5.3.08

Distâncias Incalculáveis

Dentro de mim planícies, céus azuis gigantes que obrigam a cabeça a girar sobre o corpo e mesmo assim desfeitos nós de pequenos com a incomportável imensidão que nos esmaga o peito
como se pequenos fôramos que somos
algures dentro de mim ainda a luz acesa na cabeceira até tarde quando o Sol já quase a nascer e o corpo a desistir por não poder mais
os olhos negros e cavados de exaustão a pousarem no outro lado que tão vasto e desarmante
por vezes sonho que ainda lá estou e que ainda existe esse lugar perfeito e sereno onde não se busca nem se poderá presumir querer mais
acordo para esta realidade todos os dias em que não vejo quem me queira ver e que não troco olhares com quem insiste em me fitar os olhos que salvaguardo como só meus
nestes dias de Sol brilhante ou chuva intensa está sempre mau tempo lá fora pois nunca me é convidativo juntar-me aos demais se não os reconheço como iguais
neste Mundo onde chamo companhia à insanidade, ansiedade e outras dades que minhas, reflete-se acerca da vida e da morte, do tempo e do que leva com ele, da memória e do quão ilusória ela se tece
de folhas de papel que não seguem uma ordem específica e de fotos que ficam guardadas para mais tarde ver
de móveis empoeirados e de coisas empacotadas que guardo em lugar a esquecer
não sei quem são vocês olhos que me olham ou ao que vos pretendo demonstrar
se seguirão a linha como eu a escrevo ou conseguirão ver para além dela
não há um Mundo nem uma realidade
há um precipitar de existências às quais assistimos, nas quais participamos e das quais retiramos um eu constantemente renovado, enriquecido
a cada dia da vida que passa, maiores distâncias se tecem sobre o hoje e o anteontem ao lugar de os tornar completa e irremediavelmente irreconhecíveis
pois se há quem diga que para sempres não existem
digo eu que sim
irreconhecíveis, para sempre!

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