28.1.08

Sem / 100

Tenho um relógio igual ao teu
por várias partes da casa espalhado como se não bastassem o espelho ou a noção do Sol descendo o horizonte para o bréu se instalar
o tempo está a passar
entre todos os olhares que me fazem nenhum me encontra efectivamente como terão falhado talvez em todas as vezes a ti que por momentos desejaste certamente ser olhada como se nada mais no Mundo contasse
como se não procurasses mais relógios para saberes que tempo havia passado se quantas horas ou anos importassem em demasia que não
não importariam mais
as minhas horas não são as tuas horas nem as horas deles e delas que por aí dormem ou acordados bem ou mal em vidas partilhadas ou simplesmente solitárias
em milhares de entrelinhas encontrar-se-ia toda a bondade que escapa ao primeiro ou talvez segundo olhar
quem está a ver?
a olhar?

a lágrima que cai entre um sorriso no final de um filme romântico ou apenas o desespero em horas soltas acumuladas em afinal de contas
nada
emulação prévia de solidão ou o antecipar do que será morrer lentamente longe do Mundo que por puro capricho não se tem ou se evita ter
quem de seu justo e sano juízo arrastaria alguém para o cerne do furacão que é a vida de cada um e as suas excentricidades
loucuras
quem efectivamente as ama compreender?
existem estas qualidades todas que poderia enumerar acerca de cada pessoa que conheço e com quem vivi mais ou menos tempo
pessoas essas que defeitos também que não me compete a mim julgá-las se persigo tão veemente os meus defeitos e pecados para que talvez eu próprio possa ambicionar ser um pouco mais
um pouco
apenas um pouco melhor que ninguém em comparação senão comigo mesmo
por vezes eu em lugares e estas pessoas a atropelar-me a mente pelo que sorrio sem aparente motivo que não aqueles a que me prendo e com o fugaz sopro de quem desabafa uma ponta do Mundo
saberia eu efectivamente ser feliz sem escrever ou escrever sendo feliz
que é a felicidade senão uma desculpa para olhar para o lado e esquecer que o relógio
o tal é igual ao meu e ao teu
nunca pára
sabes que horas são?

26.1.08

Tarde em P, Noite em Mim

A meio desta tarde eu e P sentados em lugar que me sinto bem
onde o tempo pode atirar horas sobre o ombro e eu calma e solenemente embebido em pequenos prazeres que a só poucas pessoas dadas
se permitiriam degustar
num breve ápice entendo agora toda a questão do não poder funcionar se para essas pequenas coisas que eu sou é necessária uma sensibilidade que encontro e me fascina em muito
muito poucas pessoas
ao trocarmos impressões e experiências sobre conversa que não apelaria a quase ninguém pela complexidade e delicadeza do tema dei por mim feliz
honestamente e por momentos feliz por não me recordar da última vez que teria conversado assim
a dada medida deprimente
por extremo oposto emprego o termo "Bliss" e a leveza que a ele está inerentemente associada
pois P fez bem mais que vir de longe apenas para me ver e estar breves momentos comigo que foram em verdade dita coisa de três horas feitas minutos
P deu-me a serenidade num dos mais complexos dias dos últimos anos na mais complexa fase da minha existência
P é tão mais que uma amizade, um farol em noites de bréu que apesar da sua presumível fragilidade aguenta as vagas do mais forte Oceano
a P de quem tanto possa parecer distante
um beijo luminoso
ao que devolvido a paredes
constato pormenores que ditam a minha inexistência na ideia que
até os justos tendem a vergar a sua inerência às vicissitudes da ausência de carácter
que nunca se rendam à mesma como eu não me rendo
e daí quem ousou alguma vez dizer que algo justo existe
em mim

22.1.08

"Do you have the time?.."

Que caras existem para lá destes fios e luzes
esta conjectura de solidão ou simples procura de algo que nos leva por entre atalhos à próxima imagem, à próxima pessoa e a milhares de milhões de palavras por entre clichés e sem nada que não ar que agarrar
aprendendo enquanto o tempo rasga linhas no meu rosto para seu entretenimento
para meu desdém
os acordes dos que gosto de ouvir nos ouvidos fazendo chocar neurónios e arrepiando a pele que me vai do ombro ao cotovelo, do pescoço ao meio das costas
são nestas todas estas madrugadas a única companhia que concebo
solidão?
a solidão é apenas um termo que guardamos em sítios como este onde por vezes fechamos o Mundo lá fora do outro lado da janela
enquanto as caras que por nós passam se esforçam por aparentar sorrisos que não deles comprovados por cada vez que os olhos os traem
quem será alguém para me dizer o que é enfim essa artimanha de ser feliz?
não me predisponho a tal coisa enquanto o tempo corre por estes dias
sem desafios de ninguém que não os meus ou sem sonhos que não os meus restam-me tão poucas preocupações que não consigo sequer ocupar as insónias com algo actual
consensual
estaremos todos numa estação assim a fitar a linha que se estende até perder de vista
quando passará o próximo comboio que me leve para longe das luzes e fios
quem és tu?

19.1.08

Dreamland

They say you must face your fears and demons in order to leave them behind
to me that's pretty much a Saturday night in whatever place of the World I might be
literally and figurativelly speaking
I do find you in every piece of a broken smile and look as if I was chasing ghosts around though finding only echoes for company
echoes for company
that everyone tells you from any random early age that life's not easy and people are rude, cruel and pretty much will do what they can to fuck you up
it's ok
in a way you figure you and a strong character will make it in the way
but eventually you share your bed with these people
your food, your look, words, kisses, time
your life with these people
who are these people?
then for some time you'll feel just like waking up from a sweet dream into a nightmare you may call reality
mine's not so bad
far from being a nightmare though still a long shot to make it to dreamland
I've read these things about keeping your attitude
I figure I'm a grown up and I respect whichever attitudes people reserve to me
live with them, bare with them
different from accepting or swallowing them
you should know better now shouldn't you?
I've made myself unreachable and out of contact for some people
I'm still around for some others if they wish as I leave some things in the hands of fate - or whatever
as I truly believe that if it's important
if it's really important, right and has any meaning at all
something will happen
it never does and time's simply running out very, very quickly
I'll always have enough arguments for my stand as I'm sure you have for yours
though I'll always have a smile just for you as otherwise I would have never shared one second at all - as I haven't with many, many others
If it's special in any way, if it's beautiful in any order
the image seems to be fading out

18.1.08

Hem of Your Garmet



A ver, a ouvir e a OUVIR! ;)

16.1.08

Guerras

Tinha prometido a mim mesmo da outra vez
aqui há largos anos atrás
deixar-me de lamechices, pieguices e essas coisas que tanto me custaram
aquele tal passo em falso na direcção do abismo
olhos fechados na esperança que algo suportasse o meu peso evitando a expectativa da gravidade e consequente queda
a pior altura da minha existência
não só colocando em risco o meu orgulho e dignidade numa base praticamente diária como em frente a todos quanto me eram importantes
mais tarde fez o tempo questão de provar que não existem limites ao quanto podem ofender e esquartejar a nossa dignidade
ou tentar, pelo menos
nas mais penosas derrotas é possível sair de cabeça erguida contando que se tomem correctamente as restantes atitudes
aprendi nessa altura que os saltos de fé acabam muitas vezes neste mundo real
com um encontro brutal e inevitavelmente fatal contra a parede
não se enganem a pensar que alguém vos poderá socorrer e que muitos dos vossos supostos amigos estarão presentes para vos ajudar
quem não passou por tal não viveu
mais uma vez falamos do Mundo real e não de sintéticas adaptações literárias ou cinematográficas
romances enfim
aprende-se no entretanto a dizer basta
a tomar pequenas atitudes no sentido de manter os relacionamentos fluidos e constantes sem esquecer que algum dia alguém disse um sem-número de palavreado que só poderá ter pecado pela nossa atitude incrédula - agora tão justificada - sendo que as pessoas são capazes de dizer o quer que seja para defenderem os seus interesses
questões interessantes, as perspectivas
dois lados, duas razões
se por um lado há neste Mundo quem efectivamente acredite que o Amor, a Amizade e a Paixão são sentimentos puros que acorde
que se desengane
são Guerras
Batalhas incessantes e estratégias
movimentações de tropas e regra geral demonstrativas do pior que pode residir no nosso ser
quantas?
travo minhas num deserto por opção que não minha
para que lado soprou o vento hoje?


In the end, who gives a fuck?

14.1.08

Tempo em R

Nova segunda-feira
nova semana nova vida nova perspectiva das mesmas coisas
mesmas pessoas
lugares
enfim sem-número de clichés e gracejos meramente simpáticos com os quais definir situações inúmeras
vinha eu Sábado à noite por entre arranjar um lugar perto do Mercado da Ribeira onde um caroxo não me exigisse moeda pela minha capacidade de encostar dois pneus a um passeio quando me senti
estupidamente livre
mais que livre liberto de todas as mesquinhices que parecem tender saltar-me às cavalitas sem permissão
não era tarde de todo e concordei com R que encontrarmo-nos antes de jantar seria útil ao tempo porque convenhamos
tempo é coisa que a mim
pessoalmente
não me tem faltado de todo
isto para dizer que a relatividade do tempo depende apenas daquilo que o preenche
se de nadas consecutivos então o tempo é uma linha extensa e demorada
quando de companhias que têm essa peculiar capacidade de o fazer voar
tão curto parece o espaço de tempo que vai do meu acordar ao deitar
foi com essa última linha de pensamento que adormeci a noite passada
sem passados nem futuros
amarguras ou sonhos
apenas com a certeza que quando na companhia de R tudo à volta tem esta peculiar tendência de estar ali por estar
tanto quanto o tempo que ora está
ora não
por falar nisso reparei que no entretanto se jantou do melhor Sushi que já tive o prazer de saborear
enquanto revia as tuas palavras referentes a companhias que não alinham
encontrei o fio condutor que ali nos une
simples prazeres
há algo maior?

7.1.08

O Estreito Caminho

Afinal nunca gostei de simplicismos triviais
aquela mania de simplificar a complexidade de cada um passando assim por cima de questões importantes
pertinentes
como o querer conhecer o pior de cada um como um ponto de fascínio e começo e não colorindo um livro infantil achando que o Mundo são elefantes côr-de-rosa, nuvens amarelas e, quem sabe, um sol da côr que primeiro aprouver calhar em mão
diria eu que em dias estes últimos não haja um nexo
um pingo de bom-senso em meia dúzia de neurónios para presumir que as coisas terão muito mais conteúdo do que aquela folha de papel que a vida cola à cara de cada um sem nada escrito e da qual alguns fazem paisagem durante tempos e que tempos a fio
hoje quis ir para a praia artificial à noite
sulfagem do carro nos trinta graus, calções de banho e a toalha estendida no banco disse-te até que o baldinho para a areia só para colocar os pés
ironicamente
à beira da própria praia
há-de vir o dia em que as coisas simples passam a ser tão inacessíveis como sonhos e a própria existência de tão ténue talvez não tenha mais linhas por onde coser um retalho de si já tão gasto e rasgado que todos os seus pontos
ilegíveis a olho nú, sem nexo
isto ainda no aspecto dos amigos-fantasma e de outros que não sei que lhes chame se nome sequer lhes dê que não o que deles sei pelo que gostava um dia acordar e vinte trinta linhas escritas
o quer que seja de bom ou mau a assinalar uma posição
uma merda de um rasgo de vida e de atitude vindo de um coração ou de uma alma - alguém sabe a diferença? - e por momentos
só por momentos
a capacidade de ser surpreendido por uma vez
uma que fosse
é em ironias como esta de coisas pequenas que movem Universos e escapam ao mais comum - e porém também ao mais incomum - mortal que servem de argumento à minha neutralidade
só desta vez ao virar da página encontrar uma que não pertença lá fazendo esquecer todo o livro para uma história nova
diferente
não sei afinal que dispêndio de tempo este após este para ver tanto em tão pouco
esperar tanto de afinal o quê
desejar tanto o que não tenho
sem ao mesmo tempo desejar
ansiar apenas um conjunto de traços que levem de um Mundo ao outro
vejo o caminho
sem ninguém que o percorra

5.1.08

Por Cima do Ombro

Vou na ânsia do fechar a loja mais cedo que o habitual
diria que ontem cinco e meia madrugada a pico e o meu corpo dormente nas extremidades com a cabeça a mais do que o permitido sem vislumbrar um pensamento só
só um
que me trouxesse paz
o que tem de tão mal estar sereno e feliz pela dita felicidade
se seria de esperar que eu e logo eu quem
reagisse de forma previsível, infantil e deplorável?
quem sabe amargurando os meus dias
prometendo este Mundo e o outro?
mudando
soaria a quê?
já existiu uma altura em que sim
sem conseguir o que queria nem o que queria era o que podia querer
aprendi que o Mundo é feito de janelas
imensas
a minha tem uma cadeira apenas da qual vislumbro o Mundo
e Deus queira brevemente um Mundo do qual vislumbrarei uma cadeira
não duas
com todos estes imensos defeitos que sou eu
prefiro que me deixem em paz e em paz ser deixado se existem para me atormentar
não estou na disposição de levar cházinhos
quando tiver sede tratarei de os preparar
a cada atitude menos sensata cria-se um fosso que tem a largura de cada dia e uma distância que não posso precisar
a cada atitude esqueço um pouco mais de quem fui em dados momentos
esquecendo bocados de quem foste também
à distância a que cada um de nós coloca o outro é nessa medida que passam os dias
todos os dias
sem que se vislumbre sequer um olhar por cima do ombro
até ao dia em que deixa sequer de se ver
ao longe

2.1.08