27.9.07

Orgulhosamente Sós


Já alguma vez te propuseste escutar o silêncio?
A ensurdecedora forma como nos apercebemos da nossa existência, pulmões que enchem e esvaziam, os ouvidos que zumbem na ausência de som, os olhos que, no mais bréu da noite nada conseguem ver, o bater do teu coração a bombear o sangue através do teu corpo?

E tu, já te propuseste ver-te à distância numa "big picture" de acontecimentos?
Ou tudo o que tiras dos dias são pensamentos e palavras alheias de quem te diz querer bem mas que conveniente é querer-te quando tudo está bem ou menos mal?

O cinismo da vida reside em primeiro lugar, na incapacidade da maioria reconhecer os seus defeitos e limitações e, em segundo, mesmo que assumindo o primeiro, entender que corre o inevitável risco de esbarrar nos defeitos e limitações não assumidas dos outros.

Somos cínicos, é verdade.
Não somos criados como seres honestos, directos, frontais. Que aceitem as ditas "críticas construtivas" ( "eu até aceito críticas, desde que construtivas.." diz-se à boca cheia).
Quem são afinal os outros para nos criticarem se nem nós perdemos um único segundo que seja num só momento silencioso a fazê-lo?

Fracos.
Preferimos perder o Mundo, a felicidade, o amor, a amizade, o quer que seja para manter erguida a pirâmide que é o nosso orgulho, tão sumptuosa como inútil que nos é em dias que passamos a vislumbrar o horizonte sem ter com quem o partilhar.
Que em dias mais frios e cinzentos vindouros, já velhos, mirrados e desinteressantes nos valerá então esse dito orgulho, gélido mármore que é na essência do nosso ser.

Ser orgulhoso em demasia é como ser jovem. Dado a ser algo estúpido, infantil e irrelevante na "big picture" que é a vida.
É perder oportunidades para tomar as atitudes correctas e grandiosas que, essas sim, perdurarão como a lenha que se mantém acesa e quente nos dias mais frios que estarão para vir.

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