16.3.08

Pedaços de Céu

Daqui a horas já não estarei
sem dramas, choros, apertos por demais no peito que me leva pelo Mundo
terei deixado as minhas gotas de céu para procurar outras que já conheço levemente
muitas outras mais que tenho ainda curiosidade em conhecer
uma quase-ansiedade que me percorre ao de leve o corpo
ao dar os primeiros passos num caminho longo existem vários tipos de pessoas
seremos então confrontados com a pessoa que somos
todos os medos e receios mesquinhos são - ou devem efectivamente ser - postos de lado e por-nos-ão todas as falhas à prova
os amigos, deixemos-lhes um sorriso de um "até já", certos que estaremos da nossa contínua vontade de os revermos em pessoa o mais rapidamente possível
a família, essa que é minha e que me dá todo o céu para voar é a que me pesa mais no lastro ou na dita bagagem que digo levar para além da física, permitida nos seus míseros 20kg por uma qualquer companhia de aviação
todo o dito lastro que levo comigo pesaria mais do que qualquer máquina poderia transportar
sem que me pese efectivamente
ausente de distracções que me façam crer que o caminho que tomei não é o indicado
chego a este dia com várias certezas que não tinha até aqui, com provas de pessoas que ainda não se tinham provado e com o fortalecimento de relações que já sabia serem inabaláveis
infelizmente é tarde e tenho de deixar as teclas e também infelizmente ficam várias coisas por dizer a várias pessoas mas sendo o Mundo hoje tão pequeno, as distâncias são relativas e custam mais as que temos dentro do que as que o Mundo impõe fora
eu estarei sempre à distância a que me entenderem colocar
vou ter saudades de tudo mas vou só ali ao lado momentâneamente ver um diferente pedaço de céu,
volto já...!

14.3.08

Pequeno Lugar

Neste pequeno lugar
cores esbatidas, tons de pele pálidos cansados por noites dormidas em insuficiência
sonhos de lugares e pessoas distantes que são em suma um passado pintado em cores fantásticas que ninguém viu passar
únicos transeuntes ao exterior da janela perdem o olhar na vastidão de coisa alguma tanto quanto eu na delas sem lugar predilecto onde me perder
mantenho o passo imóvel no lugar de quem pretende ser achado sabendo que tão raramente existem coincidências entre o que pretendemos e o que a realidade nos atira
estava em crer por momentos que podia mudar o Mundo e pintá-lo com cores tão melhores que as originais
sorrisos tão mais rasgados que os que o rosto permite
gargalhadas mais sonoras e momentos simplesmente
puramente
mais perfeitos ou únicos
os mesmos que guardo no mais triste dos sorrisos que me apertam os olhos a caminho de quase pensar que tudo vale a pena quando se quer mesmo muito e que tudo é possível
excepto o que é mera ilusão
algures em mim todos estes lugares a entrar
enclausurados a sete chaves de caminho complexo imerso em setas e indicações que apontam aos lugares errados
algures lá fora, tu que não vejo meio de me achares e saberes enfim o que sou e do que me trato eu e eu saber de que te tratas tu
de ouvires o grito mudo, abrires os olhos para o farol, seguires o aroma ou quiçá se nenhum outro cliché serve
seguires o que sentes


Um dia Feliz seguido de muitos outros

5.3.08

Distâncias Incalculáveis

Dentro de mim planícies, céus azuis gigantes que obrigam a cabeça a girar sobre o corpo e mesmo assim desfeitos nós de pequenos com a incomportável imensidão que nos esmaga o peito
como se pequenos fôramos que somos
algures dentro de mim ainda a luz acesa na cabeceira até tarde quando o Sol já quase a nascer e o corpo a desistir por não poder mais
os olhos negros e cavados de exaustão a pousarem no outro lado que tão vasto e desarmante
por vezes sonho que ainda lá estou e que ainda existe esse lugar perfeito e sereno onde não se busca nem se poderá presumir querer mais
acordo para esta realidade todos os dias em que não vejo quem me queira ver e que não troco olhares com quem insiste em me fitar os olhos que salvaguardo como só meus
nestes dias de Sol brilhante ou chuva intensa está sempre mau tempo lá fora pois nunca me é convidativo juntar-me aos demais se não os reconheço como iguais
neste Mundo onde chamo companhia à insanidade, ansiedade e outras dades que minhas, reflete-se acerca da vida e da morte, do tempo e do que leva com ele, da memória e do quão ilusória ela se tece
de folhas de papel que não seguem uma ordem específica e de fotos que ficam guardadas para mais tarde ver
de móveis empoeirados e de coisas empacotadas que guardo em lugar a esquecer
não sei quem são vocês olhos que me olham ou ao que vos pretendo demonstrar
se seguirão a linha como eu a escrevo ou conseguirão ver para além dela
não há um Mundo nem uma realidade
há um precipitar de existências às quais assistimos, nas quais participamos e das quais retiramos um eu constantemente renovado, enriquecido
a cada dia da vida que passa, maiores distâncias se tecem sobre o hoje e o anteontem ao lugar de os tornar completa e irremediavelmente irreconhecíveis
pois se há quem diga que para sempres não existem
digo eu que sim
irreconhecíveis, para sempre!

1.3.08

"Essa História Não é Tua"

Ultimamente tem-me confrontado a ideia e palavras alheias de que ando
estranho, distante, diferente
etiquetas catalogantes de personalidade que se sente cada vez mais em fase de mudança e se por um lado aparentemente egoísta,
por outro lado que não tão sobejamente demonstrado, imensamente acessível para quem saiba procurar ou como procurar
aprazia-me ser capaz de explicar a pessoas porque não lhes respondo às mensagens no telefone, porque raramente lhes telefono se de todo, porque paira o meu nome no MSN e me esqueço dele Online dias a fio passando por criatura ignóbil e arrogante
que sou, entenda-se
estava indeciso entre apontar a parvoíce de algumas amigas de merda que tenho que saberão sempre procurar-me quando precisarem de algo ou de amigos que sabendo que me vou embora para os ver ainda menos do que já sucede, usam sempre as mesmas velhas, gastas desculpas para se excusarem a fazer algo
ainda estou à espera do grupo de amigos que se mete num carro comigo e vai almoçar a Itália
não hoje claro, mas uns dias depois
ou quem sabe simplesmente ir curtir a noite a Barcelona
assim e exaustivamente da inércia das minhas amizades que imensamente prezo em salas com sofás, televisores ligados ao canto e uma garrafa de whisky ou bacardi em cima da mesa
faz-me falta a parte do viver e de me sentir inspirado por pessoas que me superem em diversos aspectos constantemente
viver por ser surpreendido e para ser surpreendido, não é no fundo o que todos buscamos?
quantas vezes nos dispersámos da busca para cair no comodismo de dias previsíveis seguidos de programas de televisão e silêncios mais que ocos nas salas em que... vivemos
ou dizemos viver
não sou melhor que ninguém nem jamais terei a ambição de me comparar nesses parâmetros com quem quer que seja
a perspectiva de melhor e pior é uma redundância, uma relativização pessoal e mutável pois quantas pessoas supostamente piores que eu levaram a melhor em situações a fio
enquanto o suposto valor é sucessiva e injustamente ostracizado para dar lugar a coisas importantes
tipo o que oferecer pelo Natal, as vezes que se vai ao ginásio para ter melhor abdominal que o vizinho, o tipo que tem um descapotável ou o telemóvel de última geração
o que vive um estilo de vida cool como parte integrante do teatrinho que faz à vida sem que se encontre o fio condutor entre a sua personalidade e o que faz
o quer que seja
não sou menos falível que ninguém, menos isento de culpas e defeitos mas sou tão pouco dado a hipocrisias que prefiro a minha companhia à da casualidade
àquelas coisas mágicas e teatrais a que se chamam vidas sem que lhes encontre qualquer semelhança
entre ficção
e realidade.