restantes, mas a mim viver num lugar como este da-me uma sensacao de paz
a 10 minutos de um dos maiores aeroportos do Mundo que me alberga como base encontro este lugar equilibrado onde pessoas coexistem com a natureza tentando estraga-la o minimo possivel
Nas ultimas semanas houve tanta coisa que mudou
entre a partida dos meus amigos para lugares como Paris, Berlim ou a nao tao glamorosa Liverpool, foi um regresso a encontrar o meu espaco e os meus silencios povoados com coisas diferentes, pessoas diferentes e certamente atitudes diferentes para com a vida
no primeiro Mundo como lhe chamam de onde venho, os correios funcionam da noite para o dia, os carros andam depressa mas com menos acidentes, as pessoas raramente sorriem e optam antes pelo politicamente correcto
no lugar do Mundo que ocupo a comida eh diferente, os nomes sao diferentes e ate por vezes nos mesmos acabamos por nos notar diferentes em todas as circunstancias que nos rodeiam e na nossa adaptabilidade para com elas
tenho mais saudades de algumas pessoas do que me atreva a mencionar mas sem que isso afecte o meu dia-a-dia ja habituado longamente a coisas assim
circunstancias
ao virar de cada esquina seria bom por uma vez encontrar uma cara conhecida e a impossibilidade de tal nem sempre se revela como negra mas como um conforto relaxante que me permite funcionar entre os demais sem percas de tempo, paciencia ou qualquer outra desculpa que me desvie a mente de um isolamento temporario
que tem de mais perseguirmos objectivos e alcanca-los se tao repentinamente estamos a tracar novas montanhas para escalar?
faz-nos sentir vivos, enriquece-nos e engrandece-nos sem duvida
mas quantas vezes pesamos as coisas vendo o que ganhamos mas efectivamente o que perdemos para aqui chegar?

8.4.08

Directa e Intensamente

Faz semanas e esta primeira etapa de larga escala no fim
em plena loucura escrevo palavras ao inves de me embeber no sentimento de partilha que reveste o ar e as atitudes dos meus novos amigos
populamos o ar com som deveras alto a desafiar a paciencia dos restantes hospedes deste hotel perdido em plena Inglaterra
a Elaine explica como se usam as ancas para dancar enquanto o Joe ja todo desgracado de uma noite bem longa se ri para mim sem ter palavra que dizer
a Nicola bebe o seu tinto como sempre e o tipo Frances e a miuda nova nao dizem coisa com coisa
acabamos de vir de uma das mais longas noites
hoje jantei num lugar onde bebi vinho Portugues e comi frango assado a fazer lembrar o da Guia
hoje dancei Salsa e outras coisas mais ao ponto de nao saber bem o que se passa com as miudas porque a dada altura me vi levado por corredores e atirado contra a parede por mais que uma vez e a ouvir coisas que julguei, sinceramente, nao vir a ouvir hoje ou num tempo tao cedo tal a minha caracteristica distancia a distanciar-me dos restantes mortais
garanto que vida esta tao pouca gente tem ou sequer pensa ser possivel ter enquanto uma ao meu colo lambe a lingua da outra e que dizer enquanto eu bem sei que nem vale a pena descrever uma vida que esta para alem de conceitos ou preconceitos
vale a pena vive-la e aprender a vive-la acima de tudo
podia quase dizer que seria uma das melhores noites de sempre, nao fosse o sentimento que ainda ninguem teve nocao de dar por ele, dado que sera inevitavel pensar que estamos assim porque sera a ultima oportunidade de assim estar
na que sera sempre a irrepetivel sequencia de momentos vividos a qual chamamos
irrepetiveis
ou simplesmente viver
intesamente!

16.3.08

Pedaços de Céu

Daqui a horas já não estarei
sem dramas, choros, apertos por demais no peito que me leva pelo Mundo
terei deixado as minhas gotas de céu para procurar outras que já conheço levemente
muitas outras mais que tenho ainda curiosidade em conhecer
uma quase-ansiedade que me percorre ao de leve o corpo
ao dar os primeiros passos num caminho longo existem vários tipos de pessoas
seremos então confrontados com a pessoa que somos
todos os medos e receios mesquinhos são - ou devem efectivamente ser - postos de lado e por-nos-ão todas as falhas à prova
os amigos, deixemos-lhes um sorriso de um "até já", certos que estaremos da nossa contínua vontade de os revermos em pessoa o mais rapidamente possível
a família, essa que é minha e que me dá todo o céu para voar é a que me pesa mais no lastro ou na dita bagagem que digo levar para além da física, permitida nos seus míseros 20kg por uma qualquer companhia de aviação
todo o dito lastro que levo comigo pesaria mais do que qualquer máquina poderia transportar
sem que me pese efectivamente
ausente de distracções que me façam crer que o caminho que tomei não é o indicado
chego a este dia com várias certezas que não tinha até aqui, com provas de pessoas que ainda não se tinham provado e com o fortalecimento de relações que já sabia serem inabaláveis
infelizmente é tarde e tenho de deixar as teclas e também infelizmente ficam várias coisas por dizer a várias pessoas mas sendo o Mundo hoje tão pequeno, as distâncias são relativas e custam mais as que temos dentro do que as que o Mundo impõe fora
eu estarei sempre à distância a que me entenderem colocar
vou ter saudades de tudo mas vou só ali ao lado momentâneamente ver um diferente pedaço de céu,
volto já...!

14.3.08

Pequeno Lugar

Neste pequeno lugar
cores esbatidas, tons de pele pálidos cansados por noites dormidas em insuficiência
sonhos de lugares e pessoas distantes que são em suma um passado pintado em cores fantásticas que ninguém viu passar
únicos transeuntes ao exterior da janela perdem o olhar na vastidão de coisa alguma tanto quanto eu na delas sem lugar predilecto onde me perder
mantenho o passo imóvel no lugar de quem pretende ser achado sabendo que tão raramente existem coincidências entre o que pretendemos e o que a realidade nos atira
estava em crer por momentos que podia mudar o Mundo e pintá-lo com cores tão melhores que as originais
sorrisos tão mais rasgados que os que o rosto permite
gargalhadas mais sonoras e momentos simplesmente
puramente
mais perfeitos ou únicos
os mesmos que guardo no mais triste dos sorrisos que me apertam os olhos a caminho de quase pensar que tudo vale a pena quando se quer mesmo muito e que tudo é possível
excepto o que é mera ilusão
algures em mim todos estes lugares a entrar
enclausurados a sete chaves de caminho complexo imerso em setas e indicações que apontam aos lugares errados
algures lá fora, tu que não vejo meio de me achares e saberes enfim o que sou e do que me trato eu e eu saber de que te tratas tu
de ouvires o grito mudo, abrires os olhos para o farol, seguires o aroma ou quiçá se nenhum outro cliché serve
seguires o que sentes


Um dia Feliz seguido de muitos outros

5.3.08

Distâncias Incalculáveis

Dentro de mim planícies, céus azuis gigantes que obrigam a cabeça a girar sobre o corpo e mesmo assim desfeitos nós de pequenos com a incomportável imensidão que nos esmaga o peito
como se pequenos fôramos que somos
algures dentro de mim ainda a luz acesa na cabeceira até tarde quando o Sol já quase a nascer e o corpo a desistir por não poder mais
os olhos negros e cavados de exaustão a pousarem no outro lado que tão vasto e desarmante
por vezes sonho que ainda lá estou e que ainda existe esse lugar perfeito e sereno onde não se busca nem se poderá presumir querer mais
acordo para esta realidade todos os dias em que não vejo quem me queira ver e que não troco olhares com quem insiste em me fitar os olhos que salvaguardo como só meus
nestes dias de Sol brilhante ou chuva intensa está sempre mau tempo lá fora pois nunca me é convidativo juntar-me aos demais se não os reconheço como iguais
neste Mundo onde chamo companhia à insanidade, ansiedade e outras dades que minhas, reflete-se acerca da vida e da morte, do tempo e do que leva com ele, da memória e do quão ilusória ela se tece
de folhas de papel que não seguem uma ordem específica e de fotos que ficam guardadas para mais tarde ver
de móveis empoeirados e de coisas empacotadas que guardo em lugar a esquecer
não sei quem são vocês olhos que me olham ou ao que vos pretendo demonstrar
se seguirão a linha como eu a escrevo ou conseguirão ver para além dela
não há um Mundo nem uma realidade
há um precipitar de existências às quais assistimos, nas quais participamos e das quais retiramos um eu constantemente renovado, enriquecido
a cada dia da vida que passa, maiores distâncias se tecem sobre o hoje e o anteontem ao lugar de os tornar completa e irremediavelmente irreconhecíveis
pois se há quem diga que para sempres não existem
digo eu que sim
irreconhecíveis, para sempre!

1.3.08

"Essa História Não é Tua"

Ultimamente tem-me confrontado a ideia e palavras alheias de que ando
estranho, distante, diferente
etiquetas catalogantes de personalidade que se sente cada vez mais em fase de mudança e se por um lado aparentemente egoísta,
por outro lado que não tão sobejamente demonstrado, imensamente acessível para quem saiba procurar ou como procurar
aprazia-me ser capaz de explicar a pessoas porque não lhes respondo às mensagens no telefone, porque raramente lhes telefono se de todo, porque paira o meu nome no MSN e me esqueço dele Online dias a fio passando por criatura ignóbil e arrogante
que sou, entenda-se
estava indeciso entre apontar a parvoíce de algumas amigas de merda que tenho que saberão sempre procurar-me quando precisarem de algo ou de amigos que sabendo que me vou embora para os ver ainda menos do que já sucede, usam sempre as mesmas velhas, gastas desculpas para se excusarem a fazer algo
ainda estou à espera do grupo de amigos que se mete num carro comigo e vai almoçar a Itália
não hoje claro, mas uns dias depois
ou quem sabe simplesmente ir curtir a noite a Barcelona
assim e exaustivamente da inércia das minhas amizades que imensamente prezo em salas com sofás, televisores ligados ao canto e uma garrafa de whisky ou bacardi em cima da mesa
faz-me falta a parte do viver e de me sentir inspirado por pessoas que me superem em diversos aspectos constantemente
viver por ser surpreendido e para ser surpreendido, não é no fundo o que todos buscamos?
quantas vezes nos dispersámos da busca para cair no comodismo de dias previsíveis seguidos de programas de televisão e silêncios mais que ocos nas salas em que... vivemos
ou dizemos viver
não sou melhor que ninguém nem jamais terei a ambição de me comparar nesses parâmetros com quem quer que seja
a perspectiva de melhor e pior é uma redundância, uma relativização pessoal e mutável pois quantas pessoas supostamente piores que eu levaram a melhor em situações a fio
enquanto o suposto valor é sucessiva e injustamente ostracizado para dar lugar a coisas importantes
tipo o que oferecer pelo Natal, as vezes que se vai ao ginásio para ter melhor abdominal que o vizinho, o tipo que tem um descapotável ou o telemóvel de última geração
o que vive um estilo de vida cool como parte integrante do teatrinho que faz à vida sem que se encontre o fio condutor entre a sua personalidade e o que faz
o quer que seja
não sou menos falível que ninguém, menos isento de culpas e defeitos mas sou tão pouco dado a hipocrisias que prefiro a minha companhia à da casualidade
àquelas coisas mágicas e teatrais a que se chamam vidas sem que lhes encontre qualquer semelhança
entre ficção
e realidade.

22.2.08

Well!...

As coisas só têm uma forma de ser
a delas
afinal que outra seria se não nos déssemos nós ao irrelevante trabalho da preocupação
como me esqueço de coisas que não recordo por opção
lembro-me eu sem recordar em momentos que pouso a vista no céu
tenho os anos a levar-me não sei bem para onde e eu impotente
a observar enquanto a vida me engole me suga para dentro de algo
como um cabelo a mergulhar na inevitabilidade do ralo
mas mais limpinho sem nojices
apenas as que o tempo se lembrar de impôr em mim e nos meus dias
no peso dos meus olhos e da alma que dizia o outro insustentável leveza
mas não, olhe que não caro amigo
a alma pesa mil corpos e mil Mundos e tal como o mais pesado avião
também ela consegue planar como se por milagre
milagre?
não, é apenas a sua forma de ser
que outra seria?
como eu e tu somos
bem.. convenhamos, há quem seja ser mais que outro sem que para isso nos esforcemos
sem que se trate de uma corrida pois convenhamos também
já estamos todos para lá da linha da meta ainda antes de pisar a partida
um dia deixo de ser e já sei
tanta coisa para dizer e outra para apontar em palavras escritas que não sei
nunca saberei se terei dito sequer tanto quanto gostaria mas é certo
enquanto tiver que escrever ficará sempre algo em falta
como portas que ficam entreabertas ou janelas por onde corre o ar
lugares onde ficamos porque sabemos que nos saberão lá encontrar
ninguém foge do que é porque não se foge de si próprio
é assim que as coisas são
de que outra forma seria?..

20.2.08

Clarividência II

Vinte de Fevereiro, duas e dezasseis
pelo já mil vezes dito peso nos olhos ou dedos já cansados que indefinidos pelas palavras que me possam fluir me enclausuro em sorriso irónico tenho que o escrever
Sininho tinha razão como tende sempre a ter nas suas análises ponderadas dos seus praticamente - desculpa dizer - trinta anos
ao colocarmos coisas preto no branco tendemos à noção da discrepância que existe entre o nosso ser, os que estão à altura daquilo que desejamos e aqueles que por algum motivo menos nobre ou simplesmente errado foram elevados ao estatuto
nada merecido de especiais
a vida que é de cada um para viver como bem entender ensina muitas coisas em comum a quem estiver aberto a aprendê-las e apreendê-las
todos erramos efectiva e constantemente
seremos sempre tentados a ocultar as nossas tendências em prol de um pouco de felicidade por muito artificial e efémera que esta possa ser
ao lembrar-me da conversa da Mogliana esta tarde não sei em que paralelo me considerei ao efectivamente concordar com tudo o que me disse e com o deprimente conhecimento que faço de mim neste momento da vida
estando próximo de muitos ao mesmo tempo que distante de todos
efectivamente distante
nesta distância que imponho entre mim e praticamente todos os restantes mortais vem-me à ideia um retiro necessário à efectiva aprendizagem de quem sou do que sou e do que quero
mais, do que preciso e mais ainda
do que não preciso
mas acima de tudo de me ocupar em demasia do que não me faz falta
num Mundo que nos mantém preocupados com o aspecto físico, com a roupa que vestimos, com o que comemos, com os carros que conduzimos e todas as mil e uma irrelevâncias que nos tendem apenas a entreter enquanto enriquecemos um qualquer imbecil até ao dia da nossa morte
resumiremos afinal a vida a quê?
a palavras específicas ditas em alturas específicas que como tão bem se diz
ao vento que as levou
a momentos que de tão rápido que passaram e de tão cliché parecem tão artificiais como ver um filme com mau enredo, maus actores e mau final?
ou viveremos afinal para encontrar aquela fatia do bolo de bolacha, aquela conversa que dura até ao raiar do dia, aquela refeição sem palavras, aquele pôr-do-sol na praia, aquela onda perfeita, a mão na água salgada, a pele morena, o sal nos lábios, a areia nos pés, a gargalhada geral no teu grupo de amigos, o abraço dos teus pais, o gato que te dorme ao colo, a cadela que te beija de alegria, a tarde de Sol que te dói no olhar, o adormecer com o barulho do mar, o acordar com o cheiro de quem se ama, o pousar o olhar apenas por momentos e sentir que se tem tudo
e que se é efectiva e finalmente ainda que por momentos que sejam e que perdurarão
feliz!

18.2.08

Clarividência

A vida que não é filme
ao faltar-lhe argumento ensaiado
realizador a passar perspectiva do Mundo
editor a cortar fora o que não importa e inclusive
público que ao cinema se desloque - ou ao site da esquina - para glorificar ou apupar a obra
fazer da vida uma obra
onde está a fita?
são duas e um quarto da madrugada
o sono consome-me os olhos mas poupa-me os dedos
que de tanto que anseiam escrever em ideias que tenho mantido embebidas ao longo de mais de uma semana não me compete a mim mais tentar
contê-los
chove a potes lá fora na madrugada
como em muitas outras que me lembro em que certamente menos apreensivo
menos cansado
menos só e menos imerso no fundo de um cadeirão ao qual chamar simplesmente um lugar onde te procuro
e nunca fazes por estar
ao não fazeres remeto-me ao silêncio observando
esperando que o título da música faça sentido ou se não
de todo até
que eventualmente me leve a desistir da ideia aceitando que
não tem de ser porque não tem de ser
ou uma qualquer outra forma simplista e circular de fechar uma questão sobre si mesma evitando assim dar-lhe um propósito, porque não?
que dirias tu ao apagares da parede o meu rosto enquanto os dias agora mais vazios e os sons mais distantes se apossavam de ti
eu algures empoeirado e derrotado a preto e branco de cores a esbaterem-se
lembrei-me que terias derramado uma lágrima ou esboçado pelo menos uma expressão apreensiva, zangada pela forma como cedi ao derrotismo do momento
como me perdi
terás pensado em mim e que faria de coisas que apenas coisas são?
respeitá-las-ia eu?
entre todas as coisas que nunca digo que só a mim competem pensar e saber talvez te surpreendesse
ora, talvez não!
de certa forma presumo que a surpresa exija de si mesma uma pré-disposição à partida
o que atiramos para o mais obscuro lugar de nós tem um propósito
matar de fome
deixar morrer
na incapacidade de virar o Mundo ao contrário
se todas as palavras que eu penso pudessem ser realmente escritas que escreveria eu?
ditas, que diria eu?
olhos nos olhos?
vivo imerso nesta questão de não ir além do que me limito a ser
demasiado tempo a limitar ser
limitando o ser
hoje vi ao vento
uma mão
a minha
será de pegar ou deixar que o vento a trespasse fazendo pairar
sozinha?

14.2.08

Destiny

Talvez nunca consiga encontrar entre um pequeno espaço deixado vazio por ponteiros de relógio um momento em que me peçam para ser eu mesmo
aberto e franco sem defesas ou muros inacessíveis de escalar
sem distâncias que não se possam jamais percorrer sem que tudo o resto sucumba e inevitavelmente se opte por desistir
por não valer a pena
talvez nunca partilhe pequenos fragmentos de coisas que penso, que sinto
que me fazem ser o efectivo ser que sou e que tão pouca se alguém
conseguiu efectivamente perceber
em suma não peço a compreensão mas aguardaria se de aguardar fosse
que me surpreendessem
de alguma forma mais eficaz, imprevisível certamente pois afinal de contas
quão imprevisível é ser-se humano para com alguém como eu?
podia dizer-te o que pensei naquelas horas dolorosas no quarto de hotel
no passeio que dei ontem à tarde com o meu Mocca quente na mão feito pequeno viciado que elegeu já outrora o seu principal pequeno prazer de outro lugar
sou um baú
onde guardo coisas, fragmentos como dizia, pequenos pensamentos que cabem em envelopes de simpatia onde o remetente por vezes está mas não tem morada para os quais enviar
se te magoar, magoas-me dez vezes mais e se te esquecer, não saberás quem sou
funcionamos assim, espécie dita humana que diz viver de amor e de sensibilidades, de sonhos e momentos vividos mas que com atitudes estraga todas esses
como dizer
pormenores
ao virar de cada esquina o que levaria eu efectivamente comigo para além do interminável copo de chocolate, leite e café quentes?
que atitude seria aquela minha constante que se mantém incessante de ignorar qualquer interesse por muito ténue que seja na minha pessoa
se para isso cá estarei eu
chegado ao ponto do tempo que passa não sei afinal que tanto mudou em mim de tão bom assim
não sei quem são vocês
esses pequenos rostos que criaram castelos imensos e deixaram apenas muralhas de pé
fossos intransponíveis, distâncias impercorríveis e no fundo a sensação
em pleno dia como este que admito
igual a qualquer outro
que afinal que é de tudo se tudo é em suma, em suma não
em vão?

Zero7, Destiny

4.2.08

Para Onde

São onze da manhã e chove lá fora
os vidros embaciados de mais um dia de Inverno que me vê levar a vida assim de olhos postos nos sonhos que tenho e cabisbaixo pelos que se me escaparam entre dedos
nos braços um pedaço da alma que tem seis cordas de extensão por um braço próprio à qual chamo
ela
a cada acorde que a chuva acompanha enquanto eu sentado em almofadas no chão do quarto e o incenso que queima lentamente não se ouve mais que o embate da água no telhado tanto quanto o dos meus pensamentos em mim mesmo
atrás a cama desfeita
como eu, em partes que não faço comentar em momento algum
chove muito?
nunca me usas nos teus olhos ou seria esperar em demasia que eu fora algo
se suspeito que um dia não sei se distante este peito me vai asfixiar irremediavelmente
sem que mais palavras me possam questionar os silêncios ou lugares onde me vislumbrem passar
se souberas que seria a última vez que me viste efectivamente
a que foi última vez
mudarias o que fosse ou culparias o Mundo como se ele feito de vontade própria para afastar vidas e deixar os olhos pousados em horizontes
à espera de barcos que partiram para longe navegar
longe
para nunca mais voltar

1.2.08

Passa a Mão Por Mim

Estou sentado à cadeira que
cada vez menos horas de cada vez menos dia de cada vez menos horas num dia
me posso sentar
tenho o Mundo a puxar-me pelos pés se lhe pedi tanto que o fizera por mim um dia o que não sucedeu por meros fracassos
hoje faltará menos que ontem em todos os sentidos se por vezes será vida que encaro
outras vezes medo que me morra quem sou
que te esqueça, que me esqueça e que o tempo e a distância separe a minha forma de ser de mim
soprando-a para longe como por vezes em ruas como as que percorri
o vento soprava as folhas do Inverno
há coisas tantas elas que só conto a mim mesmo na incompreensão em que me vitimizo sem pedir nada
esperar o quê?
não voltaria atrás agora
nisto, nisto tudo de dar um salto mas quão diferente
quão melhor ainda que igualmente ou mais assustador seria
dar um salto em companhia
levo todas estas coisas comigo em bagagem para me lembrarem quem sou sem que tenha tempo para o fazer
levo pedaços, imagens, momentos
ao vislumbrar os lugares onde tantas vezes passei direi para mim mesmo como tantas outras vezes se será a última vez que os verei assim
ou de todo
achas que ao passar perto não me lembrarei?
terias razão - não lembrarei
pois a partir do momento que acordar até dormir
sem que por vezes nem os meus sonhos me descansem
vou estar constantemente num lugar desses
onde a mão passa por mim

28.1.08

Sem / 100

Tenho um relógio igual ao teu
por várias partes da casa espalhado como se não bastassem o espelho ou a noção do Sol descendo o horizonte para o bréu se instalar
o tempo está a passar
entre todos os olhares que me fazem nenhum me encontra efectivamente como terão falhado talvez em todas as vezes a ti que por momentos desejaste certamente ser olhada como se nada mais no Mundo contasse
como se não procurasses mais relógios para saberes que tempo havia passado se quantas horas ou anos importassem em demasia que não
não importariam mais
as minhas horas não são as tuas horas nem as horas deles e delas que por aí dormem ou acordados bem ou mal em vidas partilhadas ou simplesmente solitárias
em milhares de entrelinhas encontrar-se-ia toda a bondade que escapa ao primeiro ou talvez segundo olhar
quem está a ver?
a olhar?

a lágrima que cai entre um sorriso no final de um filme romântico ou apenas o desespero em horas soltas acumuladas em afinal de contas
nada
emulação prévia de solidão ou o antecipar do que será morrer lentamente longe do Mundo que por puro capricho não se tem ou se evita ter
quem de seu justo e sano juízo arrastaria alguém para o cerne do furacão que é a vida de cada um e as suas excentricidades
loucuras
quem efectivamente as ama compreender?
existem estas qualidades todas que poderia enumerar acerca de cada pessoa que conheço e com quem vivi mais ou menos tempo
pessoas essas que defeitos também que não me compete a mim julgá-las se persigo tão veemente os meus defeitos e pecados para que talvez eu próprio possa ambicionar ser um pouco mais
um pouco
apenas um pouco melhor que ninguém em comparação senão comigo mesmo
por vezes eu em lugares e estas pessoas a atropelar-me a mente pelo que sorrio sem aparente motivo que não aqueles a que me prendo e com o fugaz sopro de quem desabafa uma ponta do Mundo
saberia eu efectivamente ser feliz sem escrever ou escrever sendo feliz
que é a felicidade senão uma desculpa para olhar para o lado e esquecer que o relógio
o tal é igual ao meu e ao teu
nunca pára
sabes que horas são?

26.1.08

Tarde em P, Noite em Mim

A meio desta tarde eu e P sentados em lugar que me sinto bem
onde o tempo pode atirar horas sobre o ombro e eu calma e solenemente embebido em pequenos prazeres que a só poucas pessoas dadas
se permitiriam degustar
num breve ápice entendo agora toda a questão do não poder funcionar se para essas pequenas coisas que eu sou é necessária uma sensibilidade que encontro e me fascina em muito
muito poucas pessoas
ao trocarmos impressões e experiências sobre conversa que não apelaria a quase ninguém pela complexidade e delicadeza do tema dei por mim feliz
honestamente e por momentos feliz por não me recordar da última vez que teria conversado assim
a dada medida deprimente
por extremo oposto emprego o termo "Bliss" e a leveza que a ele está inerentemente associada
pois P fez bem mais que vir de longe apenas para me ver e estar breves momentos comigo que foram em verdade dita coisa de três horas feitas minutos
P deu-me a serenidade num dos mais complexos dias dos últimos anos na mais complexa fase da minha existência
P é tão mais que uma amizade, um farol em noites de bréu que apesar da sua presumível fragilidade aguenta as vagas do mais forte Oceano
a P de quem tanto possa parecer distante
um beijo luminoso
ao que devolvido a paredes
constato pormenores que ditam a minha inexistência na ideia que
até os justos tendem a vergar a sua inerência às vicissitudes da ausência de carácter
que nunca se rendam à mesma como eu não me rendo
e daí quem ousou alguma vez dizer que algo justo existe
em mim

22.1.08

"Do you have the time?.."

Que caras existem para lá destes fios e luzes
esta conjectura de solidão ou simples procura de algo que nos leva por entre atalhos à próxima imagem, à próxima pessoa e a milhares de milhões de palavras por entre clichés e sem nada que não ar que agarrar
aprendendo enquanto o tempo rasga linhas no meu rosto para seu entretenimento
para meu desdém
os acordes dos que gosto de ouvir nos ouvidos fazendo chocar neurónios e arrepiando a pele que me vai do ombro ao cotovelo, do pescoço ao meio das costas
são nestas todas estas madrugadas a única companhia que concebo
solidão?
a solidão é apenas um termo que guardamos em sítios como este onde por vezes fechamos o Mundo lá fora do outro lado da janela
enquanto as caras que por nós passam se esforçam por aparentar sorrisos que não deles comprovados por cada vez que os olhos os traem
quem será alguém para me dizer o que é enfim essa artimanha de ser feliz?
não me predisponho a tal coisa enquanto o tempo corre por estes dias
sem desafios de ninguém que não os meus ou sem sonhos que não os meus restam-me tão poucas preocupações que não consigo sequer ocupar as insónias com algo actual
consensual
estaremos todos numa estação assim a fitar a linha que se estende até perder de vista
quando passará o próximo comboio que me leve para longe das luzes e fios
quem és tu?

19.1.08

Dreamland

They say you must face your fears and demons in order to leave them behind
to me that's pretty much a Saturday night in whatever place of the World I might be
literally and figurativelly speaking
I do find you in every piece of a broken smile and look as if I was chasing ghosts around though finding only echoes for company
echoes for company
that everyone tells you from any random early age that life's not easy and people are rude, cruel and pretty much will do what they can to fuck you up
it's ok
in a way you figure you and a strong character will make it in the way
but eventually you share your bed with these people
your food, your look, words, kisses, time
your life with these people
who are these people?
then for some time you'll feel just like waking up from a sweet dream into a nightmare you may call reality
mine's not so bad
far from being a nightmare though still a long shot to make it to dreamland
I've read these things about keeping your attitude
I figure I'm a grown up and I respect whichever attitudes people reserve to me
live with them, bare with them
different from accepting or swallowing them
you should know better now shouldn't you?
I've made myself unreachable and out of contact for some people
I'm still around for some others if they wish as I leave some things in the hands of fate - or whatever
as I truly believe that if it's important
if it's really important, right and has any meaning at all
something will happen
it never does and time's simply running out very, very quickly
I'll always have enough arguments for my stand as I'm sure you have for yours
though I'll always have a smile just for you as otherwise I would have never shared one second at all - as I haven't with many, many others
If it's special in any way, if it's beautiful in any order
the image seems to be fading out

18.1.08

Hem of Your Garmet



A ver, a ouvir e a OUVIR! ;)

16.1.08

Guerras

Tinha prometido a mim mesmo da outra vez
aqui há largos anos atrás
deixar-me de lamechices, pieguices e essas coisas que tanto me custaram
aquele tal passo em falso na direcção do abismo
olhos fechados na esperança que algo suportasse o meu peso evitando a expectativa da gravidade e consequente queda
a pior altura da minha existência
não só colocando em risco o meu orgulho e dignidade numa base praticamente diária como em frente a todos quanto me eram importantes
mais tarde fez o tempo questão de provar que não existem limites ao quanto podem ofender e esquartejar a nossa dignidade
ou tentar, pelo menos
nas mais penosas derrotas é possível sair de cabeça erguida contando que se tomem correctamente as restantes atitudes
aprendi nessa altura que os saltos de fé acabam muitas vezes neste mundo real
com um encontro brutal e inevitavelmente fatal contra a parede
não se enganem a pensar que alguém vos poderá socorrer e que muitos dos vossos supostos amigos estarão presentes para vos ajudar
quem não passou por tal não viveu
mais uma vez falamos do Mundo real e não de sintéticas adaptações literárias ou cinematográficas
romances enfim
aprende-se no entretanto a dizer basta
a tomar pequenas atitudes no sentido de manter os relacionamentos fluidos e constantes sem esquecer que algum dia alguém disse um sem-número de palavreado que só poderá ter pecado pela nossa atitude incrédula - agora tão justificada - sendo que as pessoas são capazes de dizer o quer que seja para defenderem os seus interesses
questões interessantes, as perspectivas
dois lados, duas razões
se por um lado há neste Mundo quem efectivamente acredite que o Amor, a Amizade e a Paixão são sentimentos puros que acorde
que se desengane
são Guerras
Batalhas incessantes e estratégias
movimentações de tropas e regra geral demonstrativas do pior que pode residir no nosso ser
quantas?
travo minhas num deserto por opção que não minha
para que lado soprou o vento hoje?


In the end, who gives a fuck?

14.1.08

Tempo em R

Nova segunda-feira
nova semana nova vida nova perspectiva das mesmas coisas
mesmas pessoas
lugares
enfim sem-número de clichés e gracejos meramente simpáticos com os quais definir situações inúmeras
vinha eu Sábado à noite por entre arranjar um lugar perto do Mercado da Ribeira onde um caroxo não me exigisse moeda pela minha capacidade de encostar dois pneus a um passeio quando me senti
estupidamente livre
mais que livre liberto de todas as mesquinhices que parecem tender saltar-me às cavalitas sem permissão
não era tarde de todo e concordei com R que encontrarmo-nos antes de jantar seria útil ao tempo porque convenhamos
tempo é coisa que a mim
pessoalmente
não me tem faltado de todo
isto para dizer que a relatividade do tempo depende apenas daquilo que o preenche
se de nadas consecutivos então o tempo é uma linha extensa e demorada
quando de companhias que têm essa peculiar capacidade de o fazer voar
tão curto parece o espaço de tempo que vai do meu acordar ao deitar
foi com essa última linha de pensamento que adormeci a noite passada
sem passados nem futuros
amarguras ou sonhos
apenas com a certeza que quando na companhia de R tudo à volta tem esta peculiar tendência de estar ali por estar
tanto quanto o tempo que ora está
ora não
por falar nisso reparei que no entretanto se jantou do melhor Sushi que já tive o prazer de saborear
enquanto revia as tuas palavras referentes a companhias que não alinham
encontrei o fio condutor que ali nos une
simples prazeres
há algo maior?

7.1.08

O Estreito Caminho

Afinal nunca gostei de simplicismos triviais
aquela mania de simplificar a complexidade de cada um passando assim por cima de questões importantes
pertinentes
como o querer conhecer o pior de cada um como um ponto de fascínio e começo e não colorindo um livro infantil achando que o Mundo são elefantes côr-de-rosa, nuvens amarelas e, quem sabe, um sol da côr que primeiro aprouver calhar em mão
diria eu que em dias estes últimos não haja um nexo
um pingo de bom-senso em meia dúzia de neurónios para presumir que as coisas terão muito mais conteúdo do que aquela folha de papel que a vida cola à cara de cada um sem nada escrito e da qual alguns fazem paisagem durante tempos e que tempos a fio
hoje quis ir para a praia artificial à noite
sulfagem do carro nos trinta graus, calções de banho e a toalha estendida no banco disse-te até que o baldinho para a areia só para colocar os pés
ironicamente
à beira da própria praia
há-de vir o dia em que as coisas simples passam a ser tão inacessíveis como sonhos e a própria existência de tão ténue talvez não tenha mais linhas por onde coser um retalho de si já tão gasto e rasgado que todos os seus pontos
ilegíveis a olho nú, sem nexo
isto ainda no aspecto dos amigos-fantasma e de outros que não sei que lhes chame se nome sequer lhes dê que não o que deles sei pelo que gostava um dia acordar e vinte trinta linhas escritas
o quer que seja de bom ou mau a assinalar uma posição
uma merda de um rasgo de vida e de atitude vindo de um coração ou de uma alma - alguém sabe a diferença? - e por momentos
só por momentos
a capacidade de ser surpreendido por uma vez
uma que fosse
é em ironias como esta de coisas pequenas que movem Universos e escapam ao mais comum - e porém também ao mais incomum - mortal que servem de argumento à minha neutralidade
só desta vez ao virar da página encontrar uma que não pertença lá fazendo esquecer todo o livro para uma história nova
diferente
não sei afinal que dispêndio de tempo este após este para ver tanto em tão pouco
esperar tanto de afinal o quê
desejar tanto o que não tenho
sem ao mesmo tempo desejar
ansiar apenas um conjunto de traços que levem de um Mundo ao outro
vejo o caminho
sem ninguém que o percorra

5.1.08

Por Cima do Ombro

Vou na ânsia do fechar a loja mais cedo que o habitual
diria que ontem cinco e meia madrugada a pico e o meu corpo dormente nas extremidades com a cabeça a mais do que o permitido sem vislumbrar um pensamento só
só um
que me trouxesse paz
o que tem de tão mal estar sereno e feliz pela dita felicidade
se seria de esperar que eu e logo eu quem
reagisse de forma previsível, infantil e deplorável?
quem sabe amargurando os meus dias
prometendo este Mundo e o outro?
mudando
soaria a quê?
já existiu uma altura em que sim
sem conseguir o que queria nem o que queria era o que podia querer
aprendi que o Mundo é feito de janelas
imensas
a minha tem uma cadeira apenas da qual vislumbro o Mundo
e Deus queira brevemente um Mundo do qual vislumbrarei uma cadeira
não duas
com todos estes imensos defeitos que sou eu
prefiro que me deixem em paz e em paz ser deixado se existem para me atormentar
não estou na disposição de levar cházinhos
quando tiver sede tratarei de os preparar
a cada atitude menos sensata cria-se um fosso que tem a largura de cada dia e uma distância que não posso precisar
a cada atitude esqueço um pouco mais de quem fui em dados momentos
esquecendo bocados de quem foste também
à distância a que cada um de nós coloca o outro é nessa medida que passam os dias
todos os dias
sem que se vislumbre sequer um olhar por cima do ombro
até ao dia em que deixa sequer de se ver
ao longe

2.1.08