21.1.10

Amsterdam's Mood

Escrevo-vos estas palavras de um trendy hotel room em Amesterdão. São 00h38 de uma fria noite de Janeiro. Perco-me algures no som que me entra directamente nos pensamentos. Escrevo-vos, mas não vos conheço a cara. Pior, não vos conheço a alma. Mas escrevo.

O que nos muda o tempo?
Vá, convenhamos, para lá de mais uns cabelos grisalhos e linhas que marcadas no rosto relembram tempos que passámos aqui e ali, com alguém e outrém
mas ao tempo, esse
que muda ele em corações, almas, em Mundos nossos que guardamos lá dentro?
Que terá mudado na miúda dos olhos doces e sorriso de perder rumo que um dia conheci?
Que sonhos terão caído e que outros terá hoje aquela que tinha estrelas nos olhos?
Que pensará ao deitar-se aquela que um dia me asfixiou com a força de um abraço?
Quem sou eu hoje que não era então?
Não me tentarão convencer que não, que não guardam memórias só vossas, sentimentos e sensações só vossas e que não, que essas coisas tal como nós, não ganham maturidade e se alteram irremediavelmente através do tempo. Tudo viaja no tempo menos as memórias.
Viajamos nós, irremediavelmente em frente. Viaja a vida e tudo o que se sente no nosso coração e no coração alheio. Viaja tudo, menos as memórias que ficam onde estavam, por vezes apenas retocadas por quem somos hoje.
Por quem sente saudades de um brilho num olhar, de um abraço mais forte ou de um sorriso que nos faça perder o rumo.
Não estou morto e sou apenas humano. Um menos óbvio humano, mas por vezes demasiado humano.
Para vocês que estão por aí, não percam o rumo, mesmo que não saibam qual tomar..

"Ajuda-me a ver em cada um um irmão e não apenas mais um estrangeiro."

5.1.10

Chegadas - Partidas

Já chegaram algum dia ao lugar,
aquele que
sem motivo nem causa aparente que não o tempo que passou e os ventos que nos cortaram a pele,
não encontram em outrém mais a centalha de vida e paixão que um dia lhes reconheceram vividamente?
Já chegaram algum dia ao lugar,
em que por não vossa escolha decidiram simplesmente abandonar a passo comedido o lugar onde saborearam por um breve piscar de olhos a felicidade que dá nome à palavra?
E vós, que mergulham em palavras,
já chegaram ao lugar onde a vida deu a volta sobre si mesma?
Deixar estes invólucros de pele, de cabelo, osso e presume-se, polvilhado de alma e ser maior que a vida é uma missão sem medalhas. Sem aplausos, sem reconhecimentos heróicos. É apenas feita das escolhas mais justas. Das atitudes mais silenciosas e comedidas, mas as mais eficazes. As que menos magoam os outros e mais nos consomem a nós. As que enchem os dias de ecos e não do riso e conversas de amigos, da casa cheia e de uma vida imersa em coisas boas.
Nem sempre é assim e que assim seja.
Ainda que os filmes nos ensinem uma versão melhorada de determinados pontos da vida - que ser-se justo e bom nos traz felicidade, amigos, famílias gigantescas a almoçar debaixo de uma oliveira, amor e carinho aos baldes - a realidade tende a não se ajustar propriamente a essa versão arco-irista.
Tende portanto a vida a ser assim,
chegada a lugares em que muda o tempo e mudamos nós,
em que largamos lugares e pessoas para nunca mais voltar a ver, pensar, sonhar, lembrar, falar de e rir de. Com. Não mais.
Apenas porque existem na vida chegadas a lugares, como partidas de lugares
na curta viragem que é cada um deles importa sem dúvida o que se encontra no meio
a viagem