14.8.10

Digital (Electric) Dreams

O Mundo não está morto,
move-se à velocidade da luz, de um 3G, de um SMS, de um chat, uma MMS,
aterro na Turquia e sei quem comentou o que comi ao pequeno-almoço,
adormeço com batidas binaurais a influenciar o meu estado de espírito com a ajuda do iPhone,
cronometro o tempo para o café Colombiano que a máquina fará por mim,
faço o check-in para mais um vôo ao sair de casa em vez de picar o ponto no escritório,
acompanho o dia-a-dia de amigos através de fotos, status, "I like"
o que me faz temer o dia-a-dia não é a tecnologia,
essa da qual faço parte, que me envolve, que me acompanha desde que acordo até adormecer.
O que me estremece a alma é a solidão que assola milhões de pessoas,
escondidas atrás de ecrãs, de palavras escritas em 160 caracteres, de mais uma foto mais ou menos provocante,
de escudos digitais colocados à alma,
desta muralha de gente que sinto tão só, tão perdida, tão sem vida no corpo,
de quão ágeis de mãos a escrever num teclado como eu, no último telefone cheio de artimanhas que garantem,
nos colocarão mais próximos
apraz-me assim e à alma disconectar-me por tempo indeterminado de coisas,
o telefone que acompanha apenas para colocar os amigos no devido lugar à devida hora,
para rumar a uma praia, a um céu azul, a um espaço aberto sem letras, sem luzes, sem marcas
rumo assim não direito a um lugar mas um ideal
porque a liberdade é a de sentir coração e alma abertos,
são sensações, é coração aos pulos, é sorrir sem ter para onde querer ir porque estamos lá
e lá é onde nos devemos encontrar sempre,
se nos encontremos e ao que somos
nunca nos poderemos no meio de tudo isto,
disto que vos falei,
perder

..e não me coloco com isto diferente, distante, distintamente longe de estar só ou de me sentir só. Que apenas nunca deixem ao Mundo estragar os sonhos, roubar, pois a todo o momento tentará. Como tentarão os outros, esses. Que se agarrem aos sonhos mais que à vida. Pois uma vida sem sonhos é a coisa mais devastadora que existe. E ninguém merece ser devastado. Jamais.

1.8.10

Enlighten Me

Na vida cruzaremos milhentas vezes caminho com pessoas milhentas,
das que nos conquistarão com sorrisos, com gestos e olhares, com maneiras de ser afáveis e inspiradoras de confiança
outras que não passarão da primeira impressão,
essa de que tanto se escreveu e pintou na vida
e devotaremos ao esquecimento ou a uma listinha negra de detestáveis
entre todos estes jogos de amor-ódio e indecisões e períodos de decisão acerca de quem é o quê, do que interessa e para quê, de quem é o que é e de quem finge ser o que não,
que nos mantenhamos imunes,
iguais a nós mesmos, irredutíveis na nossa maneira de ser, honestos para connosco no nosso espírito empírico
ao que parece cansei de sorrisos fáceis,
de gente aparentemente adorável, afável, incapaz de ao primeiro ponto de pressão não demonstrar que todo aquele show-off não faz de todo a sua personalidade
cansa-me os que se lembram de outrém por favor,
dos minorismos existenciais e que nos amputam a alma de tal forma que tornam a existência enfadonha
agradecendo aos céus momentos enfim a sós em vez de por seres assim acompanhado
nada mudou,
o sossego é um dos pilares da felicidade,
aliado às poucas pessoas que permitimos no nosso Mundo, em prismas de boa vivência, existencialismos fáceis e fluidos, em suma sem confusões
aos lugares-comuns da humanidade teremos de julgar com pena pelo potencial desperdiçado,
pelas vivências que se perdem, que se consomem em coisas, lugares e pessoas desinteressantes e situações sempre iguais, cópias de outras que elas mesmas de outras
dias há em que me preenche esta sensação de que o Mundo tem vários ritmos,
que ninguém efectivamente está ligado ao ponto que julga estar, que pinta estar,
que os eternamentes são apenas para as rochas, para o Universo
nós, na nossa insignificante persistência de existir
colocamos assim nomes, adjectivos, palavras ao Mundo, às coisas, às pessoas e em suma à vida
talvez assim nos tornemos um pouco mais eternos
menos triviais