30.9.07

A Poesia Não Compra a Felicidade


A tosse seca que me persegue há dias.
Os pensamentos que preenchem toda e qualquer hora vazia - várias - que tenha ao longo do penoso fim-de-semana que passo enclausurado entre o mau tempo e as quatro paredes.
As conversas repetidas, repetidas, repetidas, sons repetidos, repetidos à exaustão que outrora me principiou a loucura e eu, tão desnorteado ou talvez apenas desligado não ligo, não quero saber.
Faltou a luz, felizmente antes de me propôr a escrever o que fosse e o Mundo parou a olhar para uma caixa à espera que se acendesse novamente onde vinte e dois mentecaptos perseguiam uma bola.
Mais, bem mais conseguiram estar eles os seus mais de dez minutos calados, insonoros quase ao ponto de se me ouvirem os pensamentos do ridículo a que chegámos em toda esta insensata barreira que criamos para nos distanciarmos.

Seria de prever que aos vinte e seis tivesse muito para mostrar.
Uma grande casa minha, um grande carro meu, uma grande conta bancária e uma carrada de outras grandes coisas nenhumas, mas não tenho.
Sonho ter, ambiciono ter bem como ambicionava em pequeno ser jogador do Benfica que vi hoje jogar, mas nunca tentei efectivamente.
Sem tentar não se alcança, ainda que haja tanto Mundo por aí fora que tanto tem sem tentar outra coisa que não lixarem-se uns aos outros para conseguir as tais importâncias de que se vive.

Actualmente vivo nesta ilha, de palmeiras altas que dão boa sombra durante a tarde e onde as casas grandes, tais como os carros e as merdas todas importantes que os fashions têm e mostram - que mais têm a mostrar que não coisas? - são coisas que não fazem sentido pois não são práticas. São o extremo oposto de práticas. Ridículas e despropositadas.
Vivo na eminência de ter de deixar a ilha para perseguir a tal vida. As tais coisas "importantes" para que mais tarde possa ser feliz.
Para que tenha dinheiro para sair, para me divertir, para rir várias vezes nos mais variados restaurantes e locais de consumo. Para umas férias por catálogo, para um carro confortável e sumptuoso, para comprar coisas giras à cara-metade. Para a comprar a ela, que nunca me deixe quando eu, velho, gordo e acabado a tenha como garantida pois dependerá de mim a sua subsistência.

É em tudo isto que anseio não me tornar.
Mais uma sombra, com imagem cuidada, sorriso brilhante e olhos já sem brilho a quem o tempo levou toda a alegria infantil de viver.
Uma caricatura minha, em parte semelhante mas que já não escreve por não ter tempo. Que ri de vez em quando se não exausto de tanto trabalhar para o próximo patamar que me permita comprar aquela coisa "um bocadinho melhor".
Ainda assim o dinheiro resolveria mil problemas e ter-me-ia livrado de outros.

Os poéticos diriam que o dinheiro não traz felicidade mas lá está, qual é o verdadeiro poeta que é rico e feliz?..

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