É tentador recorrermos ao nosso espírito crítico,
de cada vez que algo previsivelmente falha ou que nos falham,
de cada vez que uma desilusão teria supostamente de ter lugar quando já pacientemente a aguardamos,
de cada vez que nos recordamos que já vivemos tanto e tão intensamente que certas histórias ainda que pintadas da mesma côr,
relatam precisamente as mesmas acções, o mesmo enredo e inevitavelmente o mesmo final
reverteremos portanto nós mesmos à condição de menos bom?
a uma condição confortável que nos permita ser o veículo que usa e abusa do espírito alheio?
aquele que sem consideração usa corpos e almas para seu delírio e puro divertimento fechando ao final da noite os olhos sem pinga de remorso porque tem a desculpa,
o Mundo é feito assim
e é, convenhamos
dos jogos que pensam jogar comigo comigo a ver, das coisas que não se dizem porque não dá jeito mas estão tatuadas nos olhares e no rosto ou em pensamentos distantes, dos desculpa lá mas agora não dá jeito
pessoas,
minhas caras e estimadas pessoas,
não é por mero acaso que no geral vos desprezo sem que me ache melhor ou pior,
é porque no geral a minha vida é bem melhor sem vos ter por perto,
porque retiram mais do que me acrescentam, roubam mais do que trazem e fazem por destruir mais do que constroem
e juro que reconheço e valorizo o esforço,
e o meu caminho é em metade tão bom quanto a outra metade que vossa a palmilhar
mas não palmilham e portanto nem por isso eu mais merecedor, mais preocupado, mais por vezes só talvez, mas mais eu
e sim, senhor do meu senhor nariz, da senhora vida que é minha e dos lugares a que pertenço não obstante de vocês e garanto,
todas as noites durmo na paz e tranquilidade que construí para mim
sem que me pesem por momentos os pecados que não são meus
ainda que por mim tenham passado
sem que ao fechar os olhos me passe por momentos a ideia de me lembrar que um dia me tentaram fazer assim,
menos eu,
pessoas
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