7.9.10

Reflecte

São 03:20 e vim de beber palavras,
das que rumam ao quotidiano, às vivências alheias de quem aparentemente tem mais vida que eu
ironicamente em noites assim todo o Ser aparenta ter mais vida que eu
mesmo o que não tem
bebidas as mesmas, reflectidas durante os segundos e meio que demora a ligar estes fios cá dentro aos que ligam aos dedos eléctricos definho-me com algumas poucas ideias que serão dentro de instantes limpas,
ao adormecer
porque existe no Mundo quem beba atenção?
na ausência de amizade, amor, interesse, um tal toque nem que ténue seja de humanidade qual será porventura o sentido de nos tocarem a existência de forma ocasional mesmo que nem para nada seja
ou menos de nada
ao sentirmo-nos tocados, eu e seres que como eu, das duas uma
provoca um sentimento de nostalgia associado a todos os outros seres que vivem de toques esporádicos ausentes ou não
ou porventura
um sentimento de desprezo misturado com algo malévolo, deveras negro ao ponto de não querer por aqui deambular acerca do que me cruza a mente nas ditas ocasiões
certa é a questão,
pessoas essas que como são,
adoram tocar e ser tocadas, um momentinho de atenção agora faxavor e uma bica, embrulhe-me o bolo de arroz
não acrescentam nada de imenso, não arrasam a linguística para nos sweep off our feet,
isso não
mas vivem destas merdices e merdinhas que acabam por não ser um complemento de um dia ou fim de noite,
que não são uma saudade, um beijo, um abraço ou um querer saber
são antes um olhar ao espelho,
um pouco de nada para neles preencher um qualquer nada
ao dizer que não quero saber não é porque não queira,
é apenas porque me recuso a ser
mais uma pessoa a olhar um espelho
e ver uma imagem,
vazia