30.11.07

Diluído

de certa forma parece que por vezes presumir
conheço-te
e mais um mau princípio
pudera querer mencionar certas coisas que sinto
pensadas a cada dia
não mais seria que um mal-agradecido arrogante
estranhas amizades estas que tenho
de que precisam hoje?
em que posso ser útil?
num destes dias a minha vida a tentar mudar o rumo radicalmente e o único comentário
o meu cachecol
não me choca
afasta-me para distâncias das quais não regresso
como se não reparasse em todo o ínfimo pormenor como das imagens
ou as malditas letras de músicas
afinal por quem me tomam?
repara
ter muito de bom numa personalidade
dose igual de muito mau
chamemos-lhe carácter
significa não perceber o envolvente?
uma ofensa à perspicácia e inteligência
alturas houve em que só queria ser feliz
alguém deitado a ver o céu comigo e poder ali fechar os olhos com um sorriso sem querer estar em qualquer outro lugar do Mundo ou da vida
continuo a querê-lo
buscá-lo em part-time
poderá efectivamente nunca surgir
a altura correcta
viver a minha vida nos meus pés tem destas coisas que surgem
ainda que não me identifique nada com praticamente todo o Mundo e seja muito suspeito
para falar em questões pertinentes
mas jamais para mim jogar baixo
não sou refém de carências
em troca só uma vez na vida vi darem o dito por não dito e soube
foi o dia mais intenso da minha vida
entretanto tudo o resto tem sido um passeio comparado com então
mais distante, mais frio
não quero saber ao mesmo tempo querendo tanto saber
a esta postura me obriga tudo
todos
de nada valha a bondade a quem não é bem-intencionado
de nada valha amar quem não quer ser amado
pode-se sempre optar entre viver na periferia
ou mais perto do que importa
cá dentro
quem consegue fazer a viagem?

29.11.07

The Great Gig In The Sky

Prelúdio de Um Princípio de Fim

e à medida que senti finalmente pousar terra senti por instantes apenas
nostalgias diversas
tudas as coisas e todas as pessoas quanto tinha deixado sem despedida formal
aromas e a magia de sorrisos que só posso classificar como
mágicos
maldigo da maldita beleza
dos sorrisos que penso e não me saem
de igual forma despeguei tanto mais será assim
sem aviso
terminado o rush quase instantâneo lembro que desejei tanto
tantas vezes
o sorriso ao lado comigo
mãos entrelaçadas
assim não sei se sorria se me feche a expressão
entrelaço na minha a minha mão
mais só do que no lugar onde me isolei
não sei
se mais de meio Mundo compreende
conversas de circunstância as quais acabo por trocar de tão bom-grado
por algo para ler ou ver
uma memória que seja
tem para troca?
há distâncias que não se fazem
muito protectores sejamos de nós próprios
distâncias às quais deixamos outros
tanto dito
que fazer à vida da vida portanto se não momentos
todos uns à distância dos outros
encurtá-las
mais cedo ou mais tarde
encurtá-las mais cedo
ou mais tarde

28.11.07

O Silêncio e Eu

Quantas vezes já ansiaste por um ouvido compreensivo
boca perspicaz
abraço certo no momento certo
a palavra exacta, certo que ainda entre silêncios, no momento certo
nunca para mim
irrelevante
dei o passo em frente e estou tão incerto que só me resta esta
ansiedade
leve suspeita de que na eventualidade de conseguir tudo o que quis
caia na suspeita essa mais firme de perder tanto melhor
teorizo que por vezes temos de dar dois passos atrás para dar um em frente
mas quantas pessoas efectivamente o fazem?
quantas estariam dispostas a sacrificar a felicidade ainda que duradoura para arriscarem
na incerteza
que tenha de ser assim diferente se é que diferente de todo
remorsos possa eu levar comigo se o silêncio me acompanha durante tanto tempo
companhia predilecta continuará comigo
até que se quine
ela
ou eu

27.11.07

Entre Frestas

Contei-as
às seis frestas que separam o meu olhar do céu estrelado
quem tanta vida tem que nem seis frestas possui quanto mais estrelas ou sequer céu
como pessoas que ignoram que as coisas belas estão lá independentemente do que achem delas
ignorando tudo o resto mas se forem de apreciar
certamente apreciando toda a atenção que lhes possam dispensar
que as frestas fossem pequenas e não permitissem o olhar captar o céu seria uma coisa
ter janela aberta para um imenso céu e preferir contemplar uma parede
mais criticável consoante o tal e criticável termo
ponto de vista
este fado que é meu de colocar tanta distância entre mim e os outros que só deles possa esperar o mesmo
distância
como frestas pequeninas, tão pequeninas que separam tanta coisa como um mero olhar de um imenso e eterno céu
quem disse que o céu era eterno?
conheci seres tão pertinentes que me confunde onde anda a sua mente
o seu coração ou até mesmo
a essência
começando agora não se busca mais não se dispende mais não se ousa querer mais
seis frestas
o que me separa do céu
podiam ser apenas cinco..

26.11.07

A Vida por que me Tomam

Relação estranha esta que tenho
com a vida
parece que ainda há minutos eu sentado no teatro e os actores que este país de melhor tem
o meu sorriso rasgado no rosto
as horas que voam
a Carolina diz
vem o nome dela no talão
disfarça
penso tardiamente enquanto a empregada passa sem ser impossível que não tenha ouvido
irrelevante
companhia para um Domingo sem a Carol teria sido missão quase impossível
já viste o Mundo em que vivo?
é nele que subsisto e persisto estar presente para os meus amigos
quem quer que sejam eles
raras ocasiões permitio-me companhia para café
para uma peça de teatro
ser original
será tão estupidamente impensável que te veja sempre?
por quem deverei ser portanto tomado
interrogo-me de olhos pousados na madeira gasta da secretária
não sei
por quem me tomo?
queres o próximo final de semana teu?
tendo tempo
é ele tudo o que posso dispender
a forma como nós pessoas nos afastamos sem dó nem piedade mete isso mesmo
dó que mereça piedade
por vezes considero-me merecedor disso

a vida é assim de certa e determinada forma
um conjunto de repetições e ecos cíclicos
de tanta gente que diz gostar de mim sem nunca se interrogar quem sou
por quem me tomo
afinal
por quem me tomam?

(as melhoras)

25.11.07

A Loucura e a Solidão

Gritava cada vez que zangado
pela rua evitava olhar nos olhos quem o olhava de relance
sabendo que dessa mesma forma evitaria qualquer contacto humano que pudesse trazer à sua vida todas essas coisas más
como compreensão
afecto
tempo dispendido
amizade
quem sabe amor
na sua casa grande e vazia de vida nem a dele contaria para aquecer o espaço que dividia o branco das paredes
há já muito que a casa não ouvia risos
paixão
prazer
a vida estava tão vazia quanto se lhe era permitida estar e ainda assim
sobreviver
toda a gente que poderia com ele estar nunca estava
por vontade própria havia-se escudado do Mundo
fechado numa torre de marfim sem propósito aparente de onde efectivamente mantinha algum contacto nada pessoal com toda a gente que lhe era
"próxima"
morreu num dia frio e passaram dias até que alguém que lhe
"próximo" desse pelo facto de na torre de marfim mais nenhuma luz se ter acendido
a casa que vazia de risos estava ficou assim
vazia de vida e sonhos

24.11.07

Eco?

Caem as últimas gotas de água quente, bem quente sobre o meu corpo gélido
de braços erguidos encostados à parede descanso assim a amargura no meu ser
lavando-me bem talvez me disponha mais a sorrir num destes frios dias de, ainda que não tecnicamente mais que praticamente
Inverno
Testas-me ou entregas-te à ideia que te dei?
se por um lado está tudo à distância de uma mão - aparentemente - por outro sinto que te devo o teu espaço e assim o faço
calo-me sossegado
nestes dias todos em que a minha companhia são os gatos que finalmente penso
conquistei o arisco
montanhas de lenços de papel acumulam-se porque sou assim
o frio dá cabo de mim
aquecedor torna-se tão trivial quanto a roupa que visto, aparentemente
insuficiente
preferia que chovesse a estar este gélido conjunto de dias que ainda agora principiaram mas creio que por momentos
fugia
sonhei de madrugada bem tardia que embarcaria para a Austrália
quase sem ter tempo de pensar ou decidir
ia
aos dias que pedi que pudessem ser sozinho mas não só falhou algo
falhei talvez eu como falho sempre
nunca ser o que de mim esperam, nunca estar à altura
enfim, nunca deixar de conseguir por este estigma ser perseguido
eu próprio
eu mesmo
enfim
eu

22.11.07

Felicidade

A forma distinta como uma distinta nota muda a nossa mood
ainda foi há coisa de dias que semanas parecem que diria de mim mesmo
até que me conheço
sem pensar duas vezes na baboseira que dizia para mim mesmo em jeito de me fazer acreditar que sim
que verdade
gosto efectivamente disto noutros parâmetros
o meu espaço, ser, lugar
diriam de mim más línguas que não se demoram efectivamente a conhecer-me
egoísta
diria eu que sim
egoísta com um coração do tamanho do Mundo
quem disse algum dia que o Mundo só tinha coisas belas e maravilhosas a mostrar?
muito fala e escreve todo o povinho acerca da felicidade
do amor e dessas coisas todas
quem diz que felicidade é amor e vice-versa?
a sério
quem no seu perfeito juízo mental associa uma coisa à outra e
pior que isso
acredita piamente na veracidade da afirmação?
efectivamente tenho todos os exemplos para não seguir com essa convicção
eu mesmo por vezes adorável criatura
tanto de distante e frio
mas não me minto ao dizer
a felicidade está presente em muitas, muitas coisas na nossa existência
o amor em algumas
por momentos que ambos os factores se cruzam é possível a ilusão que são indissociáveis
mas não
o amor é aquele querer mais que nós
mudar quem somos
sacrificar o quer que seja
deixar um Mundo pela incerteza de outro baseados "apenas" na nossa mais forte convicção
felicidade?
felicidade é o ar que respiro
a música que ouço
um café quente num dia de praia
o pôr-do-sol e a forma como pinta o céu
é a companhia que preenche os espaços vazios e se sobrepõe aos cheios
felicidade é olharmos para trás e sorrir
enquanto fazemos o mesmo olhando para a frente

prefiro estar sozinho a sentir-me só

21.11.07

Palminhas, bichinhos

21 de Novembro
escusado dizer que o clima está péssimo
pertinentemente sempre achei que falava do clima quem não tinha mais nada de que falar, sendo portanto a meu ver, a mais obtusa forma de "não-conversação" disponível naquilo que chamaremos de
interacção social
escrevia portanto eu que esta chuva não está com nada, aliado ao facto de, caso exista no Comité Olímpico uma oferta para colocar os Espirros como modalidade eu serei fervoroso apoiante e, certamente, candidato a representar a selecção nacional com o maior orgulho
voltei hoje a praticar judo depois de anos parado
estou feliz comigo mesmo
adiante
um mundo com Biliões de pessoas e a maior raridade do Planeta reside em conseguir ter uma conversa inteligente com um indivíduo e eu aqui a pensar que éramos todos
evoluídos
quando afinal talvez não passemos de macaquinhos depilados - o Tony Ramos pertence a outra categoria - que sabem carregar em botõezinhos de telemóveis, controlos remoto e, mal e porcamente, guiar um automóvel
escrevia portanto eu mero símio ligeiramente evoluído que me calha mal a capacidade não-comunicativa da megera geral
considerei tirar o tal curso de fotografia juntamente com o de escrita criativa
afinal de contas juntando as duas talvez dê para um trabalho artístico como o dos tipos que escrevem guiões para novelas ou os que trabalham no prestigiado cinema nacional
sim, falo dos tipos com a lanterna na mão
realizadores portugueses é coisa que simples e directamente dita - ou escrita, para os mais comichosos
não existe
assim como não existe em dose regular o bom-gosto, a educação, a falta de ridículo e mera concepção conceptual de conceitos (delicioso) de coisinhas que subsistem persistir existir (gosto)
um dia destes eu menos crítico
eu mais velho, menos interessante a quem quer que seja
provavelmente eu só
só eu
independentemente do destino que eu escolher ou que para mim fôr em parte escolhido
só existe algo do qual nunca poderei fugir ou esconder-me
eu mesmo

20.11.07

Music Knows Better



David Fonseca - Hold Still

19.11.07

Impasse essapmI

Igual a todas as noites
esta
um sorriso irónico de quem julga sempre que se irá deitar mais cedo para mais cedo erguer para sim, no dia seguinte
algo diferente
teia de condicionantes que faço por romper e por vezes
vontade de ir para a rua gritar
dizer a toda a gente tudo o que mereciam ouvir mas não
as atitudes ficam com quem as pratica
enquanto um Mundo de milhares atrás de monitores se escusa viver
por vezes entre os quais eu
já por vezes deambulo entre Mundos diferentes e onde te digo que tens razão
demasiado tempo para pensar e ouviria eu dizer
uma cabeça que pensa demais bloqueia o coração de sentir
desculpo-me nisso para ser mais pequeno
remeto-me às irresponsabilidades quotidianas porque convenhamos
quais são afinal as minhas responsabilidades?
mudar o meu Mundo para me mudar a mim para mudar o meu Mundo para
mudar a mim e creio não mentir
estou a fazê-lo
paciência
como tal, paciência que se me esgota
nunca o meu forte e digo
será amanhã que saio do bloqueio
nunca acontece por mais que o deseje e vejo-me quase virado
a alma quase quebrada e o Mundo a tentar
apenas a tentar
vergar-me mas não
não a mim que tal como diria ela
as árvores morrem de pé
sempre achei que não há verdade maior e apenas num Mundo justo seria de outra forma
num Mundo justo
não este
segunda-feira e nova semana
mais uma ou a primeira
de muitas diferentes?

18.11.07

Pertinências

um corpo
momentos no tempo
sorrisos e risos, uma nota de viola, o cheiro em volta do pescoço
cabelos no rosto, pele beijada, saliva quente, mãos frias
olhares cruzados, músicas alheias aos corações cantados
pontes e vento frio
mãos atadas, ironias
sei bem o quão inesquecíveis certos momentos são se logo eu que tantos fiz por esquecer outros passados
não me propus efectivamente a mudar a minha forma de ser e com isso abro a maior dificuldade no caminho
possuo o meu quê de adorável
difícil manter-me adorável duradouramente
entender que sou despegado de tudo é entender que consigo também ser despegado por largos momentos de tempo de qualquer pessoa que esteja na minha vida
clara como água para mim
como todos os dias em que não tenho amigos com quem beber um café nem procuro tê-los
uma fase, um lugar e tempos que não me fazem bem mas dos quais preciso ou nos quais me encarcerei,
como o viciado que não larga a sua dose ainda que esta o destrua
abrir a porta da cela não significa que dela corra para fora imediatamente
que é a vida a não ser uma prisão com um imenso conjunto de celas?
quando foi efectivamente a última vez que saíste ao jardim e viste o céu?
é desta forma tão surreal de persistir existir que falo e na qual me descrevo
cada momento feliz que tive
passam em constante rodapé e outros,
bem,
outros guardados em caixas como as que tenho algures numa gaveta que nunca abro até um dia
há sempre um dia enquanto os há e é num dia que assim sou
quatro estações do ano num dia, ventos frios ou um Sol confortante
dá jeito, se por momentos quiseres encarnar noutras coisas e pessoas, escrever, criar algo que possa ser catalogado como bom mas não
não dá jeito viver assim
um péssimo relações públicas e pior relações privadas
insatisfeito por natureza
auto-crítico (notou-se?)
comodista por natureza
por vezes a desculpa de que sou feliz em grande parte do dia esqueço-me
como tantas vezes antes esqueci
viver a minha vida,
sonhos,
ideais porque sei
que ideais? que sonhos?
tão bom viver os dos outros
uma lágrima, uma testa de olhar cerrado e um ritmo atípico no coração
sou eu
quem mais senão sempre
eu
de tão indefinido acabo por me tornar incapaz de ser definido na existência alheia?
que resta portanto oferecer que não palavras?
sentimentos, conforto, humor, amor talvez?
e para os encontrar em primeiro lugar
estes parecem só surgir quando estou efectivamente perdido ou efectivamente no início
esqueço-me dos entretantos
serei forçado por mim a emulá-los quando só, abandonado pela vida?
serei eu efectivamente frio, para quem a paixão é a tesão dos momentos, o desejo da carne, a saliva nos corpos e a alma serena no corpo exausto adormecer ao lado de alguém?
poderá disso ser feita a felicidade se quando tudo o que temos à volta é deserto?
recuso-me a tomar o caminho do risco com a desculpa de estar só
injusto para um, injusto para o outro
um daqueles crimes da alma que nos estragam
só é tudo o que de melhor sei ser
renovado em cada passo
sempre igual
não encontro em mim a coragem e forças para mudar e ser quem não sou
prisioneiro de quem efectivamente sou
lutar com tudo o que posso contra mim mesmo
efectivamente frio
onde estou eu
quem sou eu
acreditas mesmo?
eu?

17.11.07

You

Um copo
secretária, relógio, retrato, candeeiro
garrafa de água meio bebida meio ficar por beber, cinzeiro que não de meu uso, canetas diversas
monitor, teclado, computador
coisas
apenas coisas
mil delas que companhia nenhuma pudera eu na pior das hipóteses escolher o retrato como companhia momentânea para remissão à memória ou
o monitor
fotos diversas, momentos captados
ainda assim coisas
viver no Passado é coisa que se desaprende
melhor dizendo
aprende-se a deixar o Passado onde e com quem pertence, recordado de passagem por minutos apenas em alturas mais quietas que para isso se chamem
melancolias
inanimadas coisas que não me preenchem por momento algum o espaço que vai da minha distância à tua e da minha solidão feliz à tua
viveremos tempo que não me proponho adivinhar quanto se tão irrelevante fôr como coisas mas
se por momentos nós apenas nós
momentos apenas nossos por curtos que tenham que ser
todos eles inesquecíveis fosse eu desistir hoje, partir
como elogiar sem estabelecer comparações?
enaltecendo o quão único alguém é, maior que comparações
maior que a vida, maior que eu
tu

16.11.07

Will That Make It Right?

Nem sei que horas sinto
pelos olhos cansados costumo dizer sem saber
relógio pousado, ignorado
vivem dentro de mim estas coisas estes lugares
estes oceanos que agridem violentamente as rochas
céus azuis ou cinzentos e sem ninguém que se vislumbre
apenas ecos de sorrisos e coisas que não fazem sons mas nem por isso deixam de fazer sentido ouvi-las ocasionalmente
inclino-me perpendicularmente à janela e o meu reflexo
apenas temporário reflexo que todos temos
diz-me que o olhar que atiro pachorrentamente ao chão não me é estranho
já todos estivemos à janela dias a fio
meses
anos
uma vida inteira
tenho uma ou duas imagens absolutamente intactas de nitidez inabalável que fazem parecer que ainda lá estou neste preciso momento
hoje onde quer que estivesse nos muitos lugares que percorri fisicamente
em todos eles estava nessas quatro paredes
as velas acesas, o ar quente, os olhares que não se largavam
sorri porque sei que não sei se voltarei a ter tudo isso
sorri porque seja como fôr
há momentos que não nos roubam jamais e que nunca a tristeza ou a melancolia suplantarão
o desagarrado olhar que duas pessoas partilharam por um momento
já mencionei antes que a vida é apenas isso?
um momento

"kiss me, kiss me, will that make things right?"

14.11.07

O Bairro do Amor

vinte mil receitas para se ser feliz escondidas em frases-cliché dos mais diversos tamanhos e feitios
sorriso sarcástico para ir ao encontro desse lugar-comum
dirias que cáustico
corrosivo
três da tarde e eu num lugar familiar comum fora de portas dentro de outras
entre o sumo de abacaxi brasileiro
gostei do especifismo
brasileiro
a já familiar tosta da qual como metade enquanto se divaga entre uma qualquer tragédia
o meu bom é muito bom e o meu mau é muito bom diz quem está e nem é por aí
acima de tudo respeito e honestidade
para os dias de Sol todos saem, para a festa todos prontos
venha ameaça de chuva ou seja hora de arrumar e fogem todos
cobardes de merda
como eu devoto apático sentimental
cáustico-corrosivo
perigo de morte, de queimaduras severas da alma e de inegável mudança na direcção do vento que sopra na vida
mais que tanto mais esqueci-me que tinha um passado porque ando tão obtusamente focado com o presente que por vezes esqueço até que tenho um futuro
o que eu quiser a uma mão de distância
não sei o que quero e até lá vou querendo o que tenho
vou sentado deixando crescer o pelinho para que me passem sobre ele a mão e eu finja que deixo usando o mesmo sorriso sarcástico com que brindo as frases feitas
uso-o também para atitudes feitas
lugar-comum
"quando os ventos não são a meu favor
sou eu quem tem de virar"

13.11.07

01 - Who are u?.mp3

A estrada que tantas vezes fiz a caminho de casa
a tal bala que vem e me leva
e não sei
porque por breves momentos se de pena de mim se do que está em risco mordi o lábio para não molhar o rosto olhos abaixo
sempre o cuidado para preservar não sei bem que vida esta,
se me parece que a tão conheces melhor que eu
sabes? melhor que eu!?
por quanto tempo mesmo e quão forte terei ainda que ser,
talvez iniciar
as tais inúmeras questões que fiz ao espelho madrugada dentro longe do leito e eu,
sempre eu, não?
entre os flashes dos dias que tantos parecem que passámos e as coisas que vivemos que tão poucas efectivamente ainda não dei rosto ao que me apraz fugir
a passo, sem correr
sem mentir
quero-te mas temo-te
temo-me, se a mim mesmo me pergunto
who are u?

8.11.07

O Limbo

Batem-se-me os olhos agudos e pertinentes na hora que passa
sempre a mesma diria alguém que não está
estando eu apenas ainda em voltas com o limbo em que me deixaste suspenso
céu e inferno
encontro-me a desmontar cada peça de mim em busca do significado de todas as incertezas que sou, desde sempre habituado ao intermédio
entre algo e algo
céu e inferno, ódio e amor, sorrisos e lágrimas, dias cinzentos e dias de Sol
acima de tudo dá-me prazer a vida se é que não me chamarias de imediato à atenção
masoquista sentimental
tanto quanto sádico por vezes, se tanto prazer me dá que ainda que por momentos consiga fazer alguém ver as coisas da minha
perspectiva?
sorri pela razão que tens como ninguém ousou ter antes e longe de mim, bem longe
ver-me complexo se simples apenas
monótono, talvez
como aquele brinquedo todo giro, último grito da moda que vai bem com tudo até fartar brincar e algo diferente surgir
surge sempre, sempre algo diferente
daí que o limbo
só entrando no Inferno resgato algo novo em mim e fazendo continuamente a viagem que separa Céu e Inferno conseguirei ser sempre alguém novo, algo mais que eu
melhor que eu
bem melhor que eu, certamente
ironicamente nunca melhor que tu presumo pois a tão pouco tempo que separa o meu cheiro do teu só me resta sorrir às incertezas que dizes que tenho e eu sorrindo
acredito em ti mais que em mim
de longe
batem-me os olhos esses sim já cansados mas pertinentes na hora que passa
sempre a mesma diria alguém que já não está
e faz-me bem voltar assim ao limbo do incerto que é acordar cada dia
pois cada dia é efectivamente um limbo
de incertezas e novas descobertas
a permitirem que sejamos sempre algo mais
alguém novo
alguém melhor

7.11.07

A rush of blood

Aperta um pouco mais o vestido e digo-te onde não te favorece
e imediatamente o levantar de uma sobrancelha e um olhar fuzilante entre a minha direcção e não sei
o cabelo assim poisado sobre os ombros bela visão
como se entre as tiras que te atravessam a pele das costas vivesse o privilégio de tas ver assim por uma noite que seja e eu assim sensaborão encostado como um miúdo de dez anos a olhar a vitrine dos brinquedos
apenas mais perdido
sei que o que melhor te fica é o olhar e qual deles independentemente de qualquer vestimenta para a qual tenhas deslizado e já te estava para dizer
que os meus dedos deslizam na tua pele sem a autonomia de parar
impliquei sempre com quem vende a pele ao Mundo sem preferirem esperar que um apenas que nesses dias semanas meses ou anos o Mundo e as olhe assim
de nada serve a pele se não pudermos ver quem nos espreita com os olhos a sonhar cada centímetro e a boca aguardando cada toque e vejam
vejam se me entendem
quanto mais ligados, mais desligados
as tiras até ao umbigo e eu mão na testa que nem suor se apenas usando o sorriso mais sacana de quem sabe que não tens por onde fugir ainda que por momentos com o olhar
vou-te fugir mas não vais
não comento aromas pois eles são feitos de olhos fechados para nos vermos ao longe e em quartos onde a luz não entra saber exactamente onde repousas o corpo exausto
não te consigo dizer porque é tão importante tudo até à tua sombra que para todo o lugar te segue se entenderes
que esta e essa pele como este e esse coração que batem debaixo do peito um dia cansados e exaustos se rendem às inevitabilidades
enquanto isso
volta para o pé da janela e desliza novamente até mim como se tivéssemos todo o tempo do Mundo e todo o Mundo fosse a distância que vai da tua pele
à minha

5.11.07

A Divina Comédia

Presumo que seja difícil estar mal-disposto em dias de Novembro que se assemelham a uma tardia Primavera a fazer pensar que as estações serão agora três primordiais
Primavera-Verão-Primavera-Inverno
sendo a Primavera estação substituta do Outono ou, se houvesse justiça o Inverno daria lugar ao Outono e todos diriam
Aquecimento Global!!!

vi por aí um dia destes a ideia de que tiro fotografias belas que captam algo de bom e mágico das coisas e das pessoas e penso
um dia vou ser beatificado
toda a mediocridade consegue ter traços de beleza se os soubermos ver e vejo que divagar não é mais que um passeio num jardim florido com árvores e estruturas muito velhas às quais chamo
mente

preversamente e com o mais cínico dos sorrisos diria que não faz mal que me usem se para isso contribuir para a felicidade alheia mas minto
não quero ser usado ou abusado
persistir ser feliz, tendo apenas como lema não cometer os mesmos erros do passado e jamais
jamais
considerar belo o medíocre que tem apenas uma ou duas ténues linhas que para isso nos desviem o olhar
jamais tamanha divina comédia

4.11.07

Superstars II




Em G C D
(Intro whistle)
Your heart is broken, and you don’t seem to mind
I guess it happened a little too many times, too many times
You try and you got tired, those long a brighten stories
You weald a fire right under the snow
D
They don’t they don’t
C D
How could they really know
They don’t

D C
They don’t know how it really feels
D C
They’re just on holidays
D C
Like dummies filling landscapes
D Em
How could they see you cry?
C D
Do you remember me?
C D
I was the one that held you through
C D G
I held a spot light when you did that crazy dance
C G
Dance with you
C G
I felt like superstars do
C G
Me and you

We're just like superstars

(Intro whistle)

I was around you
You couldn’t really tell
I held you close while
While you drove, you just drove into hell
You know!
A kind of hurt that burns
A light that loves you blind
And while your feet go
They go deeper in the sand
You wave and drown
You rave to the crown that says

But they don’t know how really feels
They’re just here on holidays
Like dummies filling landscapes
How could they see you cry?
Do you remember me?
I was the one that held you through
I held a spot light when you did that crazy dance with me
Yeah you did that crazy dance
You did that crazy dance with me

You did that crazy dance, You did that crazy dance, You did that crazy dance, You did that crazy dance, You did that crazy dance, You did that crazy dance, You did that crazy dance

Coz they don’t know how it feels
They’re just here on holidays
Like dummies filling landscapes
How could they see us cry?
Do you remember me?
I was the one that held you through
I held a spot light when you did that crazy dance to me
As I dance whith you
I felt like superstars do
Me and you
We felt like superstars
Me and you
Me and you

3.11.07

Secret Smile

Vejo por entre papéis com notas que tomei
o telefone ainda com a tua mensagem pendente, por responder ao momento em que o corpo atirado aos lençóis
eu cansado de olhos pesados e o nariz tapado, culpei-te a ti por comodismo em jeito de graça como voltaria a repetir a noite do David mil outras noites que queria
juro que quero
nunca mais acabe
de tão frio de emoção que me quedava a cada virar de esquina ou a cada telefonema extraviado encontrei-te
encontrei-te
apetece-me gritar que te encontrei
com todos os pequenos pormenores do teu falar ao sotaque de formas mil que te poderia descrever pormenorizadamente quem tu és e o porquê deste gostar
mas adio, adio
adio para o dia que ao lado, bem mais perto, não tão distante o dia, certamente nada distante eu e
a porta sempre aberta e o acordar de dentadas no peito ao pequeno-almoço ao som de bossa ou qualquer outro impressionante que desencantas só para mim
eram já teus mas de manhã são desencantados só para mim
juro-te que a cabeça à roda e eu a sorrir feito parvo deitado na cama e tu nem no quarto porque foste ver da Leonor ou da roupa
entregue aos meus pensamentos que pensava ter perdido se nunca os tinha de facto achado
quem sou eu?
quem és tu?
virado por cada momento deixei de ter pressa porque não és um entretanto mas um destino seja lá o que um destino fôr se na pior das hipóteses
lar ao que chamo desse lugar
incomoda-te se me desdobrar em mil da mesma forma que te imagino reler em voz alta
o sorriso doce rasgado e os olhos que cerram com ele e eu juro que
eu juro que
tão doce que parecia mentira se o olhar matasse diriam ao fundo
morreu feliz
indiscritível se não tivesse tantas tantas tantas palavras para descrever tudo em certos momentos chamados inspirados mas não me atrevo a descrever o que é em demasia meu
teu
nosso
dentro deste espaço é a nossa vida e por nossa digo nossa em órbita comum
não te digo mais nada hoje para o caso de amanhã me faltarem as palavras
quedo-me a descrever em linhas imensas o que um simples rasgar do teu sorriso anularia só com o simples acto de
sorrir

1.11.07

Who Are U?

A sensatez é a arma dos fortes
ler-se-ia num qualquer livro de frases inventadas se pudera eu fazer parte de um desses
vendido a euro, euro e meio entre mil outros irrelevantes amontoados de páginas colectânizadas para entre mil outros tipos com mil outras frases me fazer sentir de certa forma
especial
carece-me a relação directa entre a glória e o sentir-me especial
se especial me sinto por cada sorriso que te provoco ou cada aquecer dos dias que mesmo à distância não esmorecem a sexta-feira à noite e "Who Are U?" onde juro juro
nada me faltou se nem eu mesmo era ou havia sido alguma vez assim
sentir-me de cima a baixo como totalmente imerso em algo que desconhecera e que só por arrogância e mera ilusão ter-me dado como imerso em algo que sequer se assemelhasse em altura qualquer que fôra
quatro dias preenchem este espaço que é o Presente em ânsia contida de quatro dias mais quatro mil
porque não?
saber que nada volta a ser igual é igualmente compensador quanto assustador, pela imprevisibilidade de todos os factores a que chamamos vida
tão imerso
soltei todas as amarras, ler-se-ia num qualquer blog de frases feitas, e segui o meu caminho
diria eu que me soltei dos meus preconceitos e dos meus medos e lutando contra os mesmos de forma valente, persegui certezas que bem podiam ser incertas mas esta coisa que temos, esta vontade incessante de sermos mais e melhores
esta vontade
encontro-a em ti
só em ti