5.1.09

Dualismo (no novo ano)

Temo que a escrita tenha feito falta
tanto quanto fazem falta aquelas pequenas coisas
as únicas que nos mudam
apenas comparáveis às ausências das pessoas que amamos e nos mudam a alma
as minhas ausências são explicadas pela vontade de acumular intrinsecamente interligada à minha vontade de não querer partilhar
não com o Mundo, assim em vão facilitismo ao qual por vezes sou dado
como se a minha alma fosse para ser um livro e como se sim, fossem os olhos que nela poisam por breves palavras realmente fazer juízos por excertos de excertos de dias
que não deveriam
como tal pretendi dissolver-me no tempo, como se de água me tratasse e o tempo de areia que tudo absorve para mais tarde, imóvel e irreconhecivelmente idêntica ainda ali perdurar
não perdurarei e tenho a plena consciência de tal
não de hoje, não do ano passado mas de sempre, característica que não me amputa o espírito nem os sonhos mas que me separa por vezes dos muitos demais com que me cruzo
ao fim ao cabo um novo ano que diz um qualquer calendário que já é o dois mil e nono como se as pessoas a contarem os outros antes do zero e a dizerem
ah, feliz trezentos e cinquenta e sete antes do zero e não, não tem a ver com Cristo, apenas calhou
ao fim ao cabo apenas uma coisa me incomoda nestas passagens do ano à qual desta vez passei pratica e entediantemente indiferente
as pessoas não mudam, os problemas não se dissolvem, os sonhos não se realizam e a vida não se torna instantâneamente mágica como se de uma sopa de galinha de pacote se tratasse apenas porque o calendário passou de 31 para 1
a vontade continua a mesma, as pessoas igualmente mesquinhas, a vida igualmente difícil e o comodismo a moeda de troca mais comum
ano novo vida nova e não me impeço de soltar um riso de ironia perante a estupidez
sim é um novo ano e se quisermos ser pequeninos e dividir a vida por anos sim, representa uma janela de oportunidade,
tal como representam todo e cada dia em que abrimos os olhos e ainda caminhamos sobre este Mundo!
como não nos podemos mudar tanto quanto desejaríamos e muito menos aos outros, à alma dos outros ou quiçá, apenas oferecer-lhes uma embrulhada em papel e laço bonito, podemos apenas dar energia às nossas vontades essas sim
de tornar realidade os nossos sonhos
são 1h30 da madrugada da primeira semana de um novo ano
continuo a ser eu e lá fora continuam a existir as pessoas que me tentam magoar, as que gostam de mim por quem sou, as que me invejam, as que me desprezam e as que não podem comigo nem pintado
uns dias vivo com isso, outros sobrevivo
e vocês?

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