São onze da manhã e chove lá fora
os vidros embaciados de mais um dia de Inverno que me vê levar a vida assim de olhos postos nos sonhos que tenho e cabisbaixo pelos que se me escaparam entre dedos
nos braços um pedaço da alma que tem seis cordas de extensão por um braço próprio à qual chamo
ela
a cada acorde que a chuva acompanha enquanto eu sentado em almofadas no chão do quarto e o incenso que queima lentamente não se ouve mais que o embate da água no telhado tanto quanto o dos meus pensamentos em mim mesmo
atrás a cama desfeita
como eu, em partes que não faço comentar em momento algum
chove muito?
nunca me usas nos teus olhos ou seria esperar em demasia que eu fora algo
se suspeito que um dia não sei se distante este peito me vai asfixiar irremediavelmente
sem que mais palavras me possam questionar os silêncios ou lugares onde me vislumbrem passar
se souberas que seria a última vez que me viste efectivamente
a que foi última vez
mudarias o que fosse ou culparias o Mundo como se ele feito de vontade própria para afastar vidas e deixar os olhos pousados em horizontes
à espera de barcos que partiram para longe navegar
longe
para nunca mais voltar
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