Ainda me lembro por alto quando decidi começar a escrever
a debitar palavras, termos, conceitos e ideias entrelaçadas
umas mais turvas que outras
daquilo que nos faz humanos e daquilo que, egocentricamente, ME faz humano
à distância, ao alto, na fugaz porém sólida ideia que é a nossa existência sempre
ou quase sempre
que me debruço sobre esses conceitos e ideias que passaram, ainda que as entenda e contextualize,
não revejo o homem de hoje nas palavras de ontem
não querendo porém insinuar nem por momentos que as fases mais sombrias da nossa existência sejam ridicularizadas só porque, fugazmente - como a existência - estamos plenamente felizes
casei-me com uma mulher de sonho,
o que é com aspas pois ainda não, de facto, a propus em casamento pois gosto desta ideia romântica e infantil de namorados para sempre
mas irei
fui pai de um rapazinho,
um Ser extraordinário e extraordinariamente teimoso, sagaz e divertido como sempre sonhei que ele seria, mas melhor
um Ser que me faz esquecer os dias de quasi-exaustão e que me aperta o peito com uma fina tristeza como se de uma longa e afiada agulha se tratasse só porque nele vejo o tempo a passar à sua incessante velocidade e tenho medo
medo de perder pitada
por isso tento estar presente mesmo que não sempre, não constante, não obstinado a sufocar porém a observar o seu percurso como, julgo eu, todo o Pai deve fazer para que o seu filho aprenda as coisas importantes da vida
carácter, honestidade, resiliência, sentido de humor
sempre o sentido de humor quando tudo o resto falhar
Recordo-me nestas pequenas pausas o porquê de sempre ter gostado de escrever,
talvez porque nela - a escrita - consigamos efectivamente debitar alguma Humanidade que se perde no quotidiano, na tecnologia, na rede social, no whatsapp, nos votos de feliz aniversário em bytes e Felizes Natais em GIF
não vou aqui e hoje,
pelo menos não hoje
deambular pelos caminhos que nos estão a consumir a Humanidade,
isso fica para outro dia
Venho somente para dar um bafo de vida e relembrar-me por escrever que ainda somos Humanos por muito que andemos desconectados
do alto de 37 anos que viram um pouquinho e nunca o suficiente me revejo
ainda viajo, viajo muito mas nunca o suficiente, nunca
este ano vi maravilhas naturais que partilhei com o meu Pai no meu lugar favorito do Mundo,
Os Açores
Esqueci-me de mencionar que já sou metade Açoriano
ou melhor
uns bons 60% para 40% de Ribatejano, ainda que só o pensamento me torne ingrato e infantil
mas despertar no Faial com vista para o Pico, ver as quedas de água nas Flores, entar no Atlântico transparente
recomendo mais do que qualquer outra coisa que vos possa recomendar
à excepção de sermos pais
pois isso supera tudo o resto e, como tal, tenho um pequeno que exige a minha atenção enquanto termino estas palavras
do alto dos 37,
ainda aqui estou
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