16.5.09

A Domani

A domani, Milano
e o tempo em N como se os ponteiros do relógio feitos de letras e eu feito de mecanismos que mexem aos poucos
precisos e precisamente para onde devem a menos que
o Tal que proíba
me falte a energia e me quede em total inércia não de tempo
outras coisas
fazes-me bem,
a lembrar a frase feita e gozada pelo Sérgio numa qualquer noite em que nós já muito e ele sai-se com
fazes-me falta
o que era obviamente associado ao futebol virtual assim ficou marcado por um acesso de carinho e amor óbvio motivo de piada para semanas vindouras,
não fôramos nós todos um raio de desgraçadamente loucos, ainda que loucos ainda
definitivamente mais velhos, mais estragados, mais sábios e perspicazes a coisas destas de quem por motivo algum diz
fazes-me bem
de imediato a saltar à cabeça as frases do umbigo,
da que se perde nela mesma porque não sabe nem quererá sequer saber
do que tentam fazer de mim todos os dias e eu
não, não, não
sem deixar
como as palavras como as ideias do livro do Lobo Antunes que recomecei a ler,
não o Nuno o António
as pálpebras pesadas e o coração inerte, já demasiadamente habituado a estas andanças e eu às manhas dele que não, não, não
passando por isto e aquilo que não sei bem nem sabem do outro lado e os anos de silêncios que se fazem entretantos e aqui singramos aparentemente ainda bons,
imutáveis e crianças
quase que a ignorar que o tempo não faz mossa, não faz ruga, não ataca aqui e ali acreditando como um dia acreditei
que nos reciclamos ao envelhecer
regressar a crianças,
limpas as rugas, renascido o cabelo e o sorriso, os sonhos todos lá e o coração puro
pronto para recomeçar da estaca zero como as que me relembram daquela praia no Sul
fim de tarde e eu e a R a lutar não sei bem pelo quê que nunca entendi,
mas o fim de tarde era azul e ficou sempre azul, como eu eventualmente fiquei

o tempo muda-nos, aos poucos
como os pratos de uma balança que pendem ora para um lado ou outro,
as pessoas que nos tentam mover, não que sejamos montanhas ainda que por vezes ajamos como tal
não sou inerte mas dinâmico ser,
a mente que mexe por vezes mais que o corpo que se queda para lhe dar passagem e eu aqui
novamente
pálpebras pesadas e os sonhos por vir
a domani,
Milano

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