28.6.08

Simple



Diria novamente a hora
duas e vinte e tres, chegado de quatro voos que seriam cinco nao fora atraso apos atraso e o offload da tripulacao inteira
nao aguento disse a Susi tambem chamada de Maria, de Madrid e o Carlos, outro madrileno exaustos enquanto a rectaguarda da cabine eu e a Trudie tentavamos manter a energia para o caso de termos de fazer o quinto sector do dia
nao tens namorada porque?
a pergunta mais ignobil que vejo repetida vezes sem conta nestes dias que passo as cavalitas de um Airbus A319 feita por ambos homens e mulheres com idades entre os dezoito e os trinta e qualquer coisa anos com mais bandeiras que aquela porcaria no Parque das Nacoes que me parece agora tao distante como uma qualquer aldeia diria
no Zimbabwe
amanha a mesma tripulacao e a Trudie novamente
nao tens namorada porque?
ao que a dada altura lhe disse que o medo do compromisso sem que tivesse enfiado um par de cornos na ultima ou sido o maior filho da puta
que devo ter sido algures em dia incognito que so ela sabe
as mulheres usam calendarios diferentes dos nossos, homens e nao precisam ser filhos da puta para que elas achem que voces sao uma merda
portanto merda pela merda, os homens dao-se a chatice de serem cabroes so para chatear, acabando por fechar o ciclo vicioso de tanta porcaria que vai dentro de um peito humano e o Comandante
cabin crew prepare the cabin for landing e eu hoje cansado sem paciencia disse de forma bruta
ou coloca a bagagem no cacifo ou muda de lugar sem sorrisos e sem simpatias, pura e simplesmente uma frase imperativa em estado puro e bruto como disse nos ultimos minutos
puta que te pariu
e a vontade de te ver pela frente um dia destes nessas merdas de atitudes de pita e agarrar-te pelo braco para nem te dizer nada que nao fosse dito com um olhar
badamerda
e as voltas dadas num relogio que pareceram em vao para vir aqui parar ao meu sofa vermelho
a recordar-me do trexo Jorge Palma no sofa vermelho
e o Jorge todo fodido falava do Eulisses e depois aquilo eh uma granda salganhada, mas e depois? o pior vem depois, ah pois eh
dei por mim a ler a Odisseia de Homero e a pensar que ainda tinha que flipar um pouco mais
pu-la na prateleira a ganhar po e meses em cima
a devorar pontualmente o meu Amor em Tempo de Colera pagina a pagina a viver este bocado de mim em plenas Caraibas do virar do seculo passado e por vezes tem destas coisas a mente a fugir-me e porque nao rir?
rio-me tambem naquele pegar do braco afinal tanto girar de ponteiros e nada, nao percebeste nada de nada
revoltado com o David Fonseca e a sua falta de originalidade para um video a roubar ideias a genios e tao Portugues afinal voltou a estaca zero mais um
de tao pequenos pode ser que imitemos os maiores porque de tao pequenos os maiores nao os vemos ou nao conhecemos, passam despercebidos
ignorei
enquanto a chuva batia na janela do autocarro a caminho do Terminal e abencoada a tarde apenas nublada e ventosa e eu no "stand one" a esperar o aviao ca em baixo e todos de dedos enfiados nos ouvidos pelo roncar ensurdecedor do motor
superado pela descolagem do outro em Belfast e eu a porta a pensar
brutal
I wish for one time you could stand inside my shoes
mas nao estas,
nao queres, nao podes e nao vais
porque nao, apenas
para que complicar?

26.6.08

Split, Croatia

Eram tres e dezanove quando abri os olhos
de alguma forma a leveza da luz do andar de baixo fez-se sentir por baixo da porta do meu quarto e levou-me a cambalear ate a casa-de-banho
cambalear nao, pois sentia-me mentalmente em demasia desperto para quem havia dormido apenas coisa de cinco a seis horas, perdido entre fusos horarios como hoje quando dei por mim perguntar
Que dia e hoje?
e garantido que seria quinta pensei ainda viver numa terca ou quarta como errado e deslocado que estava
irrelevante explicar
pois eram tres e vinte e pouco quando regressado ao quarto dei por uma amiga aranha a ver-me do tecto e agradeci por momentos ao lugar verde em que habito para me ter stressado com a dita grande bicharoca a lutar pela vida e eu a lutar para nao a ter que matar
nao matei
algures no Mundo verde fora da janela, apos vinte minutos de tentativas delicadas consegui persuadir a bicha de oito patas a apanhar o fresquinho da madrugada
voltei a deitar-me para a ironia de apenas ter comecado a "driftar" para o sono quando pelas tres e quarenta
o despertador, ai ai ai cantava Alanis
ao pensamento inaugural do meu dia por iniciar
"ai ai ai" que me doi a alma
rotina rotina, corre corre, cronometrado mais minuto menos minuto mas admito
pontualidade Britanica
por meio de um curto dia de trabalho a passageira que responde ao "deseja mais alguma coisa?"
"..o seu numero de telefone?" e nao o levou porque simpaticamente sorri e disse que nao disfarcado de engracada piada para ar incredulo do meu colega com a desmedida lata da rapariga, certamente confiante nas suas capacidades de
chamemos-lhe
seducao ou algo que a isso se assemelhe
recordei-me por momentos de ti que estas para ai, no raio que te parta indiferente
de mim a por vezes querer saber como as pessoas que dizem que se gostam e que se querem
essas hipocrisias de merda com as quais se ganha a confianca que tao facilmente se atira para o contentor juntamente com as garrafas, fotografias e outras merdas que acumulamos ao longo do ano
uns chamar-lhe-ao memorias ou tesouros
outros merda e lixo
chama-lhe nomes!
a caminhar para uma directa sem que me permita chegar a tamanha inconsciencia
da-me para sorrir a Sonita, o Joao, a Carol, os meus pais e ate o smokie com quem infelizmente nunca falo mas de quem gosto e nao me lixa
o resto tambem me da para sorrir mas de forma relevantemente diferente
estes estao presentes de formas pertinentes, sem que tenham que se fazer presentes se me dou a entender
nao tenho tempo para me chatear com o Passado e aproveito para me manter sorridente com o Presente pois sera dele que faco o Futuro
faz sentido? demasiado cliche?
talvez tenha simplificado, chamemos-lhe um ABC lexico onde ate o mais limitado intelecto entende onde e de que sao compostas as entrelinhas

(Brevemente vou ter que visitar a Croacia e banhar-me em Split)

25.6.08

BFS

Sao quatro e qualquer coisa da manha,
digo qualquer coisa pois o despertador toca nao so a minha paz como a violencia de acordar ainda durante a noite para mais um dia
ainda olhos semi-cerrados olho em volta com aquela sensacao estranha de quem acorda sem saber exactamente onde esta, aliada as nao digo quantas garrafas de Rose na companhia das minhas amigas para nightstop
entregue momentaneamente a companhia do Gabriel (Garcia Marquez) dito em ingles para me tentar familiarizar com o erudito lexico britanico mais do que ja vai sendo habitual chegada primeiro a Hailey, demasiadamente grande sentido de humor para se comparar com a maioria das miudas britanicas
e sim, uma miuda com a adorabilidade dos seus dezanove anos
contrastando com a serena e igualmente simpatica Sarah que ja conheco de outros dias de maluqueiras assim permanecemos os tres ao que antecedeu o meu rodopiante deitar a conversa sobre aquelas coisas que conversamos sempre
voar, com quem e para onde, namorados e namoradas e a dada altura nao sei porque me afoguei no copo e nao havia debaixo do banco o tal famigerado colete salva-vidas
atipicamente fico entregue a simpatia das locais enquanto a nao local que nos supervisiona acaba por sair com os restantes e pensa-se sem se dizer
paz e sossego
daquele que tenho em dias como o de hoje, acordado em Belfast e prestes a dormir bem cedo na minha cama, em casa, que nao ha quem aqui me chateie a corneta nem por momentos que eu deixasse e,
a medida que deixo de sequer escrever palavras porque sou facilmente entediavel - quem sabe entediante - desligo-me dessa pseudo-amizade de amontoados de conhecidos que sei eu que nao dariam um passo por mim como eu faco bem questao de nao dar por eles
tres minutos depois abri os olhos, ciente de que nao os poderia voltar a cerrar sob o inevitavel perigo de realizar o que tinha sonhado e falhado a hora de report para voar de volta a casa
perdendo assim a simpatia dos sorrisos das Toulousianas (France) e a lembranca que o Toulouse sempre foi o gato que mais gostei nos Aristogatos
a casa-de-banho e a sua peculiaridade estranha de ser completamente espelhada, inclusive durante o banho, uma alegria para os mais narcisistas e quem sabe para outras touradas e,
os olhos pesados a medida que ainda de toalha em volta da cintura me propus a fazer o meu cafe acompanhado de descafeinado para lhe carregar apenas o sabor e o pequeno-almoco, agora indeciso entre ha um piscar de olhos atras ou coisa de catorze horas
pequeno prazer
como mil outros que nao partilho porque me pertencem, enterrados nesta coisa de nao querer dar a saber a gente que e meia nem para lhes perguntar que horas sao
como quem faz escala onde quer que seja, mudando efectivamente de rumo para longe do quer que seja propriamente de explicar
aprendermos esta coisa de gostar de viver sem prestar contas a quem nao nos traz bem tem um sentido
o de sermos nos mesmos, a gostar de nos mesmos, a querermo-nos mais e seguir o rumo tracado
a dada altura chegaremos algures onde nao pensamos chegar, sem arrastos, sem delongas desnecessarias, sem
percas de tempo

19.6.08

A

A pele
por si so um Mundo, deslizante, parque de entretenimento de todos os meus desejos e ansiedades, onde repouso a minha juntamente com o embalar de um olhar
por dias e lugares, os sorrisos quebrados na minha direccao
vistos e revistos, efectivos lugares-comuns da minha existencia no Planeta Terra aliado a minha suposta modestia de nao ligar de tao ligado que estou a outras coisas que chamaria no seu todo
essencia
ontem eu aqui no sofa e a Emma a dizer
dois anos a viver juntos e de noivado e ele diz "overnight":
"Nao quero nem vou casar contigo. Nao te amo nem nunca te amei!"
o terrorista, bastardo
eu a julgar a coragem dele maior que o Mundo em toda a sua crueldade, como se rebenta com a corrente sem do nem piedade provavelmente para alem de qualquer remendo e nos aqui, todos cheio de panos quentes a pousarmo-nos uns aos outros, distanciando-nos a passos em bicos de pes como se a vida um bailado e lembrei-me
um dia amas, no outro nao existes
como na vida, la esta que dita que um dia respiras e no outro nao
nada de cruel na natureza das coisas se eh a forma como elas persistem
esta miuda de varias que conheco linda de morrer
se bem que nunca me lembro de alguma vez ter querido morrer por alguem ser lindo e a alma que parece grande por vezes escapa-me a dela para o pequena, infimamente pequena a lembrar-me que a ultima vez que me deixei ir em historias assim podia ter aberto uma loja de afagar egos e nao
nao estou aberto no negocio de afagar egos
para isso existem todos os imbecis, pseudo-estilosos que vivem de ansiedade de impressionar, de falar a boca cheia de coisas que nao sabem e no fundo nao saberem coisa alguma sobre coisa nenhuma
acabamos por viver nesta roda de coisa nenhuma todos, tao imbecilmente afectados pelo que achamos que queremos quando o que efectivamente queremos nos pode escapar mais facilmente do que dizer
imbecil
diria a todas essas pessoas que o aspecto maravilhoso delas nao me ilude e ja ha bastante tempo sei o que preciso e o que nao quero, restando apenas todo o tempo no entretanto para nao cair no erro de ter o que nao desejo
novamente
o Mundo nao eh cruel como a natureza tambem nao o eh
o Amor, esse a existir tambem de cruel nao tem nada, se tao natural eh na vida
crueis somos todos nos, a colocar as nossas insegurancas nas costas dos outros e cruelmente a faze-los penar por todas as nossas falhas como pessoas
think about it! ;)

18.6.08

Ao Vento, A Voces

Nao sabia por onde comecar um novo texto
entre as dezenas de tentativas deixadas nem sequer a meio em outras noites, outras alturas que me apeteceu dizer algo nao ficou
garanto que nao ficou e hoje
como se dia diferente ou noite que se faz vislumbrar la fora diria um redondo talvez
talvez entre o silencio que reina hoje em casa e hoje na minha vida pudesse escrever algumas linhas de puro nada
dizendo que nao me apetece partilhar com ninguem que conheca o que me apraz dizer
que tenho mil coisas para contar e nenhuma que te conte em particular
sim estou bem, apraz dizer sem que seja perguntado
nao fantasticamente bem, mas bem
escondido com o meu sorriso de miudo e olhos que disseram-me um dia meigos no acto de olhar tenho todos os dias o Mundo na palma da mao
uns dias tomo-o, outros deixo passar na dinamica e incerteza que eh nao a minha em particular mas essa grande
a vida
que se quer grande, entenda-se
nao sei entre varias linhas da vida o que se passou, como se tivesse estado ausente de episodios cruciais da vida dessa gente que um dia se disse meus amigos ou que me amava
entre todas essas merdas que saem pela boca das pessoas sem que algo dentro delas lhes diga que eh verdade relembro-lhes que nao precisam ter tudo
se tiverem o coracao de alguem nao precisam querer levar-lhe a alma mas assim o eh
quando as pessoas se alimentam de cliches, de palavras que viram num filme e de idealizacoes de coisas tao elaboradas e ao mesmo tempo tao, tao simples como o amor, a amizade, o fazer algo por
sem exigir
nao conseguiria jamais em tempo algum explicar o porque a quem nao queira ouvir e dai a minha tendencia maioritaria em me manter calado, aliada ao silencio imbecil e redutor das pessoas que o praticam
mandava-vos para a puta que vos pariu, mas estou certo que nao sera culpa da pessoa que vos tera trazido ao Mundo
diria-vos que fiquei sem panos quentes, ausente de paciencia e demasiado velho cedo demais para mastigar infantilidades
que me encontram se quiserem e como quiserem e no caso de nao quererem nao vos guardo rancor, sabendo que acabam sempre por deslizar da minha mente e do meu tempo, tal eh esta coisa de finalmente ter uma vida
diria que em mil coisas sou melhor que voces, em outras pior
que a melhor sera aceitar a diferenca e abraca-la com o fascinio infantil que provoca em mim, como se ainda existissem coisas magicas no Mundo
nao pretendo que algum dia a vossa forma seja a minha
mas afinal de contas relembro que as palavras efectivamente leva-as o vento e aqui onde estou
a brisa sopra sempre forte

5.6.08

Stars

Pinta o Mundo com os teus olhos
diria que de sonhador os meus, a vislumbrar o deslizar lento das nuvens no céu que me acompanham por dias a fio
por noites inteiras cá fora no banco de jardim que tenho em casa, as mangas compridas a protegerem-me as mãos do frio e sim, um cigarro como companhia a quem deixou de fumar há dois anos e meio
em cada brilho de cada estrela sinto-me pequeno, a atirar-lhes os meus sonhos e desejos, a perguntar-lhes como reflexo de mim mesmo o que falta aos meus dias, tal por vezes a sensação de perto e branco que me preenche
não precisas perguntar o que sabes, mas efectivamente acaba por ser o que te perguntas vez e vez sem conta
ou o porquê das atitudes incompreensíveis com que te deparas. Porquê?
a altura não vai dos pés à cabeça, vai dos sonhos à vontade de os realizar, quem me disser o contrário ou está a mentir ou não vive no mesmo Mundo que eu
definitivamente muita gente não vive no mesmo que eu
toda a gente?
entre cada suspirar de fumo deixo para trás algumas notas soltas que anoto em papel branco ou incolor, por vezes a tinta, por outras a sorrisos amargos ou amargurados pelo tempo
no lugar que me repousa só eu e ele sabemos o que sinto, o que penso
o que digo para mim mesmo
vezes e vezes sem conta
os dias têm esta capacidade assustadora de serem infinitamente longos ou, de tão deliciosos, incompreensivelmente curtos
votaria para sempre em dias curtos, muitos dias curtos
uma eternidade de dias curtos
ao invés estou preso nos dias longos a contemplar um qualquer céu num qualquer lugar onde esteja a desejar as mesmas coisas de sempre, a ter os mesmos sonhos que tinha e a mesma linha que, acredito, ainda me faz alguém bom no seu Ser
senão que não seja, que seja o que quem quer que seja quiser
mas nunca deixarei de ser eu mesmo
onde quer que esteja, o Mundo tem sempre o mesmo tamanho, daqui até às estrelas