7.1.08

O Estreito Caminho

Afinal nunca gostei de simplicismos triviais
aquela mania de simplificar a complexidade de cada um passando assim por cima de questões importantes
pertinentes
como o querer conhecer o pior de cada um como um ponto de fascínio e começo e não colorindo um livro infantil achando que o Mundo são elefantes côr-de-rosa, nuvens amarelas e, quem sabe, um sol da côr que primeiro aprouver calhar em mão
diria eu que em dias estes últimos não haja um nexo
um pingo de bom-senso em meia dúzia de neurónios para presumir que as coisas terão muito mais conteúdo do que aquela folha de papel que a vida cola à cara de cada um sem nada escrito e da qual alguns fazem paisagem durante tempos e que tempos a fio
hoje quis ir para a praia artificial à noite
sulfagem do carro nos trinta graus, calções de banho e a toalha estendida no banco disse-te até que o baldinho para a areia só para colocar os pés
ironicamente
à beira da própria praia
há-de vir o dia em que as coisas simples passam a ser tão inacessíveis como sonhos e a própria existência de tão ténue talvez não tenha mais linhas por onde coser um retalho de si já tão gasto e rasgado que todos os seus pontos
ilegíveis a olho nú, sem nexo
isto ainda no aspecto dos amigos-fantasma e de outros que não sei que lhes chame se nome sequer lhes dê que não o que deles sei pelo que gostava um dia acordar e vinte trinta linhas escritas
o quer que seja de bom ou mau a assinalar uma posição
uma merda de um rasgo de vida e de atitude vindo de um coração ou de uma alma - alguém sabe a diferença? - e por momentos
só por momentos
a capacidade de ser surpreendido por uma vez
uma que fosse
é em ironias como esta de coisas pequenas que movem Universos e escapam ao mais comum - e porém também ao mais incomum - mortal que servem de argumento à minha neutralidade
só desta vez ao virar da página encontrar uma que não pertença lá fazendo esquecer todo o livro para uma história nova
diferente
não sei afinal que dispêndio de tempo este após este para ver tanto em tão pouco
esperar tanto de afinal o quê
desejar tanto o que não tenho
sem ao mesmo tempo desejar
ansiar apenas um conjunto de traços que levem de um Mundo ao outro
vejo o caminho
sem ninguém que o percorra

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