29.4.10

Entretanto Assim

Um dia não sei se te saberei os olhos,
o cheiro a que cheiras e o brilho dum sorriso,
a forma como os cabelos soltos ao vento e o vestido que te faz parecer pairar,
os grãos de areia nos teus pés e a pele que o Sol queimará lentamente
um dia eu não mais no teu segundo pensamento, no terceiro
quem sabe em nenhum, senão num armário empoeirado de memórias que se deturpam com o passar dos anos e do amontoar de coisas que foste vivendo,
sem mais reconheceres o som da minha voz ou a que cheiro, a forma como rio e o que me faz sorrir,
o cambalear matinal a caminho de lado nenhum para voltar de seguida para o único lugar onde se pertence
nem que seja
naquele entretanto
deturpamos esta ideia de que a vida são entretantos,
de que sorrisos são folhas de árvores, olhares fugazes luzes que passam por nós e rapidamente se extinguem,
vozes são assobios de vento que passa e toques são espuma do mar na pele,
esquecemo-nos entre o acordar e o deitar a cabeça na almofada destas coisas que nos fazem,
que melhor que fazer, nos distinguem
e se um dia não te souber mais o que dizer não existirás mais para mim,
como talvez nem existas se escrevo sem que saibam de mim ao vento, à espuma do mar e ao Sol que me beija o entretanto a que chamo pele,
porque talvez nunca me tenha num entretanto cruzado contigo e portanto nem existas num lugar que não seja esse mesmo,
um entretanto

vamos hoje em 200 meus,
obrigado

2 comentários:

Anne R. disse...

Um dia, quando o vento te tocar a alma e o corpo pedir sossego como a boca pede água para sobreviver... verás que a distância dos "entretantos", pode ser um passo ou uma vida inteira.
Olhamos o nosso interior solitário e julgamos o nosso "eu", num mundo tão "teu". Calculamos as horas, os metros, os sentidos e as reacções, tudo ao milímetro do nosso ser, para que inconscientemente o vazio que falta preencher, se reduza e se transforme em algo lógico no nosso pensamento.
E será num qualquer instante que os sentimentos despertam... a saudade das palavras aperta... e "entretanto" sussurras o nome dela baixinho quando o "mundo já não é só teu"... quando o "mundo já não é só dela"... quando o "mundo já é tão vosso".

* R

Eye of the Storm disse...

gostei de teu texto...mas o primeiro comentario que te deixaram aqui tem toda sua logica.
:)
beijinho
tudo de bom