26.2.11

Aguarda

Saudades,
sem te sentir o sabor e o peso dos pensamentos nos meus braços,
nos olhos pesados que me levam a noite,
a anterior mal dormida, essa
saudades
sem sentir o quer que seja em anestesia quase terminal,
como quem aguarda o alívio de parar de respirar por fim,
para assim, por fim, ser libertado
ainda assim preso a sonhos mil, anseios
a coisas e gente que me escapam como areia por entre os dedos,
estes meus
que não te tocam mas sentem tocar, pensam tocar, anseiam e sonham e assim,
irrigados por tudo isso o demais
vão vivendo e escrevendo,
debitando às palavras aquilo que me vai na alma hoje admito, cansada
destas velhas guerras, de velhos nadas, de lutar mais um bocadinho, resistir
contra marés e ventos que me assolam sem que as tenha provocado
aguardo deitar a cabeça na almofada e em pleno
drifting
sonhar que existe lá fora para mim um lugar melhor,
onde só eu sei que se pode estar, sentir, ficar
um lugar assim que só alguém como eu,
só eu
um dia me propus a sonhar

E com isto acordo em Londres, adormeço em Barcelona para ali novamente acordar. Novamente em Londres adormeço e não, em lugar algum destes pertenço..

24.2.11

Catalá

Ainda hoje em Barcelona,
amanhã igual
as horas a correrem atrás de nem sei bem o quê e noites tenho que acordo a meio delas para despertar um bocado,
o pensamento preso num qualquer vórtice que me leva algo,
ou não mo devolve por uma noite que seja
Prendo-me nas palavras das pessoas que leio,
visitando sem lhes dizer
a mais fashion de todas,
a mais descritiva de todas,
o melhor amigo,
o melhor amigo,
o melhor amigo,
esse conceito infantil o de o melhor,
sabidos quem são, a diferença que fazem no nosso cerne em dias assim, longos
bons dias mas longos
senti naquele lugar a vontade que ainda me move e moverá sem tardar
a pertença a que não conseguimos evitar sentir,
ainda que nos falte tudo o demais,
que nos tenhamos a nós
nem que seja por momentos, entre noites de temporária insónia

20.2.11

"Sunday Morning, Rain is Falling"

Apraz pensar o que uma miúda escrevia ontem, citando directamente
a internet destrói as nossas vidas
se destrói não sei, mas tende a deixá-las mais vazias e preenchidas por companhias em formato digital,
heranças de vinyl
ao deixarmos mais de sentir o ar fresco na cara, de ver as estrelas no céu lá fora e deixar que o Sol queime,
ainda que lentamente pois é Fevereiro e ele escondido,
a nossa pele,
tendemos a ser mais máquina e menos humano,
para mim e para muitos, esta necessidade que se prende em hibernar, fechar as quatro paredes com o wi-fi e uma janela para lado algum preenchem mais espaços do que me proponho a descrever
ligam-me ainda a sítios onde sei ser feliz,
abundando os motivos e tempo sempre que lhes toco com os pés,
com as companhias reais, carne e osso que se lhe associam
não proponho um ode de ódio ao Mundo digital mas sim,
descontrolado destrói, consome as nossas vidas
dito isto é domingo de manhã dos que acordo em casa que será sempre a minha,
mas ao despertar com este pensamento em mente não pude deixar de o partilhar
com quem quer que seja que, num seu momento digital,
se ligue a ela
bom dia!

15.2.11

18:10

Não sei se ao fim do tempo ainda me lês,
à distância que é nenhuma no nosso mundo digital,
por onde entre tantos que dizem ser eu nunca esqueço quem sou
os caminhos que percorri para te dizer onde estou,
não igualo em palavras as almas que por dedos percorri,
com pensamentos persistentes mantive,
com elas na mente adormeci
Porém não gosto, detesto que assim me deixem escapar,
com as quaisquer desculpas que faço para mim,
fazerem suas para que não se deixem ficar
sonhar,
ao maior desperdício que na vida encontro,
o de entrarmos no Mundo os dos outros
deixando-os rapidamente,
sufoco
não sei se ainda existem anjos lá fora, se ocupados
com o Mundo como está, convenhamos,
não lhes culpo de forma,
fastigados
vou ficar por aqui sem desculpas em me encontrarem,
em me dizerem o que lhes passa, o que lhes faz sentir,
se algo,
se um dia,
se lembrarem

"A Caminho..."

Tenho um pequeno móvel que vai enchendo de livros,
em Inglês, Português, Espanhol, Francês
Se por um lado é boa prática às línguas que usamos com menor frequência,
é por outro lado um deliciar a nossa mente com a sua capacidade multi-linguística, cultural
sem lost in translation
Apesar de nem todos serem pérolas da literatura,
a cavalo dado não se olha o dente
acabo por dar em mim na companhia de algumas das mais brilhantes mentes da escrita,
gente que viva ou morta me estimula o córtex cerebral de uma forma que muitas pessoas,
elas vivas, a respirar e em discurso directo,
falham em conseguir
Talvez sejam os dias cinzentos,
que me tornam cáustico, exageradamente sarcástico e de cheeky evil smile
contrariar a falta de dinâmica que a chuva impõe, dando aos dias assim uma dinâmica única
exige um esforço Titânico,
uma sandbox dentro de uma outra box (casa) que tem por demais vezes o hábito de se tornar claustrofóbica numa mente e corpo que anseiam vaguear pelas demais planícies, montanhas e beira-mar deste Mundo
Vivo na crença de que a minha juventude morrerá se um dia perder esta necessidade,
a de descobrir novos pontos ou de, pelo menos, sonhar com a descoberta dos mesmos,
ainda que na distância da minha sandbox de duas janelas grandes, vista para tijolo e um quarto de céu cinzento-fastio
culminará isto tudo um dia com algo melhor,
ainda que não tenha no calendário um círculo, uma cruz
um vou ali e já venho
mas não tardando vou ter, indo para não mais voltar a deixar-me fechar em caixinhas
pois se ao Mundo que trato por tu, por todos os lugares que vi e passei sem que perdesse o sentido de pertencer a todos eles me permitir,
não tardará a fazer-se sentir algo que pareço ansiar dizer, gritar, expressar nas mais cruas palavras a preto e branco
fui-me embora, não faço intenção de voltar

14.2.11

Valentine's Day +1

Passou,
diria que mais uma segunda-feira
se fora por momentos dado aos dias da semana,
esses que me causam fastio, me degolam a capacidade de me equacionar perante o Mundo lá fora
o vosso
hoje não por ser um qualquer dia inventado, não uma qualquer historieta que me tentam impingir,
precisava de um bocadinho mais de algo
que sabe-se, quando se precisa
raramente se tem
Assim prestes a deleitar-me em lençóis brancos lavados,
as coisas que coisas são e ao limpá-las se fazem novas
se ao menos à alma assim houvesse o programa 7
delicates
de bom grado durante hora ficaria sem alma para de novo a receber fresca
com cheirinho a lavanda
ao falhar-me aquele bocadinho para o qual salto, permaneço inerte
ao falhar-me o ar, penso em água elemento meu
tenho tantas falhas no meu corpo e alma que me dá vontade de simplesmente inspirar, expirar
a cada bocado que passa tendo a falhar encontrar o sentido às coisas e palavras
estou cada vez mais certo que não sabemos nada,
não há mal feito,
não quero saber

6.2.11

And We All Carry a Soul Inside Ourselves

Ás vezes vais ter de me desculpar,
se não por culpa tua tenho a alma destroçada
se pelos inúmeros dias que passei a respirar nesta Terra
vezes sem conta me destroçaram o lado esquerdo para mais tarde,
na distância de por vezes tudo o que me é querido,
ter de reerguer em mim todas as energias para não desabar
Ás vezes, se optares por ficar
vais ter de me ignorar,
como se não soubesses do que sou feito,
feitios, defeito
concentrados no lado esquerdo do peito
Se resolveres olhar, parar
nunca serei menos do que me propuser sonhar,
de fugitivo ao Mundo sem para trás olhar
espero ter tanto caminho para trilhar
Não sei nem prometo,
se os defeitos que em mim vivem por vezes neles me comprometo,
por vezes sem sentido insatisfeito
nestas ideias que me percorrem o corpo quando me deito
Por fim se um dia me esquecer de saber sorrir,
e rir
se por um dia sequer me esquecer de saber ouvir
não terei mais nada para dizer e dar, razões para ficar
Então aí saberei que chegou a hora de partir

"You can't always get what you want" (The Rolling Stones)

1.2.11

Moonlight Drive

Nunca estás propriamente num só lugar,
se a vida te levar onde deve e,
se por momentos te lembrares
por ela lutar e puxar
ao fim ao cabo é a tua viagem e tu a sua caravela
acomodares-te é um presságio para a morte,
uma que talvez não te satisfaça,
que em instantes finais te deixe talvez demasiadas interrogações e não uma mente limpa, livre
se é que por obséquio partimos assim
que nunca esqueças a paixão que mora em ti,
a grandiosidade da mesma
para tal enaltece sempre os teus pontos fortes e cuida deles,
abafa os fracos
ainda terei os meus dias pela frente,
a seguir em direcção ao horizonte de sorriso em riste,
com o peito ao ar que me tenta trespassar a pele e só não conseguirá,
nem por momentos,
porque ali estarei, bem vivo
temos todos um caminho, apesar de estarmos todos virados na mesma direcção
neste que tal, aguardo por tantas coisas boas que me é difícil colocá-las em letras
nunca te esqueças de construir a tua existência com optimismo,
será sempre o teu maior empreendimento,
o teu lugar,
por onde quer que a vida te leve

Foto em Londres Gatwick, habitat natural para mim nos últimos anos, enquanto numa noite fria aguardava pelo próximo comboio para casa. No entretanto cruzei-me com diversas pessoas curiosas e peculiares. Apesar do gelo e cansaço que me pesava no corpo, relembrei mais uma vez a mim mesmo o quão efémeras são todas as coisas. Mesmo as que amamos e detestamos. Mesmo nós.