20.2.08

Clarividência II

Vinte de Fevereiro, duas e dezasseis
pelo já mil vezes dito peso nos olhos ou dedos já cansados que indefinidos pelas palavras que me possam fluir me enclausuro em sorriso irónico tenho que o escrever
Sininho tinha razão como tende sempre a ter nas suas análises ponderadas dos seus praticamente - desculpa dizer - trinta anos
ao colocarmos coisas preto no branco tendemos à noção da discrepância que existe entre o nosso ser, os que estão à altura daquilo que desejamos e aqueles que por algum motivo menos nobre ou simplesmente errado foram elevados ao estatuto
nada merecido de especiais
a vida que é de cada um para viver como bem entender ensina muitas coisas em comum a quem estiver aberto a aprendê-las e apreendê-las
todos erramos efectiva e constantemente
seremos sempre tentados a ocultar as nossas tendências em prol de um pouco de felicidade por muito artificial e efémera que esta possa ser
ao lembrar-me da conversa da Mogliana esta tarde não sei em que paralelo me considerei ao efectivamente concordar com tudo o que me disse e com o deprimente conhecimento que faço de mim neste momento da vida
estando próximo de muitos ao mesmo tempo que distante de todos
efectivamente distante
nesta distância que imponho entre mim e praticamente todos os restantes mortais vem-me à ideia um retiro necessário à efectiva aprendizagem de quem sou do que sou e do que quero
mais, do que preciso e mais ainda
do que não preciso
mas acima de tudo de me ocupar em demasia do que não me faz falta
num Mundo que nos mantém preocupados com o aspecto físico, com a roupa que vestimos, com o que comemos, com os carros que conduzimos e todas as mil e uma irrelevâncias que nos tendem apenas a entreter enquanto enriquecemos um qualquer imbecil até ao dia da nossa morte
resumiremos afinal a vida a quê?
a palavras específicas ditas em alturas específicas que como tão bem se diz
ao vento que as levou
a momentos que de tão rápido que passaram e de tão cliché parecem tão artificiais como ver um filme com mau enredo, maus actores e mau final?
ou viveremos afinal para encontrar aquela fatia do bolo de bolacha, aquela conversa que dura até ao raiar do dia, aquela refeição sem palavras, aquele pôr-do-sol na praia, aquela onda perfeita, a mão na água salgada, a pele morena, o sal nos lábios, a areia nos pés, a gargalhada geral no teu grupo de amigos, o abraço dos teus pais, o gato que te dorme ao colo, a cadela que te beija de alegria, a tarde de Sol que te dói no olhar, o adormecer com o barulho do mar, o acordar com o cheiro de quem se ama, o pousar o olhar apenas por momentos e sentir que se tem tudo
e que se é efectiva e finalmente ainda que por momentos que sejam e que perdurarão
feliz!

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