16.10.09

Dias de Vento

Pareço já sentir o Outono,
ainda que a pele morena o desacredite com desdém
como se o Mundo fôra feito de Verões eternos, a vida uma constante busca de Sol e Mar e a pele, essa, sempre salgada pelos beijos céleres com que brindamos o corpo nessa incessante busca que é a nossa
por nos sentirmos vivos
confesso que toda esta gente e eu sem ter que lhes dizer,
seco de palavras, se não nos seus olhos tiver em que poisar o meu olhar e nelas, inclusive nas memórias, me rir um pouco encostado aos seus ombros
se não rir, porque não pelo menos brindar-me com sorrir?
nesta almofada marreca, torcida de tanto puxão que lhe dou e cuja companhia é a única que brinda a minha alma por noites a fio lamento não lamentar-me
como se isso de fraqueza se tratasse e porque o faria eu
afinal ver por detrás dos rostos, dos sonhos que se ligam uns aos outros e das palavras que são baralhos de cartas empilhadas em dias de vento,
mais uma vez não sou mais, melhor
nem quero, tendo a dita raiva a quem assim o deseja
poiso assim os olhos já negros de noites pouco dormidas e dias a fio sem parar, de sorriso ainda não totalmente gasto entregue aos poucos momentos que faço acontecer,
pois há ainda quem faz e acontece,
ao restante que povoa o Mundo e as suas palavras, os seus sonhos e falsidades, as suas memórias verdadeiras e as que se alimentam de ilusões, devoto eu tempo algum,
nenhum do meu portanto,
se puder ter sempre no olhar um lugar onde reservar os meus sonhos, que seja sempre meu
que nunca o deixe à mercê do vento e dessas tais, que as leva ele
palavras

1 comentário:

Fábio disse...

Não sei como ainda ninguém comentou...mas este texto teu...o primeiro que li ainda...se bem que me quero deliciar com outros mais...é sublime e simples...porque a verdadeira simplicidade é sempre sublime...mesmo em 'dias de vento'

FN