23.8.08

Pormenores, Dissabores, Pormenores

Vinha esta manhã recordo vivamente
descer os 20.000 pés,
o piloto automático a corrigir por si a altitude para a pretendida
a imensa "montra" que é a de um cockpit e Lisboa ali
não só Lisboa
Carregado, Vila Franca de Xira, Alverca, Montijo, Lisboa, Sintra, Oeiras e as pontes que ligam alguns destes lugares
as pessoas que conheço ali em baixo a viver a sua vida
mais uma vez a aterrar em casa, lugar o qual não sei bem onde é apenas dizendo que fica algures no Planeta Terra
volto a deparar com pormenores e arrependo-me do que fiz ao tempo
mais um dejá-vu
dispender minutos da vida em coisas e pessoas que juro, tivesse eu tempo e dedicava-me a detestá-las
passandoa ignorar a ignóbil existência e a minha delicada fragilidade e inconveniente amabilidade em tê-las deixado passar um minuto de vida na minha companhia
assola-me de certa forma que a imbecilidade vive por detrás destes pares de olhos que ao fim ao cabo não lhes reconheço valor nenhum, nem tão pouco minimamente maior que qualquer pessoa sem carácter com que me cruze
enquanto o A319 fazia a sua última viragem sobre Lisboa e a primeira oficial me pedia para fotografar a aterragem lembrei-me que estava num lugar onde já não sou eu
outro
aparentemente as mesmas palavras e expressões, talvez algures as mesmas coisas boas
menos comodamente comodista, menos preocupado, menos a querer saber
deveria quem me conhece depreender que os pormenores são o meu deleite, onde me perco
onde me encontro e reconheço quem é quem
residem neles também a vulgaridade e a falta de imaginação
essas coisas que abomino, que te tornam absoluta e indubitavelmente vulgar
e eu
a querer por momentos ou eternamente gritar bem alto

obrigado, não me digam mais nada até morrer!

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