Gosto destes dias frios,
ainda que o gelo me faça por vezes deslizar os pés numa perca momentânea de equilíbrio
até à data inofensiva
uma analogia à existência,
esta de dias frios, de deslizares de pés, de perdas de equilíbrio, de nada dado por garantido
a caminho mais um Natal, mais um Reveillon, mais um sem-número de promessas feitas por milhões a outros milhões, a elas mesmas, a mudanças de 180º em comportamentos-padrão
mais gente pobre, mais animais abandonados, mais maus-tratos, mais cromos, mais gente que deseja ser uma celebridade instantânea, mais um zé-ninguém e uma maria-ninguém que farão uma existência poser porque ninguém tem coragem ou inteligência para lhes dizer
não tens um pingo de auto-estima
e ao virarmos dias a fio assim, criámos esta sociedade e esta vida,
este modus vivendis que nos rodeia e que aceitamos mesmo que de nariz torcido
que aos poucos verga muitos à plena estupidez,
como se não fossemos todos mortais, todos falíveis e todos humanos,
vendida tão bem que é a mentira que seremos todos bonitos, ricos e famosos e pior ainda,
que a felicidade é feita disso
nunca creio que virá o dia em que aceitemos que as coisas não são bem assim,
que existe um plano maior para as coisas e mais,
a qualquer momento podemos traçar um para nós
são dias frios estes, de tão gélidos que assolam mais que a pele que tendem a secar
mas sorri-se, mesmo que não se ignore
com o conhecimento confortante que é melhor sorrir sozinho num dia gélido,
que fingir um sorriso num conforto aparente feito de nada
de ninguém e palavras ocas
sorrir é portanto a melhor das armas, a melhor assinatura
é a nossa forma de estar no Mundo e talvez, quem sabe
a mais honesta de todas as emoções e reacções humanas
simplesmente
sorrir
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