30.4.09

Vida

Ultimamente tenho dado conta que não prego afinal, aos peixes
diz quem sabe quem é e concerteza sendo fervoroso adepto da causalidade matemática
acredito que haja quem não diga
que me lê, ou que lê o que a minha mente debita em singelos cinco minutos que me levam a escrever um post sendo que, confesso-vos mais que honestamente, há outras alturas em que escrevo apenas nas paredes da minha mente coisas bem mais articuladas, vivas e deveras tocantes
tocantes pelo menos a mim ou às résteas de alma que me surgem ocasionalmente, entre a minha ora aparente apatia, ora aparente arrogância e que vá lá
aceito
faz de mim diferente, especial ou qualquer outro adjectivo que queiram colocar na minha tshirt para substituir o Super Mário
faz anos que não penso em mim com adjectivos mas antes com sensações,
das gargalhadas que dei, da água gelada do mar na pele, dos lábios de alguém e a que cheirava a sua pele, de olhares que diziam tudo por tempos a fio e da sensação de me afogar,
confesso que já houve uma ou outra ocasião em que apesar de óptimo na arte de nadar, experienciei o que existe de próximo do afogamento
de me sentir acompanhado quando só e completa e tremendamente só mesmo quando acompanhado, dos sonhos que tive a dormir e os que surgiram de olhos plenamente abertos
não meço portanto os meus dias em calendário mas em experiências e se foi muito ou pouco tempo que as separou, ao que a intensidade também conta para a matemática
existe algo de tremendamente compensador em saber que conseguimos subsistir sozinhos
testando a força que existe dentro de nós para superar cada dia, cada semana, cada Estação do ano,
superar os que nos querem menos bem, aceitar com um sorriso a sua pequenez e a mesquinhez que existirá sempre no ser humano
aceitar que existem pessoas mais inteligentes, mais bonitas, com melhor sentido de humor, ínfimas qualidades mas não esquecer de quem somos e de que nos podemos orgulhar
há qualidades em nós, humanos, que são incomparáveis pelo simples factor de serem únicas
sem o senhor A ter mais que o senhor B como se de um saldo se tratasse existem o Carácter e o Amor. Próprio e pelos outros,
sendo que podemos catalogar cada um como sim, diferente e peculiar, são total e completamente incomparáveis
quem tem Amor tem-no, seja por algo na vida ou por alguém,
seja por si mesmo
quem tem Carácter tem-no, sempre alvo a abater como se na rua puxasse um dito simplesmente para no dia seguinte voltar a fazê-lo
Ninguém diz que a vida é fácil, simples
que iremos todos ser felizes e realizar os nossos sonhos e que sim,
as histórias dos livros e dos filmes que nos inspiram o que de melhor há em nós são todas reais e tudo de bom acontecerá na nossa vida
não são,
antes são versões ideais de como a vida deveria ser e não é
ou rasgos de inspiração de como a podemos moldar
encontrarão sempre na vida quem vos tente colocar de rastos mas guardem,
guardem o que de melhor possuem e partilhem-no com quem de melhor conhecem
não importa o que se escreva ou diga,
a única coisa que importa nesta vida é em suma
o que se faz com ela

26.4.09

"Callate" e Dá-me Lume

Pousei as patas novamente em Londres
nisto de vida às costas ou eu às da dita e embarcarmos num airbus como o senhor António embarca no Cacelheiro para fazer a travessia do Tejo,
pensar que ainda ontem acordei na praia, o odor ainda doce e a casa ainda meio que desarrumada mas limpa como me apeteceu tê-la,
as minhas coisas no lugar devido, outras no lugar mais proibido possível e a sensação que estava em suma
satisfeito
caminhei da porta ao carro, esses longos dez passos para aqueles longos trinta segundos que demoram a fazer a rota CSA-BDP,
entenda-se Casa - Bar da Praia
apenas com os poucos estrangeiros que se deleitam com as ondas no seu momento de pausa, o meu galão e sandes mista com o Sol (desta feita o jornal) e A Bola à mistura
não sei porque compro ocasionalmente A Bola se a "leio" em coisa de cinco minutos,
de tão enfadonha leitura que é, bem poderiam fazer para nós uma mini-Bola com notícias apenas do Benfica, dos novos cromos que vêm e dos que vão, se o Eusébio ainda come bitoques e alguém que faça uma coluna a explicar porque é que o Shéu & Amigos continuam por tais paragens
ao ser confrontado com a realidade que agora me traz directamente da minha cama no Reino Unido,
coisa que soa ao Senhor Doutor Príncipe Desencantado numa qualquer Suíte Real,
lá tive que pegar nas matrucalhas e mudar-me com relativa prontidão para a base de onde hoje, voltei a voar para aqui
daqui a pouco mais de vinte e quatro horas acordo para mandar o meu real - ou Principesco para quem estava atento - traseiro para Thessaloniki, coisa que tem o seu nome em Português mas ao qual não dou devida importância porque à excepção das miúdas parvamente giras, é ponto do Globo que não me traz qualquer ameno ao peito,
não só porque para tal vou ter que me erguer do lençol às três e coisa da madrugada como tenho que ir aturar o outro e a sua namorada e mais não sei quem, todos juntos a aturar cento e cinquenta gregos e gregas comigo a pensar que mais valia uma única onda de meio metro e um dia a lavar a casa,
na praia!

Nisto sugiro ainda que as pessoas tomem as seguintes atitudes na vida,
se têm algo a dizer que o digam, se têm algo a fazer que o façam, se não têm remorsos que sigam, se os têm que exorcizem os seus demónios e que se estão apenas para chatear, canalizem a energia para a mãezinha, paizinho e o diverso agregado familiar

Estou feliz, estupida e parvamente feliz de simplicidades
não estou apaixonado senão pela vida, pela energia positiva que tenho em mim e pelo Mundo que me continua a oferecer momentos Kodac quando mais preciso
fiquei a saber que vou morrer muito velho e que tenho muito mais de mim para dar,
mas isso já sabia
cheguei a casa e não só tinha o meu casaco da Adidas da candonga à minha espera como a Andreia me preparou a única e verdadeira surpresa da Páscoa feita Natal que me lembro de ter nestes últimos anos
dedicação assim é coisa difícil de encontrar num Mundo como o nosso e se por grande parte da minha alma o meu comovido obrigado, por aquela parte que é como um rochedo que sobrevive no meio do Mar - tipo as Berlengas!? - fico sorridente, passiva mas tocadamente sorridente
há quem entenda?

20.4.09

Time has no need to be Nervous

Cai no colo a segunda-feira,
enquanto alta e altamente se ouve um unplugged blues por esta casa grande algures nos outskirts de Lisboa ou do raio que parta qualquer que seja esta Região manhosa sem apelo
para não diversificar assim tanto quanto isso tenho a mala feita e pronta a seguir, ainda longe de vôos, para um qualquer lugar onde respire Mar e os pés se possam afundar lentamente na areia
por vezes apetece ir sem rumo, não regressar mais à vida como a conhecemos
tenho feito umas coisas jeitosas com o meu tempo,
menos internet, menos converseta da treta - daquela que nunca tive paciência para - e escovar da vida toda aquela camada de calcário humano que se acumula como o senhor dito às maquinazinhas de Portugal que não usam calgon ou calgonit ou caganit
chocante pensar que afinal uma máquina velha tem calcário vs. a máquina NOVA para o anúncio que não tem,
fico escandalizado!

Smile and wave boys,
e seguimos assim os nossos caminhos díspares como se algum dia tivesse importado afinal que caminhos paralelos as pessoas seguiam
há que ver afinal que a vida não é a literatura nem o cinema, esses sim são representantes de embelezamentos da vida, de apanhados compactos e floreados da dita
o que não tem de significar uma realidade enfadonha e cinzenta,
não o é, a menos que queiras
mas seria bom um dia as pessoas saírem dessa bolha de ilusões em que vivem hipnotizadas pelo que não é, crendo fazê-lo passar pelo que deva ser, certas que assim é

Meet you in the big blue!

13.4.09

LowCuras

Foram cento e cinquenta postagens em coisa de ano e meio.
Para os mais desatentos nas lides matemáticas dá coisa de muito pouca escrita para uma escala de tempo relativamente vasta e preenchida como foi a coisa.
Bem sei que não é meu hábito ser específico no que escrevo, deixando sempre os nomes de fora, os rostos como quem respeita a privacidade das pessoas que orbitam na minha existência e eu na delas. Convenhamos que uma órbita algo discutível, sendo que é nada mais que intermitente.

Andar alheado do Mundo tem conveniências.
Não obriga a sorrisos de circunstância, a telefonemas, mensagens, e-mails ou até abrir o MSN para conversas do quotidiano. Porque não, porque me alheei dessa coisa chata que é o quotidiano - tenho o meu e não me parece certo partilhá-lo, para quê levar com o dos outros? - sendo que nada pode ser mais desinteressante que a arte mundana de viver.

Há aí um punhado curto de esquizofrénicos que me agradam.
De tão atípicos que são puxam a minha atipicidade - passo a expressão a ferro - e despegam-se de quaisquer modus vivendis menos apelativos, mais entediantes, menos sexy ou seja, simplesmente mais malucos do que se possa qualificar.
Ora ninguém faz isto de propósito. Não por muito tempo pelo menos. A loucura é uma forma de estar, de viver e de encarar a vida. É do meu strangers in the night quando ilumino a reading light na galley instantes antes de aterrar. É a Magda que quer ir amanhã a outro sítio qualquer na Europa do pé para a mão. É o João que se balda ao trabalho para irmos para a praia. A Li que fica tirada do sério. O Say que grita Marco Polo cada vez que me vê. O Manuca e aventuras que davam BD. O Luís que apesar de continuar o mesmo tem mais sonhos que nunca. O João que me faz rir como sempre fez. A Andreia que teima em estar presente com a sua peculiar forma de ser. A Thu que me vai fazer ir à Finlândia gelar o rabo. A E. que de tão sumida que se torna não sei se viva se morta. O André que algures para a Tailândia continua a ser o meu irmão. A Joaninha e os seus sonhos de menina pequena em cara de menina grande com olhos que sonham como ninguém.

E mais, bem mais que não sei dizer, porque não quero ora não posso. Porque podia, mas não me apetece!

Gosto de vocês todos, até dos que me põem de parte ou simplesmente que não me entendem. Que nunca perceberão que não tenho malícia como a que vive para aí mas um carácter forte que não verga àquilo que eu acho incorrecto, deselegante ou inapropriado. Porque eu sou eu e tu és tu. Porque somos todos outros e convém sermos loucos de sinceridade acerca de como somos. Acima de tudo apreciar isso que somos, seres inequivocamente únicos que têm apenas este bocadinho que é viver para serem como são ao máximo do que possam ser.

Se não fazes disso o teu modus vivendis não te preocupes. Cada um tem o seu peculiar modo de ser...

3.4.09

World

O Mundo é deveras fascinante
não que tenha dado por isso agora enquanto quase completo uma directa de um longo e preenchidíssimo dia mas nunca é demais lembrar que sim
é fascinante
com os seus peculiares seres
Acordado ainda era noite, chegado a mais um dia de trabalho ainda noite, iniciado mais um vôo e ainda era noite até que na subida me viro para o João e digo
finalmente o nascer do Sol e já não era sem tempo
como se fôra o tempo tudo
entre esse nascer do meu dia e o morrer do mesmo já me passaram dezenas de conversas e centenas de olhares, milhares de passos, cheiros e detalhes que captei
um acordar em Londres com paragem no Sul de Espanha com regresso a Londres para largar a farda e refrescar para sair de seguida para o Sul de Inglaterra até Brighton onde convenhamos entre gaivotas que pairavam à beira da varanda assisti
ao pôr-do-sol
enquanto julgava todas estas coisas simples quase só minhas, por óptima que a companhia fôsse, julgava também as voltas que a vida dá
a pessoa aparentemente cruel que não sou, tótó que efectivamente nunca serei e a inevitável incompreensão a que são dadas certas pessoas no fascinante Mundo dos fascinantes seres
nesta aparente inacessibilidade que deixa tanta gente em mar alto como se corressem risco de naufragar numa costa de mau feitio perde-se afinal tudo e perco eu a vontade de me dar mais ou de sequer fingir que quero saber
sem queixas e sem humanos desesperos, satisfeito com as opções correctas que nos possam reger a todos sendo que a nossa vida é apenas uma questão de (nossa) perspectiva
haverão sempre coisas que ficarão por dizer e ouvir, coisas que ficarão por sentir e saborear, lugares que ficarão virgens da nossa presença
como haverão sempre lugares e pessoas mágicas,
liberdades e escolhas que são e serão só nossas,
como existirá sempre
o nascer e o pôr do Sol